Em meio à permanente busca por avanços no enfrentamento do vírus HIV, novos medicamentos vêm ampliando as possibilidades de prevenção e tratamento. O lenacapavir representa uma inovação importante nesse contexto e tem chamado a atenção da comunidade médica e da sociedade por apresentar resultados promissores tanto para pessoas vivendo com HIV quanto para aquelas que buscam métodos eficazes de profilaxia. Essa alternativa se destaca principalmente pela sua praticidade e por oferecer um novo mecanismo de ação em relação aos tratamentos tradicionais.
Desde 2022, o lenacapavir já era utilizado nos Estados Unidos para tratar casos específicos de HIV, principalmente aqueles em que o paciente apresentava resistência a medicamentos antirretrovirais convencionais. No entanto, em 2024, o remédio ganhou destaque ao receber autorização para uso preventivo, tornando-se uma opção de profilaxia pré-exposição (PrEP). O objetivo é oferecer mais proteção para pessoas em situação de maior risco, reduzindo significativamente os índices de infecção pelo HIV.
Como o lenacapavir age no combate ao HIV?

Diferente da maioria dos medicamentos disponíveis, que atuam bloqueando a replicação do material genético do vírus, o lenacapavir interfere diretamente na formação do capsídeo do HIV – uma espécie de cápsula que envolve e protege o material genético viral. Ao impedir que essa estrutura se forme corretamente, o medicamento limita a capacidade de o vírus invadir novas células e se multiplicar no organismo.
Uma das particularidades desse tratamento está em sua liberação gradual: o lenacapavir é administrado por injeção subcutânea, geralmente aplicada na região abdominal, e permanece ativo no corpo por até seis meses. Esse intervalo se mostra vantajoso porque diminui a necessidade de controle diário, como ocorre com os comprimidos utilizados em esquemas tradicionais, favorecendo a adesão ao tratamento preventivo.
- Bloqueio da Entrada Viral: O lenacapavir interfere na capacidade do HIV de entrar nas células hospedeiras. Ele impede a formação do capsídeo, uma estrutura que guarda o material genético do vírus e é essencial para sua entrada no interior das células.
- Interferência na Integração: Ao se ligar ao capsídeo, o medicamento bloqueia a interação dessa estrutura com proteínas de importação nuclear, o que impede a entrada do complexo pré-integração no núcleo da célula hospedeira. Isso, por sua vez, inibe a integração do DNA viral ao genoma da célula, um passo crucial para a replicação do vírus.
- Dificultando a Montagem e Liberação de Novas Partículas: O lenacapavir também interfere na montagem do capsídeo durante a formação de novos vírus. Isso leva à produção de partículas virais anormais e que não são capazes de infectar outras células, quebrando o ciclo de replicação.
Quais resultados demonstram o potencial deste novo método de prevenção?
Os estudos clínicos realizados até 2024 apontaram taxas de eficácia notavelmente altas para o uso preventivo do lenacapavir. Ensaios realizados em diferentes continentes, envolvendo grupos como mulheres cisgênero, homens gays e diversos outros perfis de risco, indicaram proteção de até 99,9% contra a infecção pelo HIV. Esses resultados ocorreram tanto em países africanos quanto nas Américas, Ásia e Oceania, evidenciando a abrangência dos testes e a robustez dos dados.
- Redução expressiva do risco: A incidência de infecção entre participantes que receberam o lenacapavir foi mínima, mesmo em contextos de alta exposição ao vírus.
- Maior praticidade: A necessidade de apenas duas aplicações anuais de injeção facilita o acompanhamento e reduz o risco de esquecimento, comum em tratamentos diários.
- Mecanismo inovador: O bloqueio do capsídeo amplia o repertório de estratégias utilizadas no combate ao HIV, tornando os protocolos mais diversificados e eficientes.
Quando lenacapavir estará disponível no Brasil?

Em 2025, o lenacapavir ainda não está liberado para distribuição no Brasil, mas já há pedidos de registro em análise pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O processo inclui a avaliação das formas farmacêuticas injetável e em comprimidos, com prioridade para casos em que o tratamento de escolha convencional não tem funcionado devido à resistência dos vírus presentes. Especialistas consideram apenas uma questão de tempo até que o medicamento seja incluído no rol de tratamentos administrados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o que ampliaria o acesso e fortaleceria ainda mais as estratégias nacionais de prevenção.
Atualmente, a PrEP faz parte das estratégias públicas desde 2018, estando disponível para populações em maior risco em centenas de municípios brasileiros. Com a chegada do lenacapavir, espera-se que a adesão aumente e a diversidade de perfis beneficiados se torne ainda maior, incluindo homens cisgênero heterossexuais, mulheres cisgênero, pessoas trans e outras populações chaves.
Preço e acesso: qual é a expectativa para o futuro?
Embora a eficácia do lenacapavir seja um ponto positivo, o valor do medicamento gera debates quanto à viabilidade de acesso universal. Nos Estados Unidos, o preço fixado em 2024 ultrapassava 28 mil dólares ao ano, tornando o acesso restrito para grande parte da população. Organizações internacionais, programas públicos e fabricantes buscam soluções para ampliar a cobertura e permitir a chegada de versões genéricas, que podem baratear significativamente o tratamento preventivo.
- A negociação internacional pode favorecer acordos de preços mais justos para países em desenvolvimento.
- A produção de genéricos é um caminho já trilhado em outros casos, viabilizando o acesso por meio do SUS.
- A larga escala e o aumento da oferta tendem a reduzir custos a médio e longo prazo.
A incorporação de novos medicamentos no combate ao HIV, como o lenacapavir, reforça a importância das estratégias combinadas de prevenção, incluindo o uso de preservativos e testagens frequentes. A expectativa é que o remédio contribua para reduzir ainda mais as estatísticas de infecção, avançando no objetivo global de controlar o vírus e garantir melhor qualidade de vida para todas as pessoas afetadas.