A luxuosa cobertura do edifício Itacurussá, em Ipanema, na Zona Sul do Rio, que ficou famosa pela polêmica envolvendo a construção de uma suposta piscina, guarda uma série de curiosidades. Point da alta sociedade carioca na década de 1980, o imóvel tinha na agenda semanal pelo menos duas festas black tie. Na lista de convidados dos jantares estavam grandes nomes da política brasileira que, na época, efervescia pela transição democrática. Se tivessem ouvidos, as paredes teriam ouvido Tancredo Neves e Ulysses Guimarães com interlocutores conversando sobre o fim da ditadura. Mas não só de sussurros políticos a cobertura construiu sua fama. Em um dos carnavais daquela década, hospedou o empresário Frederick Trump e seu filho, o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump.
— Ele era amigo do meu pai e do meu tio porque trabalharam juntos em alguns negócios. Numa das vindas ao Brasil, o filho veio para o Rio passar o carnaval e ficaram lá em casa. Muitos encontros políticos aconteceram no apartamento. Na época da transição da ditadura para a Nova República, eram frequentes os jantares com a presença de Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, por exemplo, às terças e quintas — relembra Arlindo Galdeano Filho, único herdeiro de Leda Lúcia e Arlindo Galdeano, empresários do ramo de importações e exportações.
O casal se conheceu na loja de grife europeia de Leda Lúcia em Copacabana, na Zona Sul do Rio. Ambos já tinham sido casados, mas não tiveram filhos. Com a paixão, logo formalizaram a união. Aproximadamente um ano depois, nasceu Arlindinho, como ficou conhecido o filho dos dois. O imóvel sempre foi da família, que o adquiriu ainda na planta, desde a construção do edifício nos anos 1970. O projeto original previa duas coberturas no andar, mas o patriarca insistiu para que fosse construída uma única em um andar inteiro, para a família. E assim conseguiu. O imóvel segue com o herdeiro, sem estar à venda.
— O sonho da minha mãe era ter um apartamento em que ela tivesse uma área livre que pegasse sol e chuva. Ela amava a natureza e valorizava muito esse contato. O meu pai fez uma surpresa para ela e não só comprou um apartamento que tinha esse espaço, mas que tinha esse espaço dentro de um quarto para ela, com área livre, do jeito que ela queria — conta o filho.
Borboletário e banheiro de 60m² dentro de suíte
O quarto que foi de dona Leda Lúcia é o maior da casa, com mais de 100 metros quadrados, sem contar a área do banheiro. O tal espaço a céu aberto foi telado e transformado em um borboletário pela primeira dama, que acompanhava com esmero as cerca de 300 borboletas de diferentes espécies que habitavam ali. Ocasionalmente soltava algumas. Ela também se preocupava em manter impecável o jardim de todo o imóvel.
O banheiro da suíte é um salão de 60 metros quadrados, com janelas de vidro de quase metade da parede para cima, de ponta a ponta. Uma bancada extensa com duas pias tem vista para as Praias de Ipanema e do Arpoador. Do box, com duas duchas, se vê o Cristo Redentor. Outras duas portas desdobram outros cômodos, ainda dentro do banheiro: uma sauna e uma salinha com sanitário.
Além desse, a casa tem três quartos – sendo um deles, a segunda suíte e outro um escritório –, três banheiros, cozinha, sala de estar, de jantar, living closet, varandas laterais e a frontal de frente para o mar, hidromassagem externa com deck, ofurô em um dos quartos e área de serviço. No segundo andar, o rooftop tem grama sintética, uma mini quadra esportiva, mesas de jantar, pufes e até uma fonte de água.
Porcelanas históricas, cadeiras banhadas a ouro
A cobertura fica ao lado do Country Club, na Avenida Vieira Souto, o que traz ares de casa de campo, pelo acesso rápido e prático a quadras, jardins e mais área verde. O edifício tem 14 andares mais os dois da cobertura, que não é duplex, mas sim, linear – o terraço é um rooftop com jardim suspenso. É exatamente isso que dá ao imóvel o status de maior cobertura linear do estado do Rio, com seus 1.300 metros quadrados.
A varanda frontal tem 45 metros de extensão, de onde se vê, de ponta a ponta, as praias do Arpoador, Ipanema e do Leblon. O fato de o prédio ocupar um lote único na quadra garante à penthouse visão 360° com privacidade, já que os prédios vizinhos estão a cerca de um quarteirão de distância.
Um dos elevadores do condomínio dá acesso direto à sala principal. De cara, piso de mármore e móveis “infotografáveis”, tamanha raridade e valor. A coleção de porcelanas fica exposta na sala de jantar, com peças remontam à Idade Moderna, entre os séculos 15 e 18. A mesa de vidro acomoda 14 pessoas, com cadeiras banhadas a ouro. Sentado em uma delas, Arlindo observa a vista para o mar.
— A sensação é que se está em um navio, só que em terra firme. Você só vê o mar. Esse o grande lance dessa cobertura, a raridade dela. É só virar o pescoço que de um lado você vê a vista para o Arpoador, em outro, o Dois Irmãos. Muito do valor está nesse convívio com a paisagem exuberante. A minha mãe viajava o mundo inteiro, mas dizia que o pôr do sol mais bonito era o daqui, que não tinha nada igual — descreve.
Era nessa mesa principal que aconteciam os jantares importantes, mas também cafés da manhã icônicos. A dona da casa fazia questão de que todos os dias fosse servido nada menos que um balde com gelo e champanhe Moët & Chandon, uma das marcas trazidas ao Brasil por Arlindo Galdeano pai, além do uísque Johnnie Walker.
Créditos: O Globo.