A recente decisão do ministro Luiz Fux do Supremo Tribunal Federal (STF), ao votar pela anulação do processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, gerou um significativo alvoroço no cenário jurídico-político do Brasil. Essa deliberação ocorreu em meio a um processo que acusa Bolsonaro e outros sete indivíduos de esquema para um possível golpe de Estado em 2022. Em seu voto nesta quarta-feira (10/9), Fux destacou a incompetência do STF para julgar o caso, afirmando que nenhum dos réus atualmente detém o privilégio de foro especial.
Fux baseou seu voto em uma interpretação clara da jurisprudência da Corte, válida no período de 2020 a 2023. Ele ressaltou que, uma vez encerrado o mandato, o foro por prerrogativa de função cessa, e este é o caso dos réus, que perderam seus cargos há tempos. Esta argumentação vai de encontro ao parecer dos ministros Alexandre de Moraes e Flávio Dino, que opinaram pela continuidade do processo na Primeira Turma do STF.
Qual foi o argumento central de Luiz Fux?
Trechos do voto do Ministro Luiz Fux:
— Eduardo Bolsonaro🇧🇷 (@BolsonaroSP) September 10, 2025
-O supremo tribunal (STF) não é competente para julgar o caso.
*Além disso, se for considerado que Bolsonaro vem recebendo tratamento processual de presidente, o julgamento deveria ocorrer no plenário, pelos 11 juízes do STF;
-Não foi… pic.twitter.com/xReQzAU2C6
O argumento central de Fux gira em torno do respeito ao princípio do juiz natural e à manutenção da segurança jurídica. Ele sublinhou que a insistência em julgar o caso no STF resulta em uma “incompetência absoluta”, caracterizando essa postura como um vício inerente ao processo judicial. Esta perspectiva não apenas desafia o status atual da investigação, mas também levanta questões fundamentais sobre a condução apropriada destes casos dentro da hierarquia judiciária.
Ademais, Fux mencionou seu desconforto com a condução do caso, especialmente após as alegações feitas pelo tenente-coronel Mauro Cid, o que acrescenta uma camada complexa ao debate sobre a neutralidade e justiça na investigação dos fatos em questão. Este desconforto é algo que Fux já vinha expressando, apontando preocupações com os fundamentos e os procedimentos observados ao longo do processo.
“Estamos diante de uma incompetência absoluta, que é impassível de ser desprezada como vício intrínseco ao processo”, disse Fux.
Qual a reflexão feita por Fux sobre o processo de Bolsonaro?

O voto de Fux, além de técnico, incorporou uma dimensão filosófica. Ele adotou um tom reflexivo e cauteloso, enfatizando que os juízes devem ser firmes ao condenar só quando têm certeza, e humildes para absolver quando a dúvida prevalece. Fux justificou sua decisão com base em “considerações jurisfilosóficas”, indicando que o julgamento deve ir além da simples aplicação da lei e levar em conta as circunstâncias éticas e de justiça.
Essa abordagem traz para a discussão judicial uma visão de ponderação que pode influenciar o entendimento de como casos políticos complexos devem ser tratados, especialmente quando envolvem figuras públicas e acusações de grande repercussão. A expectativa é que sua posição em breve encontre eco ou resistência entre os demais membros da Primeira Turma do STF.
Como o voto do ministro pode impactar?
Com este voto, Luiz Fux abriu um precedente que pode alterar o curso do julgamento contra Bolsonaro e outros envolvidos no mesmo caso. Ao pautar sua decisão na ideia de redistribuição do processo para instâncias inferiores, Fux sugere uma rota judicial alternativa que poderia diluir a possibilidade de condenação direta pelo STF. Essa sugestão, se aceita, pode redefinir o caminho da investigação e impactar substancialmente futuros procedimentos judiciais envolvendo ex-detentores de cargos públicos de relevo.
A segregação do caso para a primeira instância pode, de fato, dispersar o impacto imediato do caso e permitir uma avaliação mais local e centrada nos detalhes e nas especificidades regionais dos eventos em questão. Tal mudança certamente atrairá a atenção não apenas da esfera judiciária, mas também do público e dos analistas políticos, ansiosos por entender como o sistema judicial brasileiro continuará a lidar com casos politicamente sensíveis.

FAQ sobre julgamento de Bolsonaro
- Como o voto de Fux pode impactar o julgamento? O voto de Fux pode ter um impacto significativo. Se a maioria dos ministros seguir a mesma linha de raciocínio, o processo pode ser remetido para a primeira instância da Justiça Federal. Essa mudança de foro teria um grande impacto, já que o caso seria julgado por um juiz e não pelo plenário do STF, podendo alterar o tempo e o trâmite do processo.
- Houve precedentes para casos políticos em outros estados? Não há precedentes diretos para um caso como este em outros estados. O processo de julgamento de um ex-presidente no Brasil por crimes de responsabilidade ou contra o Estado é uma situação rara e de grande complexidade jurídica. A discussão sobre a competência para julgar essas ações é um tema de debate frequente entre juristas, mas cada caso é analisado individualmente.
- Qual o papel do tenente-coronel Mauro Cid nesse processo? O tenente-coronel Mauro Cid desempenha um papel crucial no processo. Sua colaboração com as investigações, conhecida como delação premiada, trouxe informações e provas relevantes.