Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) registrou um recuo de 0,77% da atividade econômica em agosto na comparação com julho, após ter um crescimento de 0,44% no mês anterior
O resultado da prévia do Produto Interno Bruto (PIB) de agosto veio abaixo do esperado pelo mercado, e acende alerta de que a economia do país pode estar esfriando mais do que o governo tem considerado nas suas projeções, segundo especialistas disseram à CNN.
O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) registrou um recuo de 0,77% da atividade econômica em agostona comparação com julho, após ter um crescimento de 0,44% no mês anterior.
O número veio abaixo do esperado pelo mercado, que calculava uma queda de 0,3%, segundo projeções da Reuters.
“Vimos uma pressão no setor de serviços, mostrando que o poder de consumo da população está enfraquecido, ao mesmo tempo em que não tivemos as exportações de commodities como vetor para compensar essa queda”, explica Thiago Lourenço, operador de Renda Variável da Manchester Investimentos.
Para o especialista, o resultado aponta que, talvez, a economia adote um movimento diferente do qual ela vinha até então, o que começa a colocar pressão sobre expectativa de arrecadação do governo, com o objetivo de manter o espaço que ele tem para sustentar seus gastos.
“Se o governo precisar reduzir os gastos, isso provocaria uma redução na atividade econômica, porque o governo é um grande player de consumo e demanda no país. Nesse cenário, veríamos a manutenção do patamar de decrescimento na expectativa do PIB”, avalia.
No primeiro trimestre de 2023, o resultado do PIB foi de alta de 1,9% e somou R$ 2,6 trilhões, enquanto o segundo trimestre registrou um crescimento da economia de 0,9%. Com os dois resultados acumulados, houve avanço de 3,7% no primeiro semestre do ano.
“Ainda temos mais um trimestre, que normalmente é mais forte e costuma aquecer mais a economia. Mas fica um alerta de que, tirando os eventos não recorrentes, que é o ciclo de grãos e os gastos de fim do ano, podemos ter uma economia esfriando, mais do que o governo tem considerado nas suas projeções”, diz Lourenço.
Ele avalia que essa possibilidade pode forçar o governo a rever o que ele prevê para gastos públicos e para os níveis de tributação, já que um aumento de impostos coloca uma pressão direta sobre o consumo.
Desempenho dos setores
Marco Caruso e Igor Cadilhac, analistas do PicPay, ressaltam que a queda no desempenho da economia de agosto foi influenciada por quedas em quase todos os setores da atividade econômica, com destaque para a contribuição negativa dos transportes e dos serviços prestados às famílias.
“Olhando à frente, a grande questão é se esse resultado negativo se trata de um ponto de inflexão ou se deve a fatores temporários”, pontuam os especialistas.
Mas por ora, Caruso e Cadilhac ainda enxergam espaço para um bom desempenho no segundo semestre, sem grandes consequências nos preços, que já mostram uma dinâmica favorável.
Ricardo Pompermaier, estrategista-chefe da Davos Investimentos, pontua que o comportamento do setor de serviços no mês reflete o aperto monetário, que levou à queda nos serviços prestados às famílias, nos serviços de informação e comunicação e serviços de transportes.
Para o especialista, o quadro não altera a perspectiva de um crescimento de 3% do PIB em 2023 e de novo corte de meio ponto percentual na meta da Selic na próxima reunião do Copom.
Projeções
Para o terceiro trimestre, o IBC-Br e o PIB devem registrar queda, segundo Rodolfo Margato, economista da XP, em linha com a dissipação do choque positivo da agricultura e a desaceleração na demanda doméstica.
O especialista pontua que o efeito de carrego estatístico indica contração de 0,6% para a prévia do PIB no 3º trimestre ante o 2º trimestre.
A projeção preliminar da XP para setembro é de crescimento de 0,7% ante agosto e alta de 2,0% frente a setembro de 2022, devido sobretudo à recuperação esperada para o setor de serviços na margem.
“Com isso, o IBC-Br mostraria queda de 0,3% no 3º trimestre em comparação ao 2º trimestre (e elevação de 1,4% em relação ao mesmo período do ano passado)”, afirma Margato.
Para Antonio van Moorsel, estrategista-chefe da Acqua Vero Investimentos, o dado de agosto consuma a prevista desaceleração econômica, face à política monetária restritiva, e corrobora o prognóstico de atividade mais branda até meados do primeiro trimestre de 2024.
“O setor de serviços, responsável por cerca de 70% da economia doméstica, tende a permanecer em trajetória de arrefecimento e, sem o ímpeto da agropecuária observado nos primeiros meses do ano, as condições financeiras mais apertadas tendem a se sobrepor à política fiscal expansionista”, afirma o especialista.
A Acqua Vero Investimentos mantém uma projeção de estabilidade do PIB no terceiro trimestre, e de expansão de 3,0% em 2023.