Sete a cada dez estudantes brasileiros de 15 anos não aprenderam o mínimo esperado de matemática, mostra o Pisa 2022 — principal avaliação de educação básica no mundo.
Esses alunos não conseguem resolver contas simples, nem comparar a distância entre duas rotas, por exemplo. Os alunos também não sabem fazer equações consideradas simples.
O percentual de alunos com baixo desempenho em matemática é de 31% nos países da OCDE, “clube dos ricos” — enquanto no Brasil é de 73%. Os dados divulgados hoje são referentes a 2022 — quatro anos antes, em 2018, esse percentual era de 68% entre os brasileiros (24% na OCDE).
Apenas 1% dos alunos no Brasil obtiveram os melhores níveis de rendimento matemático. Em países como Singapura, que lidera o ranking com os melhores resultados, 41% dos alunos alcançaram esse indicador.
No ranking geral da disciplina, o Brasil ocupa a 64º posição — 80 países participaram da avaliação. Estudantes de Singapura, Macau, Japão e Coreia ocupam as primeiras posições.
Os estudantes brasileiros mais ricos conseguiram 77 pontos a mais do que os alunos pobres na matéria. A desigualdade, entretanto, foi menor em relação à média de 37 nações da OCDE, que fica em 93 pontos.
A falta de professores de matemática e dificuldades na formação estão entre as razões apontadas para o baixo desempenho do Brasil. “Há também um certo estigma contra essa disciplina que ocorre em vários países, não exclusivamente no Brasil”, afirma João Marcelo Borges, gerente de pesquisa e inovação do Instituto Unibanco.
O Pisa mede o desempenho dos estudantes de 15 anos em matemática, leitura e ciências. As habilidades em matemáticas receberam maior foco nessa edição.
Metade não sabe mínimo em leitura, nem em ciências
O Brasil registrou um desempenho melhor nas habilidades de leitura e ciências, mas ainda assim abaixo da média da OCDE. Por exemplo, 50% dos estudantes não conseguem encontrar a ideia principal em um texto. A média geral é de 26%.
A nota média do Brasil em leitura caiu de 413 pontos para 410 — de 2018 para esta última edição. Apesar de uma diminuição ser sempre preocupante, segundo especialistas consultados pelo UOL, outros países tiveram um recuo maior que o do Brasil.
Costa Rica, por exemplo, reduziu 11 pontos, e Hong Kong teve uma diminuição de 25 pontos. Esse último, entretanto, se mantém entre os primeiros colocados com 500 pontos na média.
Em ciências, 55% dos alunos no Brasil não sabem o mínimo esperado sobre a disciplina. Esses estudantes não conseguem reconhecer a explicação certa para fenômenos científicos, por exemplo.
No ranking geral de leitura, o país ficou em 52º em leitura e em 61º em ciências. Mais de 10 mil alunos brasileiros realizaram a avaliação.
O que dizem os especialistas
O Pisa 2022 confirmou, com rara exceções, que a pandemia impactou os resultados de aprendizagem de boa parte do mundo. No Brasil, mesmo com a pandemia, há indícios de que políticas podem estar começando a fazer efeito, como a expansão da jornada integral, o foco na alfabetização.Olavo Nogueira Filho, diretor executivo do Todos pela Educação
Um uso adequado de tecnologia pode auxiliar bastante [na matemática], sobretudo com gamificação, porque aumenta o interesse, desde que haja condições nas escolas e preparo dos professores. Além, é claro, de um monitoramento contínuo da aprendizagem. (Marcelo Borges, gerente de pesquisa e inovação do Instituto Unibanco)
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