A primeira-dama, Janja Lula da Silva, disse não se incomodar com quem pensa que ela não deveria “se meter em política” por não ter sido eleita. Segundo ela, quem faz críticas nesse sentido “não enxerga o mundo” de hoje. Janja afirmou que seguirá “ao lado” do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Vou continuar ao lado do presidente, porque acho que é esse o papel que tenho de desempenhar. Não é uma questão de ser eleita ou não. Existem ministros que concorreram e ganharam a eleição ao Senado ou à Câmara, mas a maioria não foi eleita e está lá [no governo]”, disse em entrevista ao jornal O Globo publicada neste domingo (5.nov.2023).
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Janja relatou um caso ocorrido durante a passagem de Lula por Portugal, em abril desde ano. “Em um evento no Parlamento de Portugal, duas senhoras do cerimonial falaram: ‘Seu lugar é atrás do presidente’. Falei: ‘Não, amor. Eu não fico atrás do presidente, sempre fico ao lado dele’”, declarou.
A primeira-dama disse que “falam muito” sobre ela ter ou não um gabinete no Palácio do Planalto. “Nos EUA, a primeira-dama tem. Tem também agenda, protagonismo, e ninguém questiona. Por que se questiona no Brasil? Vou continuar fazendo o que acho correto. Sei os limites. Eu quero saber das discussões, me informar, não quero ouvir de terceiros”, declarou.
“Falaram que fui a única primeira-dama que entrou com o presidente no dia da reunião do G20. Entrei porque ele [Lula] não soltou da minha mão e falou: ‘Você está comigo e vai entrar comigo’. Eu me sinto segura”, completou, acrescentando que não participa das reuniões no Planalto.
“O povo acha que eu fico lá sentada. Não faço isso. Todo dia, ele [Lula] tem uma reunião com os ministros do Palácio do Planalto, mas não estou nesses espaços de decisão. Minhas conversas com o presidente são dentro de casa, no nosso dia a dia, no fim de semana, quando a gente toma uma cerveja. Quando estou incomodada, eu vou lá e questiono. Não é porque eu sou mulher do presidente que vou falar só de marca de batom”, disse.
Janja voltou a falar em ressignificar o papel de primeira-dama. “Sempre foi muito quadrado, colocado numa caixa em que a mulher do presidente recebe pessoas e faz caridade. Eu sou socióloga e nunca fui de gabinete”, afirmou. “Ia para o campo. Achava que podia trazer essa experiência para cá. Querendo ou não, quase tudo que falo ganha amplitude. Por que não fazer isso por pautas que são relevantes?”, continuou.
“Por que a primeira-dama não pode também estar contribuindo com o desenvolvimento do Brasil? Continuo indo ao supermercado e à farmácia, e as mulheres me dizem que eu estou no caminho certo. O presidente sempre disse para mim: ‘Você vai fazer o que achar que tem que fazer’”, completou.
A primeira-dama disse que ela e Lula têm, “às vezes”, discussões mais “fortes” sobre temas como a participação de mulheres no governo. “Mas é isso. Tivemos duas perdas [de mulheres] no governo [Daniela Carneiro, ex-ministra do Turismo, e Ana Moser, que comandou o Ministério do Esporte]. Faz parte”, afirmou. Conforme o jornal, a entrevista foi feita antes da saída de Rita Serrano da presidência da Caixa, em 25 de outubro.
“Alvo preferido”
Janja foi questionada sobre ser alvo de críticas. Ela disse que a maioria é feita por meio das redes sociais. “Sou o alvo preferido dos bolsonaristas. Isso é fato. Por algum motivo, incomodo”, afirmou.
Ela contou ter tido uma conversa com uma diretora da Google. “Falei: ‘Sabia que digitando no Google ‘Janja prostituta’ aparecem trocentas fake news?’. Ficaram sem resposta, porque ganham dinheiro com isso. As big techs são responsáveis por muita violência digital. Já fiz denúncias. Tenho 3 processos na Justiça. Tem também a violência e o machismo do entorno. Entendo, mas não aceito”, declarou.
A primeira-dama não detalhou casos ou quem pratica “violência e machismo” em seu entorno. “O que as pessoas pensam e falam não está na minha governabilidade. Eu tento não levar para o lado pessoal e responder com trabalho”, disse.
Sobre Lula, afirmou que ele é “aberto” a se desconstruir em temas como o machismo. “Não posso exigir de um homem de 78 anos, com toda a bagagem, que vire algumas chaves de uma hora para outra. Não funciona assim com ninguém”, disse.
VIDA DOMÉSTICA
Janja afirmou ser um “privilégio e um orgulho” viver no Palácio da Alvorada, mas que sente falta de algumas coisas, como cozinhar. “Às vezes, tenho saudade de passar um pano no chão”, disse, acrescentando não renunciar a determinados hábitos.
“Ficar em casa, tomar nossa cervejinha, ouvir música na caixinha de som. Na minha playlist tem MPB, samba, Maria Rita e Zeca Pagodinho”, afirmou. “Toda 2ª feira, a gente assiste a um filme de faroeste. Não temos vida fora de casa”, completou.
Créditos: Poder 360.