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Engana-se quem pensa que os tipos sanguíneos se resumem a A, B, AB e O, positivos e negativos. Essas são as tipagens do sistema conhecido como ABO e são, de fato, as mais comuns e, consequentemente, as mais conhecidas pela população em geral.
No entanto, a Sociedade Internacional de Transfusão Sanguínea (ISBT, na sigla em inglês) já identificou ao menos 43 sistemas que descrevem mais de 373 antígenos sanguíneos diferentes e esse número não é definitivo. Sua diferenciação está, principalmente, nas proteínas que o compõem.
Entre os antígenos já conhecidos, alguns são extremamente raros, como o kell-null, também conhecido como sangue com fenótipo Bombaim. Esse tipo de fenótipo é encontrado em maior número na população de países como Finlândia, Japão e Reino Unido.
Segundo o Cadastro Nacional de Sangue Raro (CNSR), do Ministério da Saúde do Brasil, há apenas três pessoas cadastradas no país com esse tipo sanguíneo. O CNSR foi criado para o registro do quantitativo de doadores de sangue raro nos hemocentros públicos do país e, assim, conseguir localizá-los caso haja a necessidade de doação.
Pacientes com esse tipo de “modificação” no sangue só podem receber doação de pessoas que tenham o mesmo tipo de sangue e com a mesma “modificação”.
Esse grupo sanguíneo – também conhecido como “falso O” – não tem nenhum antígeno ABO, nem H.
“Cada tipo de sangue possui características únicas. No caso do fenótipo Kell-Null, o paciente não pode receber transfusão de nenhum sangue que possua a proteína Kell, presente em praticamente todos os tipos sanguíneos. Se isso acontecer, ele pode ter reação e ir à morte”, explica Cláudio Lucas Miranda, diretor do Hemocentro do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (HCFMB).
Força-tarefa para doação rara
No início do mês, a coordenação-geral de sangue e hemoderivados do Ministério da Saúde acionou os hemocentros do país para ajudar na procura de uma bolsa de sangue raro para uma mulher, internada em estado grave, que precisava de uma transfusão sanguínea em Teresina, no Piauí.
Para ajudar a paciente, uma força-tarefa foi montada. Após identificar que havia um possível doador em Botucatu (SP), o hospital do norte do país entrou em contato com o hospital do interior paulista. Que, por sua vez, precisou localizar o doador cadastrado que possui o sangue raro e convidá-lo a fazer a doação.
A bolsa de sangue viajou 2.600 km até chegar ao seu destino.
“Uma bolsa de sangue conservada em temperatura adequada, de 2 a 8 graus, pode ter duração de até 35 dias, o que torna bastante viável a transfusão entre pacientes que moram tão longe, como nesse caso”, explica Miranda.
O transporte do sangue raro foi feito de avião. Ele foi levado no mesmo dia para o Piauí e a paciente já pode recebê-lo. A mulher segue em tratamento.
“Não tem como fazermos uma modificação sanguínea em laboratório. Assim como na doação de órgãos, a doação de sangue precisa acontecer entre duas pessoas e que elas sejam compatíveis”, explica Garcia.
Para Rafael Pereira Nogueira, que fez a doação do chamado sangue raro, poder ajudar é mais que um ato de solidariedade e de amor ao próximo. “Saber que pude ajudar a salvar uma vida, que fiz o bem para alguém que estava precisando e que posso fazer isso até para alguém em outro estado me deixa muito feliz.”
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