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Pelo menos 87 servidores do GSI foram dispensados após imagens mostrarem inação de militares em ataques a sede dos três poderes
A despeito do processo de renovação do Gabinete de Segurança Institucional, a fim de evitar ruídos e restabelecer a relação entre o Palácio do Planalto e as Forças Armadas, o Ministério da Defesa e o Exército têm absorvido alguns militares dispensados após as invasões dos três Poderes em 8 de janeiro.
O pente fino no GSI foi um pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) depois que imagens reveladas pela CNNmostraram a falta de comando de militares durante a invasão ao Palácio do Planalto, o que culminou na demissão do então chefe do Gabinete, Marco Edson Gonçalves Dias. As demissões ocorreram ao longo do tempo e o auge foi em 25 de abril, logo após a queda de Gonçalves Dias.
A exposição de imagens, que mostram, por exemplo, um dos militares oferendo água a um manifestante, aumentou a desconfiança de Lula com o órgão, que ordenou a dispensa de quadros ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Conexões
O contra-almirante Marcelo da Silva Gomes foi nomeado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em dezembro de 2021 para chefiar a Secretaria de Coordenação de Sistemas do GSI. O setor é responsável pela segurança espacial e defesa nuclear. Áreas que eram tidas como prioritárias pelo ex-ministro da pasta, general Augusto Heleno, homem forte de Bolsonaro.
Apesar do vínculo, Silva Gomes foi exonerado somente em abril deste ano, após a crise da divulgação de imagens dos atos criminosos do dia 8 de janeiro. Apenas sete dias depois, o contra-almirante foi nomeado assessor do Estado-Maior da Armada.
Situação semelhante ocorreu com o brigadeiro do Ar Max Cintra Moreira. Servidor do GSI desde abril de 2022, por escolha de Augusto Heleno, chefiava a Secretaria de Assuntos de Defesa e Segurança Nacional. Ficou no cargo até 25 de abril deste ano. Neste mês recebeu uma nova função de chefe do escritório de Governança Executiva do Estado-Maior da Aeronáutica.
Não são apenas os militares de alta patente que têm conseguido o feito de alçar a cargos mais altos dentro da própria estrutura do governo depois de serem exonerados do Palácio do Planalto.
Ao menos dois oficiais dispensados como “parte do processo de renovação da pasta”, conforme o governo anunciou em nota à época, conseguiram novos postos no Ministério da Defesa ou no Quartel-General do Exército em vez de seguirem para quartéis. É o caso do coronel Gladstone Barreira Júnior.
No GSI desde 2019, Barreira Júnior era diretor de gestão. Ou seja: o encarregado de fazer todas as compras e o controle dos servidores. Dentre essas tarefas, estavam as aquisições com cartão corporativo feitas pelos militares que faziam a segurança direta do presidente. Assunto que é alvo de investigação no Tribunal de Contas da União (TCU).
Coronel Barreira era homem de confiança do secretário executivo do GSI, general Carlos José Russo Assumpção Penteado, que também foi exonerado no processo de “desbolsonarização” da pasta. O coronel ainda tinha proximidade com o ex-ministro da Saúde e hoje deputado federal Eduardo Pazuello (PL/RJ), de quem foi diretamente subordinado quando comandou o Estabelecimento Central de Transportes (ECT) do Exército.
Na lista de ex-militares do GSI que foram alçados a novos cargos de confiança, está o 2° tenente Felipe Bello Bastos. Assessor militar na pasta, uma espécie de faz tudo no gabinete do ministro, foi exonerado em abril e nomeado em 11 de maio como assessor no gabinete do comandante do Exército, general Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva.
A CNN entrou em contato com o Comando do Exército e com o Ministério da Defesa em busca de posicionamento sobre essas nomeações. Até a publicação desta reportagem não houve resposta.
Militares x Civis
A relação entre Lula e as Forças Armadas atravessa desconfortos desde a campanha eleitoral pela forte ligação de militares e o ex-presidente Jair Bolsonaro – que tinha como candidato a vice, o general Walter Souza Braga Netto.
Desde os atos golpistas de oito de janeiro, o GSI já sofria um esvaziamento gradual, com a passagem da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para a Casa Civil e a segurança do presidente da República e familiares sob responsabilidade da Polícia Federal.
Com a divulgação de imagens pela CNN, que mostram o então chefe do GSI, general Gonçalves Dias, circulando pelo andar presidencial durante a invasão, mais uma vez sob desconfiança, o GSI passou por um processo de renovação de quadros, com a retirada de nomes ligados a Bolsonaro.
A sequente nomeação do general Marcos Antonio Amaro, ex-GSI de Dilma Roussef, para o lugar de Gonçalves Dias foi visto como um jeito de neutralizar a tensão instalada no Planalto.
Apesar das mudanças, ainda restaram nomes do antigo governo no Planalto. É o caso do coronel Laurence Alexandre Xavier Moreira, que recentemente foi promovido a diretor do Departamento de Segurança Presidencial.
Na gestão Bolsonaro, o militar ocupou função de chefia na Abin. Antes disso, trabalhou com o general Eduardo Villas Bôas, quando era Comandante do Exército. Mas coronel Laurence também trabalhou em governos do PT, entre 2004 e 2007, na segurança do presidente Lula.
CNN Brasil