Erguido entre o fim do século XIX e o início do século XX, o prédio hoje conhecido como Fábrica da Tacaruna volta ao centro das atenções públicas com o lançamento do edital de licitação para reforma e requalificação, com investimento de R$ 110 milhões. O aviso, publicado pelo Governo de Pernambuco no Diário Oficial na última terça-feira (23/12), abre caminho para uma nova etapa na história da megafábrica, situado na divisa entre Olinda e Recife, recuperando um espaço que já foi símbolo da industrialização açucareira e da produção têxtil no Estado.
Como surgiu a Fábrica da Tacaruna e qual sua trajetória?
A história da Fábrica da Tacaruna começa com a indústria do açúcar. No início da década de 1890, teve início a construção do que seria a primeira edificação em cimento armado do Brasil, um marco de engenharia para o período e para a modernização industrial em Pernambuco.
Em 1895, o prédio foi inaugurado como Usina Beltrão, empreendimento da Companhia Industrial Assucareira, também proprietária da Usina Steffen, em Brasília Teimosa. Em 1925, o imóvel foi adaptado para a “Companhia Manufactura de Tecidos do Norte” e passou a ser conhecido como Fábrica da Tacaruna, ativa até sua desativação em 1982. Veja as características da megafábrica:
| Aspecto | Descrição |
|---|---|
| Nome histórico | Usina Beltrão (inaugurada em 1895) |
| Localização | Entre os municípios de Recife e Olinda (divisa) |
| Importância arquitetônica | Primeira construção em concreto armado do Brasil e uma das primeiras refinarias da América do Sul |
| Função original | Refinaria de açúcar e instalação industrial |
| Transformação industrial | A partir de 1925, passou a ser Fábrica Tacaruna (indústria têxtil) |
| Período de funcionamento (têxtil) | Funcionou como fábrica têxtil até cerca de 1955 (e depois desativada definitivamente em 1982) |
| Situação atual | Desativada/abandonada por décadas; sofre degradação estrutural |
| Tombamento | Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (tombada em 1994) |
| Projetos recentes | Governo do estado anunciou restauração para abrigar Centro de Formação de Profissionais da Educação e Escola Técnica de Hotelaria e Gastronomia (prazo de 10 meses e investimento público) |
| Desafios de conservação | Estrutura sofreu abandono, deterioração e risco de desabamento antes dos projetos de restauração |
Como funcionava a antiga Usina Beltrão na Tacaruna?
A Usina Beltrão foi apresentada, em 1895, como um dos principais estabelecimentos industriais de seu gênero na América do Sul. O prédio abrigava setores bem definidos, com uma primeira parte destinada à lavagem de açúcar e um segundo andar utilizado como armazém, capaz de comportar cerca de 150 mil sacos de açúcar bruto.
O processo de beneficiamento incluía baterias de células com diferentes xaropes, além de um setor para o açúcar já refinado, que passava por pulverização. A produção diária estimada era de aproximadamente 60 toneladas, incluindo variedades para consumo interno e exportação, como o cristalizado, o granulado e o açúcar em pequenos cubos.
Por que a localização da megafábrica é considerada estratégica?
Desde a época da Usina Beltrão, a área hoje ocupada pela Fábrica da Tacaruna foi planejada para facilitar o transporte de mercadorias. O terreno se estendia da via férrea de Olinda, na altura do Campo Grande, até a estrada de rodagem do Norte, próximo à ponte da Tacaruna, a cerca de 3 quilômetros do centro do Recife.
O imóvel contava ainda com acesso ao Rio Beberibe, por meio de um canal com ancoradouro e cais reforçado, além da estrada para Limoeiro. Essa combinação de ferrovia, rodovia e via fluvial manteve o espaço atrativo para atividades industriais e hoje o coloca no centro de projetos de requalificação urbana e logística. Veja o anúncio da publicação do edital pelo Governo de Pernambuco:
Como será a reforma e requalificação da Fábrica da Tacaruna?
Com a publicação do edital de licitação em dezembro, o Governo de Pernambuco inicia o processo de escolha da empresa responsável pela reforma e requalificação da megafábrica. A proposta é recuperar a estrutura do antigo prédio industrial, preservar seu valor histórico e abrir caminho para novos usos culturais, econômicos e educativos.
A intervenção tende a seguir diretrizes globais de reaproveitamento de patrimônios industriais, buscando garantir a permanência da memória do lugar e, ao mesmo tempo, inserir o imóvel em novas dinâmicas urbanas. Entre os principais eixos geralmente previstos em projetos desse tipo, destacam-se:
- Preservação arquitetônica: manutenção de elementos originais relevantes, como a estrutura em cimento armado e fachadas históricas.
- Segurança e acessibilidade: adequação do prédio às normas atuais, com melhoria de acessos, circulação interna e sistemas de proteção.
- Integração urbana: articulação do imóvel com o entorno, aproveitando a localização entre Olinda e Recife e a proximidade com eixos de transporte.
- Uso econômico e social contínuo: definição de atividades culturais, comerciais, educacionais ou de serviços que gerem emprego, renda e visitação.
FAQ sobre a Fábrica da Tacaruna
- Quando a Fábrica da Tacaruna foi desativada? A antiga megafábrica, instalada no prédio da Usina Beltrão em 1925, foi oficialmente desativada em 1982.
- Quem foi Antônio Carlos de Arruda Beltrão? Antônio Carlos de Arruda Beltrão foi fundador e diretor-gerente da Companhia Industrial Assucareira, responsável pela Usina Beltrão e pela Usina Steffen, sendo homenageado no nome da usina instalada na Tacaruna.
- Por que o prédio da Tacaruna é citado como pioneiro em cimento armado? A construção iniciada no começo da década de 1890 é reconhecida como a primeira edificação em cimento armado do Brasil, o que reforça seu valor arquitetônico e histórico.