O último balanço da Via (VIIA3), a dona das Casas Bahia, Extra.com e Ponto, mostrou um prejuízo de R$ 492 milhões no segundo trimestre e uma dívida de R$ 5,479 bilhões. A companhia anunciou um plano de recuperação que prevê a redução de até R$ 1 bilhão em estoques neste ano, além do fechamento de até 100 lojas e demissões. O UOL ouviu especialistas para entender a crise da empresa.
Qual o tamanho da crise?
Inflação e juros impactaram o varejo. As vendas do setor estão praticamente estagnadas desde 2020. “Com a inflação, a renda real das famílias caiu, o que diminuiu o consumo. A taxa de juros alta, para conter a inflação, prejudica o crédito”, afirma Claudio Felisoni, presidente do Ibevar (Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo & Mercado de Consumo) e professor da FIA Business School.
Endividamento da empresa começou na pandemia. Para garantir a manutenção das operações, a Via chegou a fazer empréstimos com juros a 2% ao ano. Mas, de janeiro de 2021 a agosto de 2022, houve uma escalada da taxa de juros, que chegaram a 13,75% em 2023.. Em julho, a taxa Selic foi reduzida em 0,5 ponto percentual, a 13,25%.
Juros altos fazem dívida crescer acima dos lucros. A Via paga atualmente 15,85% de juros ao ano. Isso equivale a R$ 871 milhões — somente em serviço da dívida. Os empréstimos feitos pela empresa são corrigidos pelo CDI mais 2,1% ao ano de juros. CDI é a sigla para Certificado de Depósito Interbancário e seu valor está sempre muito próximo ao da Selic, a taxa básica de juros (normalmente 0,10 ponto percentual abaixo da taxa).
Queda da Selic pode dar um ‘respiro’ para a empresa. A perspectiva de novos cortes na taxa básica de juros pode ajudar a aquecer um pouco o consumo de final de ano no varejo. “Também podemos apostar em um cenário melhor para a Via e um possível aquecimento das ações da empresa”, afirma Lidiane Bastos, especialista em gestão varejista e CEO do Grupo Simão.
“Os juros no Brasil são obscenos. A queda na Selic, a longo prazo, pode baratear o crédito, o que é um incentivo ao consumo, e [pode] favorecer o varejo. No entanto, é preciso cautela para não impactar a inflação.” – Marco Sabino, advogado e professor da FIA
Plano para salvar a dona das Casas Bahia
Corte de 11% no quadro de funcionários. Cerca de 6.000 vagas de emprego foram fechadas no primeiro semestre deste ano. Segundo a Via, eram 45 mil funcionários no início do ano e hoje são 40 mil.
Fechamento de 9% das lojas. Atualmente, são 1.127 pontos de venda, incluindo Casas Bahia e Ponto. Poderão ser fechadas até 100 lojas ainda neste ano.
O nível de investimento deste ano deve ser 40% menor que o de 2022. Com a implementação das mudanças operacionais, a companhia estima poder gerar R$ 1 bilhão em lucro líquido antes de imposto de renda, embora não haja previsão de quando. A empresa também anunciou uma alteração na forma de captação para financiar o crediário.
Redução de R$ 1 bilhão em estoques. Produtos que não geram tanto lucro ou de valores baixos devem ser vendidos no marketplace. “Com as vendas em declínio nas lojas físicas, podemos observar o aumento de 9% no seu marketplace, o que vai ao encontro do planejamento de redução de lojas e foco no marketplace da Via”, diz Lidiane Bastos, especialista em gestão varejista.
Diversificação de investimentos com foco em tecnologia. Segundo a Via, 60% das lojas físicas já possuem o App 2.0, uma plataforma que agiliza o atendimento em loja. Outra ferramenta implantada recentemente é a busca por voz, que já ajudou em mais de 200 mil consultas nas plataformas online.
Há risco de falência?
O plano de recuperação e queda de juros devem dar fôlego para a empresa. A análise é dos especialistas ouvidos pelo UOL. Segundo eles, as medidas anunciadas, a longo prazo, podem ser suficientes para reverter a situação.
Créditos: Uol.