A recente decisão da Justiça dos Estados Unidos de adiar o julgamento de Hugo Armando Carvajal-Barrios, conhecido como “El Pollo”, lança luz sobre uma colaboração potencialmente significativa do ex-general venezuelano com as autoridades americanas. Marcado inicialmente para 29 de outubro de 2025, o julgamento passa a ser aguardado para o dia 19 de novembro deste ano, conforme decisão do juiz Alvin K. Hellerstein, da Corte do Distrito Sul de Nova York. Este adiamento parece indicar que Carvajal vem fornecendo mais informações do que se esperava, colaborando em investigações que podem influenciar seu destino judicial.
Preso nos Estados Unidos após sua extradição da Espanha em 2023, Carvajal declarou-se culpado recentemente de quatro acusações relacionadas ao narcotráfico e narcoterrorismo. Uma parte notável das alegações envolve sua atuação dentro do Cartel de los Soles, uma organização que mistura tráfico de drogas e política, associada à elite militar venezuelana. Além disso, ele admitiu ter colaborado com as FARC e facilitado a distribuição de cocaína para a América do Norte, fatos que aumentam a complexidade do seu caso.
Quais são as expectativas para a colaboração de El Pollo?
A expectativa central em torno de Carvajal está em sua possível capacidade de apresentar provas substanciais em casos criminais complexos que possam envolver outros membros de alto escalão. A possibilidade de uma redução de pena, que pode chegar a 20 anos, depende agora da qualidade e efetividade das informações que ele está apto a fornecer. Além das acusações criminais diretas, ele está fornecendo detalhes intrigantes sobre a utilização de recursos da PDVSA, a estatal petroleira venezuelana, em operações de financiamento político.
Como as revelações podem impactar o cenário político internacional?
As afirmações de Carvajal de que a PDVSA foi usada para financiar partidos políticos e líderes na América Latina trazem implicações significativas. Figuras como os ex-presidentes Néstor Kirchner, Evo Morales, Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Lugo, Ollanta Humala, Manuel Zelaya e o atual presidente colombiano, Gustavo Petro, foram mencionadas como beneficiários desses repasses. Isso sugere um esquema de apoio transnacional que, se comprovado, pode reverberar em investigações políticas e criminais em diversos países.
Além da América Latina, partidos políticos europeus como o Podemos, na Espanha, e o Movimento 5 Estrelas, na Itália, também foram implicados. Detalhes sobre pagamentos ilegais através de mala diplomática, com a suposta autorização de Nicolás Maduro, revelam uma rede de conexões que se estende além das fronteiras latino-americanas. Esse impacto internacional das revelações de Carvajal pode instigar as autoridades de outros países a colaborarem em investigações globais sobre tráfico de drogas e corrupção política.
Qual é o papel de El Pollo na dinâmica do tráfico?
O envolvimento de Carvajal com o Cartel de los Soles indica uma simbiose entre o estado e atividades ilícitas, típica do narcotráfico venezuelano. Essa organização é vista como um braço de ação ilícita dentro das forças armadas do país, operando sob as diretrizes de altos funcionários do governo. Carvajal, tendo liderado a inteligência militar, está em uma posição única para oferecer insights sobre essa colaboração sombria entre militares e traficantes, além de revelar os mecanismos de lavagem de dinheiro através da PDVSA.
Estas ações e estruturas de financiamento não só sustentam organizações criminosas, mas também alimentam campanhas políticas, evidenciando um ciclo de corrupção que pode desestabilizar a confiança pública nas instituições democráticas. As revelações de Carvajal, portanto, não são apenas detalhes de crimes passados, mas aspectos da atualidade política que continuam a influenciar a governança em países da região.