Flávio Dino (foto) resolveu tratar o país como trata os parlamentares da oposição: com caçoada. Isso é inaceitável e não pode passar batido.
Dino foi obrigado a reconhecer nesta quarta-feira (30) que as imagens gravadas no Ministério da Justiça no 8 de janeiro foram apagadas. Segundo o ministro, há um contrato de prestação de serviços que regulamenta a captação dessas imagens e ele estabelece que os arquivos serão apagados a cada 15 dias. As informações são do Antagonista.
Com empáfia, Dino afirmou que gerir um contrato desse tipo não está entre as atribuições de um ministro de Estado.
Com desdém, disse que orientou o secretário-executivo de sua pasta a buscar outras evidências que por acaso existam.
Caçoando, acrescentou: “Essas imagens vão mudar a realidade dos fatos? Não, não vai aparecer um disco voador.” Segundo Dino, as gravações são “absolutamente irrelevantes para as investigações”.
“Não vai aparecer um disco voador, não vão aparecer infiltrados, não vai aparecer a prova desse terraplanismo que eles inventaram”, diz Flávio Dino ao se explicar sobre a ausência de imagens do circuito interno do Ministério da Justiça no dia 8 de janeiro. https://t.co/2mWDtCePK2 pic.twitter.com/YM91a4c5VM
— O Antagonista (@o_antagonista) August 30, 2023
Não cabe ao ministro dizer o que é ou não relevante numa investigação cujos alvos são ele e sua equipe. Cabe-lhe apenas aceitar como legítimo o desejo de alcançar um conhecimento completo sobre o 8 de janeiro, o que inclui saber o que faziam as autoridades do então recém-empossado governo Lula durante os acontecimentos.
Demandar informações sobre o que transcorria no prédio do Ministério da Justiça não significa equiparar quem estava lá dentro com quem invadiu as sedes dos Três Poderes, nem com quem insuflou por quatro anos a revolta de pessoas que acharam que poderiam subverter o resultado das eleições de 2022 com um golpe de Estado. Significa apenas que autoridades eleitas têm responsabilidades – como, por exemplo, zelar pela integridade de certos prédios públicos – e podem ser cobradas por elas, sem ter licença para espernear ou agir de maneira arrogante quando essa cobrança acontece.
Diante de algo tão extraordinário quanto a quebradeira do 8 de janeiro, qualquer autoridade com algum discernimento deveria correr para preservar as evidências que pudesse preservar. A alegação de que inexistia um “dever legal” de salvar as imagens do Ministério da Justiça, como disse Dino nesta quarta-feira, é absurda: bastaria seguir a lei do bom senso.
Diante do sumiço, entra em jogo a hipótese muito mais grave: a de que tenha sido um ato proposital. É claro que essa hipótese, agora, exige elucidação.
Quando a oposição pede os registros do 8 de janeiro, tem o interesse de constranger ou encrencar o governo do PT. O interesse do cidadão ou do eleitor – inclusive aquele que votou em Lula – é de um tipo mais básico: saber os detalhes de um dia que já entrou para a história. Pode-se dizer, aliás, que se trata de um direito a história. Dino, que de uns tempos para cá começou a se achar muito mais engraçado do que de fato é, não tem autorização para zombar disso enfiando na conversa discos voadores e outras palhaçadas.
O Antagonista