O governo da Itália anunciou a intenção de construir a maior ponte suspensa do mundo, uma inovação que liga a ilha da Sicília ao continente italiano. O projeto, avaliado em aproximadamente 13,5 bilhões de euros, tem como objetivo não só modernizar a infraestrutura de transporte do país, mas também impulsionar o desenvolvimento econômico nas regiões do sul da Itália e da Sicília, historicamente mais empobrecidas.
Com um vão suspenso de 3300 metros, a nova ponte sobre o Estreito de Messina ultrapassará a Çanakkale 1915, na Turquia, que atualmente detém o título de maior vão suspenso do mundo. A construção contará com seis faixas de rodagem para veículos e duas linhas ferroviárias no centro, permitindo uma logística eficiente entre as duas regiões.
Como o projeto da ponte irá inovar a engenharia?
Strait of Messina Bridge gets definitive green light from the Italian government.
— Massimo (@Rainmaker1973) August 6, 2025
The project includes the construction of a 3.3 km suspension bridge, 40 km of road and rail links and should be completed in 2032.
This is its design.pic.twitter.com/GubM9hKMBU
Desenvolver uma ponte com um espaçamento tão extenso entre duas torres de sustentação representa um marco tecnológico significativo. Esta estrutura monumental, além de ser uma atração por si só, está projetada para resistir às condições naturais adversas, como ventos fortes e terremotos. A Sicília e a Calábria estão situadas sobre duas placas tectônicas, o que adiciona um nível extra de complexidade ao projeto de engenharia.
As torres desta ponte alcançarão uma altura de 400 metros, sustentando uma obra projetada para lidar com os desafios naturais da região. Essa inovação fará com que a ponte não seja apenas um meio de transporte, mas também um símbolo de sucesso técnico e resiliência frente a condições geológicas adversas.
- Vão central sem precedentes: O vão central da ponte, a distância entre as duas torres de sustentação, terá aproximadamente 3.300 metros. Isso a tornará a maior ponte suspensa do mundo, superando o recorde atual da Ponte Çanakkale de 1915, na Turquia, de 2.023 metros. Essa dimensão colossal exige soluções de engenharia totalmente novas para garantir a estabilidade e a resistência da estrutura.
- Resistência a condições extremas: A região do Estreito de Messina é conhecida por ventos fortes e por ser uma área de alta atividade sísmica. O projeto da ponte foi desenvolvido para resistir a ventos de até 300 km/h e a terremotos de alta magnitude, garantindo a máxima segurança. Para isso, será utilizado um tabuleiro aerodinâmico de caixão triplo, projetado especificamente para estabilizar a estrutura contra os ventos do estreito.
- Tecnologia de Monitoramento e Manutenção: O projeto fará uso de tecnologias digitais avançadas, como a Modelagem da Informação da Construção (BIM), desde as fases de planejamento e projeto. Além disso, a criação de um gêmeo digital da ponte será fundamental para monitorar a estrutura em tempo real, gerenciar sua manutenção de forma eficiente e prever possíveis problemas antes que ocorram, garantindo uma vida útil de até 200 anos.
- Soluções em fundação e infraestrutura: A grande profundidade do Estreito de Messina, cerca de 300 metros, impossibilita a construção de torres de sustentação no mar. Portanto, as duas torres principais, que terão 399 metros de altura, serão construídas em terra, nas margens do estreito. Essa abordagem simplifica a construção e minimiza os riscos de engenharia subaquática.
Quais os impactos econômicos e sociais esperados?

O governo italiano espera que essa ambiciosa construção seja um catalisador para o crescimento econômico. O Ministro dos Transportes e Infraestrutura, Matteo Salvini, anunciou que a ponte não só facilitará o trânsito diário, mas também estimulará a geração de empregos, prometendo criar dezenas de milhares de postos de trabalho ao longo do processo de construção e operação.
No entanto, apesar do otimismo geral, o projeto também trouxe à tona preocupações expressas por críticos locais. Os protestos emergem principalmente devido ao potencial impacto ambiental e ao alto custo do projeto. Os críticos destacam que os recursos poderiam ser alocados em outras necessidades urgentes. Adicionalmente, há um ceticismo sobre a concretização do projeto, considerando o histórico de obras públicas na Itália que foram anunciadas com pompa, financiadas, mas que nunca avançaram além dos papéis.
Qual é o papel estratégico do projeto para a Itália?
Retomar o projeto da ponte de Messina, que teve seu esboço inicial desenhado há mais de 50 anos, ganhou impulso adicional devido à sua classificação no orçamento italiano como gasto com defesa. Essa reclassificação acompanha um compromisso assumido pela Itália junto a seus aliados da OTAN, sob influência do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, de aumentar seus gastos com defesa para 5% do PIB.
Dentro desse comprometimento, 1,5% do investimento pode ser destinado a áreas que estão relacionadas à defesa nacional, como foi o caso da infraestrutura de cibersegurança e a construção de pontes estratégicas. A presença de uma base da OTAN na Sicília certamente reforça a defesa da ponte de Messina como um ativo estratégico para o país.
Quais os próximos passos?

Com um histórico de paralisações e cancelamentos, incluindo a crise da dívida da zona do euro que cancelou a licitação vencida pelo consórcio Eurolink em 2006, há uma expectativa cautelosa sobre o sucesso do projeto desta vez. As autoridades italianas, incluindo o consórcio ainda liderado pelo grupo Webuild, estão confiantes de que o projeto terá continuidade devido ao novo enquadramento estratégico e às necessidades gerais de desenvolvimento econômico.
Embora o projeto esteja previsto para ser concluído em 2032, e as expectativas sejam altas, resta observar como as questões regulatórias, ambientais, financeiras e estruturais serão navegadas ao longo do tempo. O projeto de construção da ponte sobre o Estreito de Messina continua a fascinar engenheiros e políticos, enquanto permanece um ponto de polêmica pública.