A atriz Danieli Haloten ganhou notoriedade nacional em 2009 ao interpretar Anita, uma personagem cega na novela “Caras & Bocas”, de Walcyr Carrasco. Desde então, sua vida passou por transformações significativas. Atualmente, aos 41 anos, Danieli reside em Curitiba com sua família, é servidora pública e está no quarto ano do curso de Direito. Além disso, ela criou um canal no YouTube onde discute temas relacionados ao Direito.
Formada em Artes Cênicas e Jornalismo, Danieli sempre teve o objetivo de se estabelecer como jornalista ou apresentadora. A criação do canal no YouTube surgiu como uma forma de unir suas paixões pelo Direito e pela comunicação. Inicialmente, o canal abordava o Direito de forma geral, mas logo ela percebeu um aumento nas visualizações ao focar no direito das pessoas com deficiência.
Como o canal de Anita aborda o tema?
Danieli notou que havia uma carência de conteúdo sobre o direito das pessoas com deficiência, o que a motivou a aprofundar-se nesse tema. Um exemplo de seu trabalho é a série sobre a Lei Brasileira de Inclusão, também conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência. Sua experiência pessoal com a deficiência visual desde a adolescência, quando precisou lutar judicialmente por uma vaga escolar, reforçou seu compromisso com a causa.
Além disso, Danieli participou ativamente na militância pelo direito ao uso de cão-guia em locais públicos, contribuindo para a elaboração do decreto federal que regulamenta esse direito. Ela acredita que o Brasil ainda precisa avançar muito em termos de inclusão e que os meios de comunicação devem dar mais visibilidade ao tema.
“Quando comecei a estudar para concursos, me apaixonei pelo Direito. Aí veio a vontade de fazer a faculdade. Eu já sou formada em Artes Cênicas e Jornalismo. Desde que fiz a novela, meu grande objetivo era conseguir espaço como jornalista ou apresentadora. Resolvi então criar um canal no YouTube em que falo sobre direito e recebo especialistas.”, informa a atriz.
Quais desafios ainda precisam ser superados para a atriz?
Danieli destaca que a conscientização sobre os direitos das pessoas com deficiência ainda é insuficiente. Durante uma viagem a Santa Catarina, ela enfrentou dificuldades devido à proibição de cães nas praias, apesar de seu cão-guia ter permissão legal para acompanhá-la. Situações semelhantes ocorrem em restaurantes, onde a entrada com o cão-guia é frequentemente questionada.
Outro ponto de crítica é a representatividade na televisão. Danieli observa que, embora as pessoas com deficiência representem mais de 20% da população, raramente são escaladas para papéis em novelas e filmes. Ela critica a escolha de atores sem deficiência para interpretar personagens com deficiência, argumentando que isso subestima a capacidade dos atores com deficiência.
“O Brasil ainda tem muito o que avançar no sentido da inclusão das pessoas com deficiência. E acho que os meios de comunicação não dão destaque ao tema. Um exemplo: recentemente eu fui passar as férias em Santa Catarina e passou uma reportagem falando sobre a proibição de cães nas praias. Ao ver aquilo, eu logo percebi que teria problemas para ir com o meu cão guia, que, por lei, pode me acompanhar em qualquer momento. O mesmo ocorre frequentemente em restaurantes, que tentam barrar a minha entrada com o cão alegando que animais não são permitidos. É preciso um trabalho de conscientização.”, afirma Danieli.
Qual o impacto de “Caras & Bocas” na conscientização?
O papel de Anita em “Caras & Bocas” foi significativo para a conscientização sobre a inclusão. Danieli descreve o ambiente nos bastidores como acolhedor e menciona amizades duradouras, como a com Ary Fontoura, que escreveu o prefácio de um de seus livros. Ela acredita que sua participação na novela ajudou a desmistificar estereótipos e a mostrar que pessoas com deficiência podem desempenhar qualquer papel, não apenas aqueles associados à deficiência.
Danieli Haloten continua a ser uma voz ativa na luta por mais representatividade e inclusão, usando sua plataforma para educar e inspirar mudanças na sociedade.
