Um estudo recente da Universidade de Hiroshima, no Japão, sugere o possível potencial do extrato de folhas de stevia no tratamento do câncer de pâncreas, levantando esperanças entre a comunidade científica. Publicado no International Journal of Molecular Sciences, a pesquisa destaca como o extrato fermentado da Stevia rebaudiana pode ter atividades antioxidantes e citotóxicas aprimoradas contra células cancerígenas, o que o faz emergir como um candidato promissor no combate a um dos tipos de câncer mais agressivos.
Como o adoçante de stevia age no combate ao câncer?

A stevia é bem reconhecida por seu uso como adoçante natural, mas este estudo japonês amplia seu potencial de uso, evidenciando sua aplicação na oncologia. Durante as análises laboratoriais, o extrato das folhas de stevia foi fermentado com uma bactéria específica, um processo que aumentou substancialmente sua atividade antioxidante e citotoxicidade. Este aumento na eficácia é considerado crucial no combate às células cancerígenas do pâncreas, oferecendo uma nova via potencial para terapias contra o câncer.
A comunidade científica internacional recebeu a pesquisa com cautela e interesse. Paul E. Oberstein, um renomado oncologista norte-americano, destacou a importância de se testar substâncias naturais, mas frisou que o extrato por si só não mostrou efeitos significativos nas células cancerígenas, necessitando de um refinamento químico para potencializar sua eficácia. Oberstein ressalta a importância de mais estudos para entender completamente as implicações clínicas do extrato fermentado, levantando questionamentos sobre possíveis efeitos colaterais ou toxicidade que essas modificações poderiam trazer.
Por que o câncer de pâncreas é um desafio para os tratamentos atuais?
O câncer de pâncreas é notoriamente agressivo e desafiador para a medicina moderna. Kristen Arnold, especialista em oncologia cirúrgica, destacou a natureza severa desta doença, mencionando que, apesar da aplicação de terapias intensivas, os resultados frequentemente permanecem insatisfatórios. Os tumores pancreáticos são conhecidos por serem resistentes a muitas formas de tratamento, o que aumenta a urgência por novas abordagens terapêuticas. Arnold sublinha a necessidade contínua de inovação no tratamento do câncer de pâncreas, elogiando os dados pré-clínicos que indicam a promessa da stevia como um divisor de águas.
Diagnóstico Tardio
- Sintomas Inespecíficos: Os primeiros sintomas do câncer de pâncreas, como dor abdominal, perda de peso e fadiga, são vagos e podem ser confundidos com outras doenças menos graves. Isso atrasa a procura por ajuda médica.
- Localização Oculta: O pâncreas está localizado profundamente no abdômen, o que o torna difícil de ser examinado e diagnosticado em estágios iniciais.
- Metástase Precoce: Quando os sintomas se tornam mais evidentes, o câncer muitas vezes já se espalhou (metastatizou) para outros órgãos, como fígado e pulmões.
Biologia Tumoral Agressiva
- Resistência aos Tratamentos: As células do câncer de pâncreas são geneticamente agressivas e altamente resistentes às terapias convencionais, como a quimioterapia. Elas desenvolvem rapidamente mecanismos para contornar os efeitos dos medicamentos.
- Estroma Tumoral: O tumor de pâncreas é cercado por um tecido denso e fibroso, chamado estroma. Esse estroma dificulta a penetração dos medicamentos quimioterápicos e das células do sistema imunológico, criando uma barreira protetora para o tumor.
Opções de Tratamento Limitadas
- Ineficácia da Quimioterapia e Radioterapia: Embora a quimioterapia e a radioterapia sejam usadas, sua eficácia em câncer de pâncreas avançado é limitada. As respostas ao tratamento são frequentemente de curta duração.
- Cirurgia Complexa: A cirurgia para remover o tumor é a única chance de cura, mas é um procedimento complexo e só é possível em cerca de 20% dos pacientes, geralmente quando o diagnóstico é feito em um estágio muito inicial. Muitos pacientes não são candidatos à cirurgia devido ao estágio avançado da doença ou a outras condições de saúde.
Falta de Biomarcadores Específicos
- Ausência de Alvos Terapêuticos Claros: Ao contrário de outros tipos de câncer (como o de mama ou o de pulmão), o câncer de pâncreas não possui biomarcadores moleculares que possam ser facilmente usados para direcionar tratamentos específicos (terapias-alvo). Isso limita a eficácia da medicina de precisão.
- Dificuldade de Monitoramento: A falta de biomarcadores também dificulta o monitoramento da resposta ao tratamento e a detecção de recidivas de forma precoce.
Qual o futuro das pesquisas?

Embora os resultados sejam promissores, o caminho até o uso clínico ainda é longo. Especialistas, como Oberstein e Arnold, enfatizam a necessidade de ensaios clínicos em humanos para validar os achados laboratoriais. Esses testes são cruciais para determinar a eficácia e segurança do extrato fermentado de stevia em condições reais. Enquanto isso, os especialistas recomendam que pacientes mantenham-se informados sobre oportunidades de participação em estudos clínicos em andamento, enquanto a pesquisa com stevia avança.
Este estudo inovador da Universidade de Hiroshima abre novas perspectivas no tratamento do câncer de pâncreas, contribuindo para o avanço da ciência médica. Com mais pesquisas e testes rigorosos, o extrato de stevia fermentado pode se tornar uma peça chave em estratégias terapêuticas, potencialmente melhorando o prognóstico para muitos pacientes. Até lá, o equilíbrio entre otimismo e precaução continua a ser essencial na abordagem dos desafios médicos do combate ao câncer.