Durante décadas, os ambientalistas foram – e ainda são – tachados de ecochatos, por dedicarem grande parte do tempo em fiscalizar e muitas vezes atrapalhar os planos de desenvolvimento do governo, que em nome do progresso costuma passar por cima de questões ambientais. Desvios de rios, políticas de impulsionamento dos combustíveis fósseis, desmatamento, impermeabilização excessiva do solo, são algumas práticas tão comuns que a maioria nem presta atenção. Mas a conta do comportamento abusivo em relação ao meio ambiente já chegou.
O aquecimento global é um fato e não uma possibilidade futura, como antes. A Amazônia passa pela quinta maior seca do século. A Defesa Civil declarou estado de emergência em 60 dos 62 municípios da região. A população não tem água na torneira e ainda passa fome, porque os rios baixaram tanto que não dá nem para pescar. E isso não acontece apenas no Brasil. Em agosto, uma seca sem precedentes causou o maior incêndio do século nos Estados Unidos. O fogo começou em uma floresta do Havaí, mas ganhou tamanha proporção que alcançou e destruiu a charmosa cidade turística de Lohaina.
Eventos como esses causam grandes sofrimentos, aumentam a pobreza e provocam impactos negativos à saúde. Diante de tanta miséria e dor, os médicos se uniram para cobrar mudanças urgentes que impeçam o avanço do uso dos combustíveis fósseis e ao mesmo tempo estimulem sua substituição por energia renovável. O apelo foi expresso em uma carta assinada por 29 especialistas que representam 3 milhões de profissionais saúde, no último sábado.
No documento, alertam para a escalada dos impactos negativos do aquecimento global: “Os profissionais que trabalham na linha de frente da saúde atendem ao crescente número de emergências provocado pelas mudanças climáticas”. De fato, os desafios da saúde são cada vez maiores. A queima de combustíveis fósseis mata 7 milhões de pessoas por ano no mundo. Pesquisas da Organização Mundial da Saúde associam desmatamento com o aumento de doenças infecciosas. As grandes catástrofes ainda provocam a elevação da migração da população para regiões vizinhas, nem sempre preparadas e com estrutura para atender os ovos moradores.
Os médicos expressam um sentimento de exaustão sem fim quando dizem na carta que, enquanto enfrentam “as feridas e o sofrimento, os combustíveis fósseis continuam a serem produzidos e os gases do efeito estufa continuam aumentando”. Basta saber se serão ouvidos pelas autoridades, a ponto de provocarem mudanças, ou se serão incorporados à lista dos “ecochatos”.
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