Desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu o terceiro mandato, líderes históricos do PT afastados da política em razão de condenações por corrupção no Mensalão ou no Petrolão, estão voltando à cena política. O ex-ministro José Dirceu, o ex-tesoureiro Delúbio Soares e os ex-deputados José Genoino e João Paulo Cunha têm agendas intensas em Brasília.
Nesta semana, mais uma figura do PT apareceu publicamente para cumprir agenda política: o ex-tesoureito do PT João Vaccari Neto, condenado em sete processos da Lava Jato e que ficou preso por quatro anos. Na quarta-feira 22, ele abriu um seminário da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf), ligado à Central Única dos Trabalhadores (CUT), em São Paulo, sobre fundos de pensão.
O tema da mesa da qual participou foi “A Previc e novo governo”. Com ele, estavam o diretor-superintendente e o diretor de normas da Previc, informou a coluna de Malu Gaspar, de O Globo, nesta quinta-feira, 23.
A Previc é a autarquia federal responsável pela regulação das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPC). Tem sob sua responsabilidade fiscalizar mais de R$ 1 trilhão depositados em fundos de aposentadoria privada de milhões de trabalhadores.
Vaccari é réu por fraudes em fundos de pensão
Também estavam no evento da CUT presidentes dos maiores fundos de pensão do país, como a Previ, do Banco do Brasil, e o Funcef, da Caixa Econômica Federal. Chama a atenção o fato de que Vaccari se tornou réu em 2017 por fraudes justamente em fundos de pensões, incluindo o Funcef.
A ação foi fruto da Operação Greenfield, que investigou 29 pessoas como integrantes do esquema, e ainda não foi julgada. O cálculo do Ministério Público é que as fraudes tenham gerado prejuízo de R$ 402 milhões na Funcef. Até hoje os aposentados da Caixa têm um desconto de 30% no benefício para ajudar a cobrir o rombo deixado pelos desvios investigados na Greenfield. Mesmo assim, Vaccari afirmou no seminário que não houve corrupção, informou O Globo.
De volta à cena do crime
Na Lava Jato, Vaccari, que foi tesoureiro do PT entre 2010 e 2015, foi condenado em sete processos. Em um deles, foi sentenciado a 15 anos de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Ele conseguiu deixar a prisão em 2019, beneficiado por um indulto natalino da Justiça do Paraná. Em 2017, tornou-se réu na Justiça Federal por fraudes que provocaram nos fundos de pensão.
“O bonde da volta dos que não foram é grande. Seriam necessários mais parágrafos para listar as figurinhas carimbadas da política e da economia ressurgindo”, afirma Malu Gaspar.
Embora quem já cumpriu sua pena tenha direito a reconstruir a vida, a jornalista pondera que isso deve ser feito de forma lícita, e não justamente pelos motivos que levaram as pessoas à prisão. “Pelo que se viu até agora, todos se comportam como se estivessem de volta à cena do crime, buscando concluir o que faziam quando foram interrompidos”, escreve.
Práticas antigas e questionáveis do PT também estão de volta na Petrobras
Mais do que a volta de pessoas afastadas da política por corrupção e outros crimes, o governo Lula também está retomando práticas e políticas que se mostraram fracassadas em gestões anteriores.
As mais recentes se referem à Petrobras. Desde a semana passada, a imprensa noticia a queda de braço entre o presidente da estatal, Jean Paul Prates, e os ministros Rui Costa (Casa Civil) e Alexandre Silveira (Minas e Energia). Os últimos pressionam Prates a baixar os preços dos combustíveis para conter a inflação. Eles também querem que a estatal invista na construção de plataformas e navios no Brasil, como forma de geração de empregos.
“Quem já viu esse filme sabe o final”, adianta a jornalista. Prates pode até resistir por um tempo, mas quando Lula acionar o trator do Palácio do Planalto terá de ceder.
Em ocasiões anteriores nos governos petistas, a tentativa de erguer a indústria naval fracassou. A falta de mão de obra qualificada e de tecnologia de ponta torna os estaleiros brasileiros pouco competitivos e destinados ao fracasso. Além disso, a corrupção também leva parte dos investimentos. “Cedo ou tarde, [os estaleiros] acabam sucumbindo e quebrando”, resume a colunista.
Embora o presidente da Petrobras saiba que isso não vai dar certo e por isso ofereça resistência à pressão do governo. Nesse caso, ele está do lado certo. Mas, ao mesmo tempo, insiste em “driblar as regras de governança para trazer de volta à cúpula da Petrobras figuras que já foram investigadas e até afastadas sob suspeita de corrupção e desvio de recursos”, lembra a jornalista.
Revista Oeste