O Mar Morto encolhe ano após ano e já se tornou um símbolo da crise hídrica no Oriente Médio. O lago salgado, localizado entre Israel, Jordânia e territórios palestinos, perde em média mais de um metro de nível por ano, abrindo crateras no solo, expondo crostas de sal e tornando áreas inteiras instáveis, enquanto um canal bilionário ligando o Mar Vermelho ao deserto rumo ao Mar Morto foi vendido como solução capaz de frear a retração do lago e ainda gerar energia e água potável.
Como funcionaria o canal Mar Vermelho–Mar Morto?
A ideia central do chamado canal Mar Vermelho–Mar Morto era criar um corredor hidráulico de cerca de 180 quilômetros, cortando o deserto e conectando dois mares de características muito diferentes. Túneis, dutos pressurizados, estações de bombeamento e grandes reservatórios seriam usados para transportar grandes volumes de água do sul para o norte, explorando o desnível de mais de 400 metros.
Nos estudos oficiais, o sistema funcionaria de forma integrada: parte da água serviria à geração de energia em uma usina hidrelétrica reversível, outra parte iria para dessalinização para consumo humano e irrigação, e o restante seguiria para o Mar Morto. Em teoria, o canal uniria segurança hídrica, produção de eletricidade e mitigação de danos ambientais em um único complexo regional.
| Componente | Descrição |
|---|---|
| Objetivo principal | Interligar o Mar Vermelho ao Mar Morto para estabilizar/elevar o nível do Mar Morto, que está em forte declínio, e produzir água potável para países áridos. |
| Localização | ~180 – 225 km de tubulações pelo território da Jordânia, ligando o Golfo de Aqaba (Mar Vermelho) ao Mar Morto. |
| Captação de água | Água do Mar Vermelho é captada e enviada por tubulação para o interior. |
| Dessalinização | Usina (ou usinas) dessalinizam parte da água para consumo humano na Jordânia, Israel e possivelmente territórios palestinos. |
| Distribuição de água doce | Uma parte da água dessalinizada vai para abastecimento doméstico e agricultura nos países envolvidos. |
| Rejeitos e fluxo para o Mar Morto | A água altamente salina e rejeitos da dessalinização são lançados no Mar Morto para ajudar a conter sua queda de nível. |
| Energia e geração elétrica | A grande diferença de altitude entre os dois mares (cerca de ~400 m) pode ser aproveitada para gerar energia hidroelétrica no sistema. |
| Benefícios esperados | – Redução da escassez de água na região árida;– Ajuda para estabilizar o nível do Mar Morto;– Geração de eletricidade como subproduto. |
| Desafios / críticas | – Elevado custo (bilhões USD);– Impactos ambientais e riscos de misturas químicas entre as águas;– Cooperação política complexa entre países envolvidos. |
| Status atual (planejado/realidade) | O projeto foi estudado por décadas e teve acordos assinados, mas nunca foi construído integralmente e foi oficialmente abandonado em 2021 sem obras realizadas. |
Por que o canal bilionário ainda não saiu do papel?
O custo crescente foi um dos principais entraves: estimativas chegaram a US$ 10 bilhões, somando obras civis, reassentamentos, medidas de proteção ambiental, compensações internacionais e sistemas de monitoramento avançado. Em um cenário de instabilidade geopolítica, garantir esse volume de investimento de longo prazo se mostrou extremamente difícil.
Somaram-se a isso alertas ambientais sobre a mistura de águas com salinidade e composição química distintas e impasses políticos entre Israel, Jordânia e a autoridade palestina. Sem um consenso duradouro sobre soberania, segurança e divisão dos benefícios, grandes financiadores evitaram assumir o risco de décadas de operação conjunta.
Quais são os riscos ambientais e políticos do projeto?
O Mar Morto é um corpo d’água singular, com salinidade extrema e ecossistema quase estéril, e cientistas temem reações químicas imprevisíveis com a água do Mar Vermelho. Estudos apontaram risco de formação de gesso em suspensão, mudança de coloração, proliferação de algas e transformação irreversível do lago em um ambiente totalmente novo.
No campo político, cada metro cúbico de água está ligado a acordos de paz, disputas territoriais e segurança de populações em Israel, Jordânia e territórios palestinos. Esse contexto torna a governança compartilhada complexa e frágil, exigindo estruturas institucionais robustas que ainda não foram consolidadas. Veja os riscos:
- Riscos ambientais
- Mistura de águas com composições químicas diferentes pode causar reações indesejadas, como proliferação de algas e alteração da cor e qualidade da água do Mar Morto.
- Possível impacto negativo sobre ecossistemas frágeis ao longo do trajeto do canal ou dutos.
- Risco de vazamentos de salmoura ou água tratada, afetando solos e aquíferos já vulneráveis.
- Incógnitas sobre efeitos de longo prazo no nível do Mar Morto e na dinâmica hidrológica regional.
- Riscos políticos
- Necessidade de cooperação estreita entre Israel, Jordânia e Autoridade Palestina, o que pode travar o projeto diante de instabilidades políticas.
- Disputas sobre gestão da água, divisão de custos, segurança da infraestrutura e controle operacional.
- Possível uso político do projeto em negociações diplomáticas, tornando sua continuidade dependente de mudanças governamentais.
- Tensões internas em cada país relacionadas ao impacto social, financeiro e ambiental, dificultando consenso.
O que acontece com o Mar Morto enquanto o projeto está parado?
Na prática, o canal migrou de “obra em planejamento avançado” para “projeto congelado”, sem obras, licitações ativas ou cronograma oficial de retomada, permanecendo apenas em relatórios e simulações. Enquanto isso, o rio Jordão, principal fonte de água do Mar Morto, teve o fluxo reduzido por usos agrícolas, urbanos e represamentos, acelerando a queda do nível do lago.
O recuo da linha d’água provoca crateras, afundamentos de solo e prejuízos a infraestruturas turísticas e rodovias instaladas próximas à margem. Como resposta, especialistas discutem alternativas menores, como recuperação de vazões naturais e uso mais racional da água na bacia do Jordão, embora nenhuma delas tenha a mesma escala de reposição que o megaprojeto prometia. Veja as curiosidades sobre o Mar Morto (reprodução/TikTok/Descobrindo o Mundo):
@descobrindoomundo31 Mar Morto #marmorto #orientemedio #descobrindoomundo ♬ som original – Descobrindo o Mundo🌎
FAQ sobre megaprojeto para o Mar Morto
- O canal retiraria água diretamente do Mar Vermelho? Sim. A captação seria próxima ao Golfo de Aqaba, com estações de bombeamento levando a água para o interior do deserto antes da descida em direção ao Mar Morto.
- Haveria impacto sobre o turismo no Mar Vermelho? A retirada planejada seria pequena em comparação ao volume total, mas exigiria monitoramento constante para evitar efeitos locais sobre recifes e balneários.
- O canal poderia gerar energia suficiente para se pagar? Modelos preliminares indicam potencial hidrelétrico relevante, porém insuficiente para cobrir todo o investimento, o que demandaria subsídios e cooperação internacional.
- Existem projetos semelhantes em outras regiões? Há propostas históricas de canais interligando mares e bacias, mas o Red Sea–Dead Sea se destaca por combinar transporte de água, geração de energia e tentativa de recuperar um lago em rápido declínio.