Em um recente desdobramento judicial, a proposta de um curso de Medicina exclusivo para membros do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Pernambuco foi suspensa por decisão da 9ª Vara Federal do estado. A ação, movida pelo vereador Tadeu Calheiros, argumentou que a iniciativa violava princípios legais, recebendo apoio judicial em forma de tutela de urgência. O foco da controvérsia é a Resolução nº 01/2025 do Conselho Universitário da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e o Edital Prograd nº 31/2025, que buscavam introduzir um novo modelo de seleção estudantil.
O juiz responsável pelo caso destacou que a autonomia universitária tem limites e não pode contrariar a legislação vigente. De acordo com o veredicto, a UFPE não detém poder para estabelecer critérios próprios de admissão ao curso de Medicina, que desconsideram os tradicionais instrumentos de seleção nacional como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e o Sistema de Seleção Unificada (Sisu).
Quais as críticas e implicações legais da decisão?

A proposta de estabelecer um programa de graduação em Medicina direcionado exclusivamente para beneficiários do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera) causou reação imediata por parte de entidades médicas. O Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe), juntamente com o Sindicato dos Médicos (Simepe), a Associação Médica de Pernambuco (Ampe) e a Academia Pernambucana de Medicina (APM), expressaram preocupação sobre os critérios seletivos adotados.
Essas entidades destacaram que o modelo sugere um “processo paralelo”, vulnerabilizando a credibilidade acadêmica, já que não segue os critérios universais de ingresso. A crítica central reside no fato de que o edital restritivo pode desvalorizar o próprio curso em nível federal, configurando uma rota de ingresso que não visa a isonomia e o mérito acadêmico tradicionalmente defendido.
Por que o curso de medicina “exclusivo para MST” gerou polêmica?
A Assembleia Legislativa de Pernambuco também participou do debate, com o deputado Coronel Alberto Feitosa (PL) criticando os critérios de seleção adotados como “arbitrários e de difícil fiscalização”. Durante sua manifestação, mencionou que a iniciativa parecia favorecer especificamente o MST, gerando desconfiança quanto às verdadeiras intenções por trás do curso exclusivo.
O curso prometia abrir 80 vagas no Centro Acadêmico do Agreste (CAA) em Caruaru, a partir de outubro de 2025. As vagas eram destinadas especificamente a assentados da reforma agrária (associados ao MST), quilombolas e educadores ligados ao Pronera. No entanto, a suspensão judicial traz um novo capítulo para esse controverso pleito educacional.
- Exclusividade: A ideia de limitar o curso apenas a membros do MST levantou questionamentos sobre discriminação e violação do princípio de igualdade no ensino superior.
- Justiça: O projeto foi barrado pela Justiça, que considerou que a seleção não poderia ser restrita a um grupo específico.
- Debate político: A medida provocou discussões sobre políticas afirmativas e a intervenção do Estado em programas educacionais.
- Repercussão social: Houve críticas e apoio de diferentes setores, evidenciando divisões quanto ao acesso à educação e ao papel de movimentos sociais.
- Impacto na imagem: A iniciativa gerou atenção nacional e debate sobre critérios de inclusão em cursos de alto prestígio, como medicina.
Quais os impactos do caso?
A decisão da justiça coloca em evidência a autonomia das universidades federais e a disposição de novas práticas educacionais frente às tradicionais. Embora a busca por inclusão social e diversidade no ensino superior seja válida, o modo de implementar tais iniciativas precisa obrigatoriamente respeitar as normativas legais vigentes.
O argumento em defesa da autonomia universitária destaca a necessidade de se adaptar ao contexto social e econômico do público ao qual o curso se destinaria. Contudo, essa autonomia possui limites quando confrontada com princípios de acesso universal e isonomia, que são prerrogativas que garantem a seleção imparcial de estudantes.
Organizações educacionais e políticas podem considerar a revisão dos fundamentos da proposta inicial, garantindo que qualquer nova tentativa de estabelecimento de cursos diferenciados respeite as normas legais. Alternativas como programas de incentivo à educação, aliados aos já estabelecidos processos de seleção, poderiam ser uma solução para integrar comunidades rurais e tradicionais ao ensino superior sem romper com a credibilidade das instituições.

FAQ sobre curso de medicina para o MST
- O curso de Medicina para o MST está definitivamente cancelado? A suspensão atual é temporária, enquanto a decisão judicial aguarda possíveis recursos e ajustes que atendam às normas legais.
- Como o Pronera se relaciona com o curso? O Pronera é um programa que visa fornecer acesso à educação para populações rurais, como assentados da reforma agrária, e o curso era uma extensão desse objetivo específico.
- Há precedentes de cursos exclusivos para grupos sociais no Brasil? Sim, existem programas voltados a minorias e grupos específicos, entretanto, a implementação sempre busca respeitar a normativa do sistema educacional brasileiro.
- Qual o impacto dessa decisão na UFPE? A decisão judicial implica a necessidade de revisão das estratégias de inclusão e acesso, mantendo-se dentro dos preceitos legais vigentes para evitar futuras restrições judiciais.