Um estudo de grande porte realizado na França trouxe à tona uma possível ligação entre o horário das refeições noturnas e o risco de acidente vascular cerebral (AVC). Ao longo de sete anos, mais de 100 mil pessoas tiveram seus hábitos alimentares acompanhados de perto, com especial atenção ao momento em que faziam a última refeição do dia. Os dados coletados sugerem que o jantar tardio pode estar associado a um aumento significativo na incidência de AVC, principalmente entre mulheres.
Durante o acompanhamento, os pesquisadores observaram que aproximadamente um terço dos participantes costumava jantar antes das 20h, enquanto outro terço optava por se alimentar após as 21h. Ao longo do período analisado, foram registrados cerca de 2 mil casos de problemas cardiovasculares, permitindo uma análise detalhada sobre o impacto do horário das refeições na saúde cerebral.
Como o horário do jantar pode influenciar o risco de AVC?
O estudo identificou que realizar a última refeição do dia após as 21h pode elevar em até 28% as chances de sofrer um AVC ou um acidente isquêmico transitório, também conhecido como miniAVC. Essa relação foi mais evidente entre as mulheres, que demonstraram maior vulnerabilidade a eventos cerebrovasculares quando comparadas aos homens.
Os pesquisadores destacaram que o aumento do risco está relacionado principalmente ao sistema cerebrovascular, sem associação significativa com outras condições cardíacas, como infarto do miocárdio ou obstrução das artérias coronárias. A hipótese é que o metabolismo noturno, aliado a fatores hormonais e ao ritmo circadiano, possa desempenhar um papel relevante nesse processo.

Quais fatores podem explicar a relação entre jantar tarde e AVC?
Algumas explicações possíveis para essa associação envolvem o funcionamento do organismo durante a noite. O corpo humano segue um ciclo biológico, conhecido como ritmo circadiano, que regula diversas funções, incluindo a digestão e o metabolismo. Ao consumir alimentos em horários avançados, o organismo pode ter dificuldades para processar nutrientes de forma eficiente, favorecendo o acúmulo de gordura e o aumento da pressão arterial.
- Metabolismo desacelerado: Durante a noite, o metabolismo tende a ser mais lento, dificultando a digestão de refeições pesadas.
- Alterações hormonais: Hormônios ligados ao sono e ao apetite podem ser afetados, influenciando o funcionamento vascular.
- Pressão arterial elevada: Comer tarde pode contribuir para picos de pressão, fator de risco conhecido para AVC.
Além disso, o hábito de jantar tarde pode estar associado a outros comportamentos de risco, como menor tempo de sono ou escolhas alimentares menos saudáveis, o que também pode impactar a saúde cerebral.

Como reduzir o risco de AVC relacionado ao horário das refeições?
Para minimizar o risco de problemas cerebrovasculares, especialistas recomendam adotar alguns cuidados simples no dia a dia. Entre as principais orientações estão a antecipação do jantar e a escolha de alimentos leves durante a noite. Confira algumas dicas:
- Procure realizar a última refeição até as 20h, sempre que possível.
- Prefira pratos de fácil digestão, evitando frituras e alimentos muito gordurosos.
- Mantenha uma rotina regular de sono, respeitando o horário de descanso.
- Evite o consumo excessivo de bebidas alcoólicas à noite.
- Inclua vegetais, frutas e fibras no jantar para favorecer o metabolismo.
Essas medidas podem contribuir para a redução do risco de AVC, especialmente entre mulheres, grupo que demonstrou maior sensibilidade ao impacto do jantar tardio segundo a pesquisa francesa.
O que os resultados do estudo indicam para a saúde pública?
Os achados reforçam a importância de considerar não apenas o que se come, mas também quando se come, como parte das estratégias de prevenção de doenças cerebrovasculares. O monitoramento dos horários das refeições pode ser uma ferramenta adicional para orientar políticas de saúde e campanhas educativas, principalmente entre mulheres adultas.
Embora sejam necessários novos estudos para compreender todos os mecanismos envolvidos, as evidências atuais sugerem que a atenção ao horário do jantar pode ser um passo relevante para a promoção da saúde cerebral e a redução de casos de AVC. Manter hábitos alimentares regulares e priorizar refeições em horários adequados pode fazer diferença na qualidade de vida a longo prazo.