Imagens exclusivas mostram o resgate de quatro homens nigerianos que viajaram escondidos no leme de um navio – dispositivo que dá a direção do navio, da África até a Costa Brasileira.
A Polícia Federal recebeu o chamado de resgate por volta das oito horas da manhã. No local, o agente Rogério Lages se comunicou em inglês com um dos imigrantes, que pediu ajuda.
- Agente: Senhor, você fala inglês? Quantas pessoas?
- Nigeriano: Quatro, quatro.
- Agente: Nós estamos aqui para ajudar vocês, ok? Vocês tem alguma comida e água?
- Nigeriano: Não, não.
- Agente: Ok, primeiro eu vou pegar um pouco de água e um pouco de chocolate para vocês. Depois, eu vou te buscar. Você sabe nadar?
- Nigeriano: Não, não.
- Agente: Ok. Eu vou pegar alguns coletes salva-vidas para vocês, ok? Mas primeiro, vou pegar um pouco de água e um pouco de comida para vocês. Depois eu vou te dar os coletes salva-vidas.
Após cerca de 40 minutos, os quatro imigrantes foram resgatados.
“Eles informaram que já estavam há pelo menos três dias sem água num local insalubre, úmido, frio, a noite, quente durante o dia. Eles podem também eventualmente cair daquela estrutura no meio do oceano, o que seria fatal”, conta o agente.
Leme: espaço tem tamanho semelhante a uma caixa d’agua
A viagem dos imigrantes durou 14 dias, saindo do Porto de Lagos, na Nigéria, em um navio com bandeira da Libéria chamado Ken Wave.
Os nigerianos contaram que fizeram parte do trajeto sentados no leme e que na maior parte do tempo ficaram dentro da caixa da máquina do leme – um espaço que serve para a manutenção do dispositivo. Úmido e apertado, pode ter três metros de largura e três de comprimento, semelhante ao tamanho de uma caixa d’água.
Após o resgate, os quatro imigrantes ficaram sob responsabilidade da seguradora do navio. Dois deles retornaram para a Nigéria com as despesas pagas pela seguradora, enquanto Roman e outro imigrante chamado Matthew passaram alguns dias em um abrigo na região de Serra, na Grande Vitória, antes de viajarem para São Paulo, onde serão acolhidos por uma missão da Igreja Católica.
“Eles estavam muito debilitados em razão da falta de água, da falta de alimentos, mas não apresentavam nenhum tipo de doença aparente e foram encaminhados para um hotel, receberam alimentação e foram hidratados”, conta Eugenio Ricas – delegado e superintendente da Polícia Federal do Espirito Santo.
Os imigrantes chegaram a conversar com uma representante do Alto Comissariado para os Refugiados da ONU (ACNUR). Como solicitantes de refúgio, eles terão os mesmos direitos de um cidadão brasileiro. No entanto, dois deles decidiram voltar para a Nigéria, em viagem paga pela seguradora do navio.
A Defensoria Pública da União fez uma solicitação de refúgio para os dois imigrantes que desejam permanecer no Brasil.
Espaço tem tamanho semelhante a uma caixa d’agua — Foto: Reprodução/TV Globo.
O drama na Nigéria
A Nigéria é o mais populoso da África, com 218 milhões de habitantes e tem a maior economia do continente. Mas tem altos índices de pobreza e desemprego.
Somente neste ano, o Brasil já recebeu 230 solicitações de refúgio de nigerianos.
“A Nigéria vive um drama e vive um caos humanitário de saúde, de educação e de vida, que fazem com que haja uma grande vulnerabilidade, uma grande incidência inclusive de subnutrição no país. Nós temos há 21 anos um grupo terrorista na Nigéria chamado Boko haram, perseguindo populações não islâmicas”, destaca o coordenador adjunto do Observatório das Migrações, Luis Felipe Aires Magalhães.
Créditos: G1.