Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados.
A deputada federal Júlia Zanatta (PL-SC), 37, conquistou mais de 110 mil votos dos catarinenses com o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro no Estado. Jornalista e advogada, Júlia defende pautas como a propriedade, a liberdade e a família. Em 2020, a parlamentar concorreu à prefeitura da cidade de Criciúma (SC). Na época, ela — que se define como antifeminista — foi atacada por feministas da região. As adversárias diziam: “Votem em mulheres, menos na Júlia”.
Um ano depois, quando já articulava sua candidatura para a Câmara, foi chamada pelo consórcio da imprensa de “antifeminista do fuzil”. Em vez de reclamar, ela adotou o termo em sua campanha eleitoral. Foi um sucesso.
“Meu eleitor me colocou aqui com um propósito”, declarou Júlia a Oeste. “Posso me desgastar um pouco, mas vou seguir na minha missão.” Leia os principais trechos da entrevista.
— Quais são as principais propostas que a senhora vai defender em seu mandato?
Com a conjuntura atual, nosso objetivo é fiscalizar o governo federal, tentar barrar alguns retrocessos que estão tentando passar e nos posicionar, pois existe uma tentativa de criminalizar a direita e de censurar a opinião. A esquerda quera ‘democracia de pensamento único’, o que não é democracia. Vamos nos defender. Temos condições de fazer isso se nos posicionarmos de modo firme e coeso, como estamos fazendo agora. O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), disse que Lula não tem números suficientes para aprovar coisa alguma na Casa, pelo menos neste momento. Desse modo, precisamos manter o ritmo. Fui eleita com o sonho de apoiar o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro para que o Brasil continuasse crescendo no mesmo ritmo que estava. Contudo, esse cenário mudou e estamos na defensiva. As minhas principais pautas envolvem a legítima defesa, que dá independência para a mulher se defender de qualquer tipo de violência, como estupradores e agressores. Além disso, defendo o nosso direito natural de propriedade, liberdade e família. Tudo isso existe antes mesmo de qualquer lei dos homens.
— A senhora acredita que a bancada conservadora, que se elegeu com o nome do Bolsonaro, vai se manter fiel às pautas ideológicas e ao legado do ex-presidente?
No PL, a maioria dos deputados foi eleita com a força do conservadorismo e do Bolsonaro. Mas outros deputados já eram do PL. Diferentemente do que a imprensa tradicional fala, todos nos damos bem, nos respeitamos, estamos alinhados e entendemos algumas diferenças. Não existe um bloco homogêneo. Partido é isso aí. Sim, vamos nos manter na oposição. Mas não estamos aqui para fazer a oposição do quanto pior, melhor. Esse é o papel da esquerda. Eles fazem isso, mesmo que estejam votando algo que é bom para o país, se não é algo que eles gostam, eles não votam. Mas estamos aqui para debater ideias e não para brigar. Queremos aprimorar as leis que regem a sociedade. O que for bom, não tem problema, podemos conversar. Só que, até o momento, não foi nos apresentado nada de bom. Mas, caso tenha, vamos apoiar. Atualmente, o que vemos é desejo de vingança e revanchismo.
— A senhora pretende criar algum tipo de frente parlamentar para defender o armamento civil?
Propus uma Frente Parlamentar da Liberdade e da Legítima Defesa, que possui 89 assinaturas. Mas pausei essa questão da frente, por enquanto, para resolver uma questão de urgência: barrar o decreto de armas do Lula. Desse modo, protocolei um pedido de urgência para a votação do PL 03/23, que sou coautora, a fim de derrubar o decreto das armas do Lula, que susta os direitos armamentistas. Tenho 124 assinaturas. Nesta semana, eu e outros deputados fomos encontrar o presidente Lira para conversar sobre o tema. Ele se mostrou muito receptivo e aberto. Lira entendeu o nosso lado. Saímos muito otimistas da conversa. Nesse governo, vemos que o ministro Flávio Dino, da ‘Inustiça’ ou ‘comunista da Justiça’, associa os clubes de tiros e os CAC’s a criminosos. Isso não pode acontecer. Não podemos permitir que ele fale essas coisas das pessoas que cumprem requisitos legais para comprar suas armas. Mas temos bastante deputados que participam das nossas conversas sobre o assunto.
— Por que a senhora é antifeminista?
O feminismo me excluiu. Antes de ser política, sempre que eu tentava dar uma opinião que não fosse baseada na caixinha ideológica do feminismo, era excluída. Todas as vezes que uma mulher fala algo que o movimento feminista não concorda, ela é considerada uma “não-mulher”. Na minha campanha para a prefeitura de Criciúma, em 2020, uma feminista falou: ‘Vote em mulheres, menos na Júlia Zanatta’. Nesse caso, o machismo não veio de nenhum homem, mas de uma mulher que faz parte do movimento feminista. Diariamente, somos criticadas e se a cada crítica eu desistir, não vou seguir a meta que tracei. Em todos os lados existem pessoas mal intencionadas que falam: ‘Está comprando muita briga’. Mas eu continuo fazendo o que tem que ser feito. Se o feminismo não me representa, e quer me colocar amarras, vou seguir sendo antifeminista. Se eu acho que o feminismo não me representa, vou lutar pelo verdadeiro direito das mulheres. Tem feminista que desmerece as donas de casa. Inclusive, existem livros sobre isso. Em A Mística Feminina, a autora Betty Friedan, ela diz que a dona de casa não tem o que fazer. Uma mentira, pois o trabalho de casa oferece uma sobrecarga enorme.
— Como é ser uma deputada antifeminista no Congresso?
É difícil, pois as feministas tentam a todo momento sequestrar a bancada feminina. Elas querem transformar a bancada feminina em uma bancada feminista. Nesta semana, fiz um pronunciamento no plenário da Câmara defendendo a deputada federal Bia Kicis (PL-DF), que estava falando sobre um projeto de lei, de autoria dela, que proibia a participação de homens em esportes femininos. Depois da fala da Bia, a Sâmia Bonfim (Psol-SP) chamou a Bia de louca. No mesmo momento, eu defendi a Bia. Quando um deputado está falando, o outro tem de ouvir. Às vezes, estou na reunião da bancada e não fico retrucando tudo o que não concordo. Vou falar no meu momento. Se não, vira um desrespeito generalizado. A bancada é feminina, ou seja, para todas as mulheres, independentemente de aspetos ideológicos. Se for para ser uma bancada feminista, algumas deputadas vão se retirar do colegiado. As mulheres conservadoras são maioria no Parlamento. Teve uma reportagem do jornal O Globo que demonstrou isso. A maioria é conservadora e devemos ser respeitadas. Essas pautas feministas estão entranhadas em qualquer projeto que olhamos. Sempre tem uma pegadinha. O projeto parece lindo e quando você vai olhar com atenção, percebe que tem algo para causar a discórdia entre homens e mulheres ou brancos e negros. Até o momento, me relaciono bem com as deputadas da bancada feminina. Uma relação harmônica e com educação, como deve ser.
Créditos: Revista Oeste/Rute Moraes.