Em agosto deste ano, um documento atribuído à Polícia Civil de São Paulo viralizou na internet ao relacionar as tatuagens carregadas pelos bandidos aos crimes que eles cometeram. O palhaço, por exemplo, significaria que o detento matou um policial, enquanto a carpa o encaixaria como integrante de uma quadrilha específica.
Apesar da SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo) ter desmentido a existência desse arquivo em sua base, especialistas ouvidos pelo R7 explicam que as tatuagens têm um grande simbolismo dentro das prisões.
Raquel Gallinati, delegada paulista e diretora da Adepol (Associação dos Delegados de Polícia) do Brasil, conta que elas são uma forma de os detentos expressarem suas identidade: são usadas, por exemplo, para mostrar os crimes pelos quais foram condenados.
“As tatuagens carregam significado específico dentro da cultura carcerária. Podem representar filiação a gangues, condenação por crimes específicos ou até mesmo o status dentro da hierarquia da prisão”, explica Gallinati.
Já a psicóloga Mônica Leimgruber, que atua no sistema penal de Mato Grosso do Sul, afirma que, apesar de muitas tatuagens terem cunho pessoal, elas podem ser um alerta para profissionais de segurança pública.
“Expressam amor pela mãe, pelos filhos ou pela companheira, mas também podem representar, por exemplo, que aquele detento está em ascensão no mundo do crime”, diz.
O palhaço e a carpa, o equilíbrio e a facção
Uma das tatuagens mais comuns entre presos é o palhaço, e tem um significado macabro: geralmente, significa o assassinato de um policial.
“Palhaços ou coringas são símbolos populares no mundo todo e expressam um aspecto debochado do crime. Demonstram insensibilidade em relação à vida e à lei”, destaca Gallinati.
Entre os membros do PCC (Primeiro Comando da Capital), é comum ver a tatuagem do símbolo yin-yang, aquele em que um círculo dividido em branco e preto representa o equilíbrio de duas forças opostas e complementares.
Segundo Leimgruber, a carpa também é um desenho comum entre os integrantes da quadrilha, assim como os números 1533, uma alusão à ordem alfanumérica (realizada de acordo com a grandeza dos números) da sigla da organização criminosa.
Caneta e plástico derretido
A tatuagem feita em um estúdio apropriado conta com agulha esterilizada e pigmento adequado, materiais proibidos nos presídios, o que torna a prática precária.
“Dentro das prisões, as tatuagens são realizadas com materiais como agulhas feitas de grampos ou canetas e tintas ilegais”, afirma Gallinati.
Leimgruber explica que a carcaça da caneta serve de base para o processo: a ponta é derretida e dá lugar a uma agulha, feita ali mesmo com um metal fino entortado. Já a tinta é obtida também a partir de uma mistura de plásticos em alta temperatura.
Estupradores costumam ter marcas feitas à força que demonstram o tipo de crime que cometeram. Não raro têm a pele marcada com desenhos de órgãos sexuais e frases depreciativas, para serem reconhecidos em qualquer lugar.
“As tatuagens podem fornecer indícios e informações valiosas sobre a vida e a história criminal de um preso. No geral, elas [tatuagens de cadeia] são um fenômeno complexo e multifacetado, refletindo não apenas o mundo do crime, mas também aspectos culturais, sociais e psicológicos dos indivíduos envolvidos”, conclui Gallinati.
Fonte: R7.