Nome mais cotado para a vaga de vice na chapa do prefeito Ricardo Nunes (MDB) nas eleições do ano que vem, o delegado Osvaldo Nico Gonçalves, de 66 anos, já não esconde mais que a indicação feita pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) ao aliado na capital paulista é um desejo pessoal.
Número 2 da Secretaria da Segurança Pública (SSP) de São Paulo, o secretário-executivo não é filiado a nenhum partido e nunca disputou uma eleição, mas acumulou pontos por ter bom trânsito político e ser um rosto conhecido em uma área considerada sensível para o embate eleitoral em 2024.
“Se o governador Tarcísio quiser, se me derem a missão, eu vou abraçar. Eu quero tentar ajudar São Paulo”, afirma Nico ao Metrópoles. Além da preferência de Tarcísio, o nome do delegado também agrada Nunes.
Conhecido como Doutor Nico, o secretário-executivo da SSP tem uma trajetória de vida que os marqueteiros adoram explorar nas campanhas. Começou a trabalhar aos 12 anos como engraxate na porta do 17º Distrito Policial (Ipiranga), bairro da zona sul da capital onde nasceu e abriu a primeira unidade da sua rede gastronômica, que rendeu a ele um patrimônio declarado de R$ 12 milhões.
Na Polícia Civil há quase 45 anos, Nico já ocupou diversos postos-chave na corporação. Foi negociador do Grupo Especial de Resgate (GER), unidade de elite, chefe da Delegacia Antissequestros e atuou na primeira equipe do Grupo de Operações Especiais (GOE), outro grupamento de elite da Civil.
Nesse percurso, ele virou um nome associado a vários casos de repercussão nacional, como as prisões do guerrilheiro chileno Maurício Hernandez Norambuena, sequestrador do publicitário Washington Olivetto, do médico Roger Abdelmassih, e até de Fabrício Queiroz, o ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e amigo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Além disso, desde o fim dos anos 1990, o delegado fez amizades com apresentadores de TV e virou presença constante nos programas policiais que passam à tarde.
Delegado na política
Nico alcançou o posto de delegado-geral da Polícia Civil na gestão passada, pelas mãos do ex-governador Rodrigo Garcia (PSDB). Com a posse de Tarcísio, ele ascendeu ao cargo de secretário-executivo, o número 2 da pasta, abaixo apenas do secretário Guilherme Derrite.
No Palácio dos Bandeirantes, ele é visto como um nome que tem bom trânsito entre grupos políticos que vão do bolsonarismo à centro-direita tradicional, oriunda do PSDB, partido que governou São Paulo por 28 anos, além de setores da esquerda. “Sempre trato todo mundo igual e busco ajudar”, diz o delegado.
Em agosto deste ano, Tarcísio se convenceu que Nunes precisaria de um vice ligado à segurança pública – área apontada como a mais sensível na cidade por pesquisas internas – e sugeriu o nome de Nico ao prefeito, que não fez nenhuma objeção. A sugestão teria ocorrido após uma conversa prévia com Derrite.
Nico confirma a autoria da indicação, mas ressalta que ainda não se filiou a nenhum partido e nem conversou com presidentes de legendas para tratar do assunto. A tendência é que ele se filie ao Republicanos, partido de Tarcísio.
Da caixa de graxa às algemas
Nico cresceu no Ipiranga, bairro da zona sul da capital. Quando tinha 12 anos, começou a frenquentar a delegacia do bairro, o 17º Distrito Policial (DP), para engraxar sapatos e levar um pouco de dinheiro para casa. Ele conta que foi nessa época que ele se encantou com a profissão de policial. Com o passar do tempo, conquistou a confiança dos policiais e os trocados passaram a ser para lavar e encerar as viaturas. “Passava pretinho nos pneus”, lembra.
Assim que terminou o equivalente ao Ensino Médio na época, ele prestou concurso para a polícia e passou na seleção para investigador, em 1979. A atenção dos jornalistas, segundo ele, ocorreu logo no primeiro caso. Um homem havia estuprado e tentado matar dois irmãos em uma fábrica abandonada. Um deles sobreviveu.
“A gente conversou com o menino e ele disse que o cara tinha um boné verde”, conta Nico. Pouco depois, andando com a viatura na rua, o delegado diz que viu um homem de boné verde que entrou em uma farmácia ao avistar o carro. “Eu falei para parar, mas o pessoal tirou sarro de mim”, lembra.
O farmacêutico contou que o homem havia entrado mas não comprou nada. Eles detiveram o suspeito na rua logo depois e o levaram para a delegacia, onde a vítima o reconheceu como autor do crime. Com o caso “rachado”, como se diz no linguajar policial, Nico deu sua primeira entrevista, segundo conta, ao jornalista Gil Gomes, um folclórico repórter policial que morreu em 2018.
Negócios gastronômicos
Em 1992, enquanto galgava cargos na Polícia Civil, Nico e sua mulher, Sandra, montaram uma pizzaria no Ipiranga. Embora não goste de falar publicamente sobre a atividade como empresário, o delegado conta aos amigos que ele mesmo fazia as entregas de pizza nos horários de folga da polícia, em um fusca rosa, cor das paredes da pizzaria.
O negócio prosperou e a pizza da Sala Vip começou a figurar nos rankings de melhores restaurantes na imprensa. Hoje, são seis unidades, na capital, no ABC Paulista e no Guarujá. Além disso, a família tem outros bares e restaurantes.
Na Junta Comercial, Nico consta como um dos sócios da empresa que administra a rede. Segundo declaração feita à Controladoria-Geral do Estado (CGE), em abril deste ano, o patrimônio atual do delegado é de R$ 12,3 milhões.
Créditos: Metrópoles.