Um trabalhador rural permanece desaparecido após um episódio cercado de mistério ocorrido durante uma pescaria em um assentamento localizado na região de Anhanduí, distrito de Campo Grande. O caso, que ocorreu em junho de 2025, mobilizou equipes policiais e levantou questionamentos sobre as circunstâncias do sumiço, especialmente devido ao relato apresentado pelos colegas que acompanhavam a vítima no momento do desaparecimento.
De acordo com informações repassadas à Polícia Militar, três homens estavam juntos às margens de um rio quando um deles teria começado a se afogar. Os outros dois afirmaram ter conseguido retirar o colega da água, deixando-o no barranco. Pouco depois, segundo a versão dos pescadores, uma sucuri teria surgido e arrastado o trabalhador de volta para o rio, desaparecendo em seguida. O depoimento, porém, gerou dúvidas entre os agentes que atenderam a ocorrência.
Como foi a suspeita polícia sobre a morte do trabalhador?

O relato apresentado pelos dois pescadores não foi suficiente para convencer a equipe policial. A ausência de vestígios do corpo da vítima e da suposta sucuri no local do incidente contribuiu para que a hipótese de homicídio fosse considerada. Os policiais observaram inconsistências nas declarações e a falta de elementos que comprovassem a versão dos colegas, aumentando a suspeita de que o desaparecimento possa estar relacionado a um crime.
Como ocorrem as investigações em casos de desaparecimento em áreas rurais?
Investigações envolvendo desaparecimento de pessoas em regiões rurais costumam apresentar desafios específicos. Fatores como o difícil acesso, a falta de testemunhas e a possibilidade de alterações no cenário natural dificultam o trabalho das autoridades. Em situações como a de Anhanduí, a polícia costuma adotar procedimentos como:
- Coleta de depoimentos detalhados das testemunhas presentes
- Busca por vestígios físicos no local, como marcas de luta ou objetos pessoais
- Emprego de equipes especializadas em buscas aquáticas e terrestres
- Análise de possíveis contradições nos relatos
Desafios em Áreas Rurais
As investigações em áreas rurais apresentam particularidades que podem dificultar a localização da pessoa desaparecida:
- Extensão territorial e difícil acesso: Áreas rurais são vastas e muitas vezes possuem terrenos acidentados, densa vegetação ou rios, o que complica as buscas a pé, com veículos ou até mesmo com equipamentos como drones.
- Menor densidade populacional: Isso significa menos testemunhas em potencial e um fluxo de informações mais lento.
- Infraestrutura precária: A falta de cobertura de telefonia móvel e internet pode dificultar a obtenção de dados de localização de celulares, além de impedir a rápida comunicação entre as equipes de busca e a divulgação de informações.
- Conflitos agrários e violência no campo: Infelizmente, em algumas áreas rurais, desaparecimentos podem estar ligados a conflitos por terra, atuação de milícias ou crime organizado, o que eleva a complexidade e o risco da investigação. Casos como o de Almir Muniz da Silva, trabalhador rural desaparecido em 2002, exemplificam essa triste realidade, com o Brasil sendo condenado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos por negligência nas buscas.
- Isolamento social: Pessoas em áreas rurais podem ter redes de contato menores, o que dificulta o rastreamento de seus últimos passos e interações.
Procedimentos e Recursos Utilizados
Apesar dos desafios, as investigações em áreas rurais envolvem:
- Buscas em campo: Equipes policiais, com apoio de bombeiros e até mesmo voluntários, realizam varreduras nas áreas próximas ao local do desaparecimento, incluindo matas, rios, estradas vicinais e propriedades rurais.
- Ouvida de testemunhas: Familiares, vizinhos e pessoas que tiveram contato recente com o desaparecido são ouvidos para coletar o máximo de informações sobre o caso.
- Análise de dados: Se houver autorização judicial, dados de telefonia móvel podem ser utilizados para tentar rastrear a localização do desaparecido.
- Uso de cães farejadores: Cães treinados são frequentemente empregados para auxiliar nas buscas, especialmente em terrenos de difícil acesso.
- Divulgação de informações: Apesar dos desafios de comunicação, a divulgação de fotos e informações sobre o desaparecido em meios locais (rádios comunitárias, murais, redes sociais) é uma estratégia importante.
- Colaboração entre órgãos: A cooperação entre a Polícia Civil, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros e, em casos específicos, órgãos como o Ministério Público e o Ministério dos Direitos Humanos, é essencial.
- Tipos de Desaparecimento: A legislação brasileira, e propostas de alteração, reconhecem diferentes tipos de desaparecimento, o que influencia a abordagem investigativa:
- Voluntário: A pessoa se afasta por vontade própria.
- Involuntário: Ocorre devido a um evento incontrolável (acidente, desastre natural, crise de saúde).
- Forçado: Resulta de coação, violência, abuso de poder (sequestro, tráfico de pessoas, ou ação do Estado). Nesses casos, a investigação se torna mais complexa e criminal.
Além disso, o apoio de moradores da região pode ser fundamental para reunir informações que auxiliem na elucidação do caso.
Quais os próximos passos do caso?
Com o desaparecimento ainda sem solução, as buscas pelo trabalhador rural continuam sendo realizadas pelas equipes de resgate. O caso ainda não foi formalmente registrado na Polícia Civil, mas a expectativa é que, com o avanço das investigações, novos elementos possam surgir para esclarecer o que realmente aconteceu durante a pescaria.
Enquanto o corpo da vítima não é localizado e as circunstâncias do sumiço permanecem sem explicação concreta, o episódio em Anhanduí segue sendo acompanhado de perto pelas autoridades e pela comunidade local. O desenrolar das investigações poderá determinar se o caso trata-se de um acidente trágico ou de um possível crime encoberto por uma versão controversa.