A Procuradoria-Geral da República (PGR) apresentou nesta segunda-feira (14/7) um pedido de condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro, juntamente com outros sete réus, sob a acusação de organizar uma suposta tentativa de golpe de Estado no Brasil. O processo está sob responsabilidade do Supremo Tribunal Federal (STF), refletindo um momento significativo do panorama político nacional, marcado por discussões intensas sobre o respeito às instituições democráticas e à alternância legítima do poder. Segundo o órgão, o grupo teria atuado de forma coordenada para enfraquecer as bases do Estado de direito, especialmente após a derrota nas eleições de 2022.
Segundo a CNN, com base em informações reunidas desde 2021, o Ministério Público Federal detalhou o passo a passo de uma ação supostamente sistemática, que envolveu membros do alto escalão do governo anterior e integrantes das Forças Armadas. Segundo o relatório entregue ao STF, a organização teria buscado não apenas deslegitimar o processo eleitoral, mas, também, impedir o funcionamento regular dos Três Poderes, culminando nos episódios de janeiro de 2023, quando as sedes das principais instituições do país foram atacadas.
Quem são os principais acusados?
– A CNN Brasil repercute mais uma vergonha na farsa da "trama do golpe".
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) July 15, 2025
– O depoimento do coronel delator Mauro Cid no âmbito do chamado "Núcleo 2" mais uma vez se revelou cheio de contradições, mentiras e evasivas, além de se chocar com a denúncia da PGR em vários pontos… pic.twitter.com/wruywIxmeh
O núcleo central do grupo denunciado pela PGR inclui, além de Bolsonaro, ex-ministros e militares de alto patente, como Alexandre Ramagem, Augusto Heleno, Anderson Torres, Walter Braga Netto, Paulo Sérgio Nogueira, Mauro Cid e Almir Garnier. Cada um foi apontado como responsável por funções específicas dentro de um suposto plano progressivo, que previa desde o enfraquecimento das instituições até a preparação de medidas de exceção para impedir a posse dos eleitos.
De acordo com o procurador-geral Paulo Gonet, a atuação coordenada teria utilizado recursos do Estado para provocar instabilidade e desacreditar o sistema eleitoral. Documentos, depoimentos e registros oficiais foram apresentados como evidências da existência de atos preparatórios, inclusive com referência à elaboração de minutas de decretos que poderiam ser usados para justificar atitudes autoritárias.
Como as instituições teriam sido utilizadas no contexto da denúncia?
Entre os elementos destacados pela denúncia, está o suposto uso de órgãos estatais, como a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e a Polícia Rodoviária Federal (PRF), para objetivos políticos. A acusação aponta que a Abin teria monitorado autoridades e disseminado informações suspeitas, enquanto a PRF foi mencionada em casos de restrição à circulação de eleitores em regiões consideradas estratégicas, interferindo indiretamente no processo eleitoral.
- Abin: Monitoramento de opositores e distribuição de conteúdo para questionar o resultado das eleições.
- PRF: Atuação em operações durante o pleito de 2022, limitando o deslocamento de eleitores.
- Comunicação: Disseminação de notícias falsas, especialmente sobre supostas fraudes nas urnas eletrônicas.
Quais provas foram incluídas no pedido da PGR?

Entre os documentos apresentados ao Supremo Tribunal Federal, estão depoimentos de militares, registros de reuniões oficiais, conversas em aplicativos de mensagens e apreensão de minutas de decretos considerados ilegais. O procurador-geral destacou que parte das ações foi documentada pelos próprios envolvidos, tornando impossível refutar o envolvimento dos acusados em atos que são alvo da denúncia.
- Depoimentos confirmando a existência da chamada “minuta do golpe”.
- Registros de entrada e saída do Palácio da Alvorada.
- Conversas sobre o plano conhecido como “Punhal Verde e Amarelo”.
- Evidências da manutenção de acampamentos e incentivos aos manifestantes.
O uso desses elementos sustenta a tese de que não se tratou apenas de retórica política, mas de iniciativas concretas para alterar a ordem democrática. O documento da PGR afirma que as ações passaram da contestação judicial para a tentativa de implementação de um projeto autoritário.
O que muda com a denúncia formal da PGR contra Bolsonaro?

Com a apresentação das alegações finais pela Procuradoria-Geral da República, o processo segue para julgamento no Supremo Tribunal Federal, abrindo caminho para responsabilização dos envolvidos.
- Acusação formal de crimes: A denúncia significa que a PGR, após investigar, concluiu que há indícios suficientes para acusar formalmente Bolsonaro e outros sete réus por crimes como tentativa de golpe de Estado, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, deterioração de patrimônio tombado, dano qualificado e participação em organização criminosa armada.
- Início da ação penal (se aceita): Uma vez apresentada a denúncia ao Supremo Tribunal Federal (STF), o tribunal irá analisar se há elementos mínimos para aceitá-la. Se a denúncia for aceita, Bolsonaro e os demais réus se tornam formalmente acusados e o processo se transforma em uma ação penal, com todas as etapas de um processo criminal (produção de provas, depoimentos, alegações finais das defesas, etc.).
- Fim da fase de investigação e início da instrução processual: A denúncia marca o encerramento da fase de inquérito e o início da fase de instrução, onde as provas são colhidas e as defesas têm a oportunidade de apresentar seus argumentos.
- Possibilidade de condenação: O objetivo da PGR ao apresentar a denúncia é buscar a condenação dos réus pelos crimes imputados. Os ministros do STF julgarão por maioria, analisando a situação de cada réu individualmente.
- Consequências jurídicas em caso de condenação: Se condenado, Bolsonaro pode ser sujeito às penas previstas para os crimes dos quais for considerado culpado, que podem incluir prisão e outras sanções.
- Impacto político e público: Uma denúncia formal por crimes graves, como os que envolvem a suposta tentativa de golpe, tem um peso político e público considerável, independentemente do resultado final do julgamento.
- Delação de Mauro Cid: A denúncia da PGR ressalta que a delação do tenente-coronel Mauro Cid foi fundamental para apontar caminhos e fortalecer o acervo probatório da ação penal, corroborando as acusações.
- Argumentos da PGR: A PGR sustenta que a “organização criminosa fez questão de documentar quase todas as fases de sua empreitada” e que os envolvidos desenvolveram um “plano progressivo e sistemático de ataque às instituições democráticas” para “prejudicar a alternância legítima de poder nas eleições de 2022”.