A decisão liminar do ministro Gilmar Mendes, que restringiu à Procuradoria-Geral da República (PGR) a iniciativa para pedidos de impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), passou a ser tratada em Brasília como um movimento jurídico diretamente ligado ao tabuleiro eleitoral de 2026, diante do temor de que uma maioria conservadora no Senado em 2027 altere o equilíbrio entre os Poderes e reabra de forma sistemática a discussão sobre a cassação de integrantes da Corte.
Como a direita planeja conquistar maioria no Senado em 2027?
Desde o fim das eleições municipais de 2024, partidos de direita, com destaque para o PL, intensificaram tratativas nos estados para transformar a disputa pelo Senado no eixo central da estratégia política de 2026. A meta é explorar o artigo 52 da Constituição, que dá ao Senado a prerrogativa exclusiva de admitir e julgar processos de impeachment de ministros de tribunais superiores e do procurador-geral da República.
Esse plano envolve acordos regionais entre siglas de direita e centro-direita, formação de chapas casadas para governador e senador e coordenação nacional com participação direta do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele tem indicado pré-candidatos, avalizado alianças e atuado para unificar grupos conservadores, o que, na visão de dirigentes partidários, pode garantir uma bancada robusta no Senado e forte influência sobre a agenda institucional.
Como a decisão de Gilmar Mendes busca conter o avanço da direita?
Nesse contexto, a liminar de Gilmar Mendes passou a ser lida por opositores como um freio antecipado à perspectiva de um Senado mais conservador a partir de 2027. Ao estabelecer que somente a PGR pode apresentar pedido de impeachment contra ministros do STF, o ministro afastou, por ora, a possibilidade de que senadores ou cidadãos ingressem diretamente com essas demandas, antes baseadas em legislação de mais de 70 anos.
Segundo informações da Gazeta do Povo, para o cientista político Antônio Flávio Testa, a medida tem traços de reação corporativa da Corte e reflete receio de que o impeachment de ministros deixe de ser excepcional e se torne rotina sob maioria conservadora. Ele também aponta preocupação nacional e internacional com decisões judiciais vistas como excessivas, o que teria levado o STF a se proteger preventivamente de novos embates com o Legislativo e de eventuais tentativas de intimidação institucional.
Qual é o impacto político da decisão no STF e na eleição de 2026?
Entre lideranças de oposição, a liminar de Gilmar Mendes é vista como uma barreira antecipada ao avanço da direita no Senado e à instrumentalização do artigo 52 em 2026. Ao reduzir a margem de ação direta dos parlamentares sobre pedidos de impeachment, a PGR passa a concentrar a chave de entrada para qualquer processo de cassação de ministro do STF, tornando o cálculo político mais complexo para a direita.
Diante disso, ministros do STF e integrantes do Planalto intensificaram conversas com governadores e senadores de centro e de esquerda para estimular candidaturas competitivas contra nomes fortes da direita. O objetivo é impedir a formação de uma supermaioria conservadora em 2027, com poder de pautar impeachment, influenciar a agenda legislativa e pressionar a própria composição e atuação da Corte.
O que pode acontecer até 2027 no embate entre Senado e STF?
Até 2027, o tema tende a permanecer central na agenda política e jurídica, com desdobramentos na tramitação da PEC de Cleitinho (Republicanos-MG), em eventuais recursos contra a liminar de Gilmar Mendes e em mudanças na chefia da PGR. Nesse cenário, diversos atores institucionais e analistas destacam alguns desfechos possíveis que podem redesenhar o uso do impeachment e o equilíbrio entre os Poderes:
- Aprovação ou rejeição da PEC que busca restaurar a prerrogativa ampla do Senado em pedidos de impeachment.
- Revisão da liminar pelo próprio STF, definindo parâmetros mais claros para a atuação da PGR.
- Nomeação de um novo procurador-geral com postura mais aberta ou mais restritiva a pedidos de impeachment.
- Formação de maioria conservadora no Senado que use o tema como instrumento de pressão política constante.
No curto prazo, o foco recai sobre a montagem das chapas ao Senado em 2026 e sobre a capacidade da direita de manter coesão interna em torno de um projeto de maioria. No médio prazo, a questão central é se uma eventual maioria usará o impeachment como forma recorrente de enfrentamento político ou se prevalecerá uma leitura mais restritiva desse mecanismo, preservando a estabilidade das instituições.
FAQ sobre decisão de Gilmar Mendes
- Quem pode pedir impeachment de ministro do STF após a liminar? Com a decisão, apenas a PGR passou a ter legitimidade para apresentar pedidos de impeachment de ministros ao Senado.
- Quantas cadeiras do Senado estarão em disputa em 2026? Estarão em disputa 54 vagas, o equivalente a dois terços do Senado.
- Por que Alexandre de Moraes é citado com frequência nesse debate? Porque é o ministro com maior número de pedidos de impeachment apresentados e concentra boa parte das críticas de grupos conservadores.
- O que é o artigo 52 da Constituição? É o dispositivo que estabelece, entre outras funções, que o Senado tem a prerrogativa de admitir e julgar impeachment de ministros de tribunais superiores e do procurador-geral da República.