Um dos condenados à prisão no julgamento sobre o 8 de janeiro revelou os detalhes do estado de saúde de Cleriston Pereira da Cunha, o Clezão, que morreu nesta segunda-feira, 20, no Complexo da Papuda, em Brasília. A morte ocorreu em virtude de um mal súbito.
Em depoimento exclusivo a Oeste, o homem, que prefere manter sua identidade em sigilo, disse que Clezão sempre apresentou problemas de saúde no presídio.
“Ele nunca esteve bem lá dentro”, ressaltou o homem. “Sempre vomitava, desmaiava. Muitas vezes teve de ir para o pronto-atendimento. Ele desmaiava no pátio. O médico da Papuda sempre foi atencioso com Clezão, mas o atendimento era demorado. Os carcereiros diziam que era frescura.”
Depois da morte de Clezão, o ministro Alexandre de Moraes determinou à Direção do Centro de Detenção Provisória, em Brasília, informações sobre o caso. O magistrado requisitou “a cópia do prontuário médico e o relatório médico dos atendimentos recebidos pelo interno durante a custódia”.
Clezão sofria com diabetes e era hipertenso
Os laudos médicos obtidos pela reportagem mostram que Clezão, de 46 anos, sofria de diabetes e hipertensão. Por isso, tomava medicação controlada. De janeiro a maio deste ano, Clezão recebeu seis atendimentos médicos. Em uma das ocasiões, precisou ser levado ao Hospital Regional da Asa Norte.
Esse histórico de problemas foi insuficiente para tirá-lo da prisão, embora a Procuradoria-Geral da República (PGR) tenha emitido parecer favorável à sua soltura. Moraes, relator do caso, não analisou o pedido.
“Clezão poderia estar em casa, com sua família, há muito tempo”, lamentou o homem, que conviveu com Cleriston na Papuda. “Ele não teve a oportunidade de ser livre de novo. Morreu na cadeia. Foi preso injustamente por um ditador sem vergonha, que pensa que manda no Brasil.”
O homem, condenado a quase 20 anos de prisão pelos atos do 8 de janeiro, disse que perdeu as esperanças de sair da cadeia. “Por mais que já esteja provado que eu não estava no Quartel-General do Exército”, acrescentou. “Não tenho mais vida. Não tenho coragem de sair. Tenho vergonha de conversar com as pessoas.”
Mourão entra em cena
O senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) disse que a morte de Clezão reforça a necessidade de o Congresso Nacional votar o projeto de lei (PL) que prevê a anistia para os detidos nos atos do 8 de janeiro. “A falta do devido processo legal a essas pessoas está destruindo vidas e famílias”, constatou o parlamentar.
O projeto citado por Mourão avalia como injustas as penas estabelecidas pelo Supremo. De acordo com o ex-vice-presidente da República, uma parcela considerável dos presos estava na Praça dos Três Poderes “somente para protestar”.
“A maioria não agiu em comunhão de desígnios e estava ali somente para protestar, sem a presença do dolo específico que esses crimes exigem”, diz um trecho do projeto. “As condenações que o Supremo Tribunal Federal vem aplicando aos acusados são, data vênia, desproporcionais e, por isso mesmo, injustas.”
Mourão afirma que o texto não pretende anistiar completamente os condenados pelos atos de vandalismo em Brasília. Continuarão em vigor, por exemplo, as punições aplicadas por deterioração do patrimônio tombado e associação criminosa.