Nesta quinta-feira (25/9), as investigações sobre as atividades ilícitas do Primeiro Comando da Capital (PCC) revelaram uma complexa rede de lavagem de dinheiro que resultou na compra de itens de luxo como iates, helicópteros e carros de alto padrão. Essa faceta luxuosa da organização criminosa foi destacada pela operação da Receita Federal, conhecida como “Operação Spare“. Essa operação não é um evento isolado, mas sim um desdobramento da contínua “Operação Carbono Oculto“, que investiga crimes relacionados ao mercado de combustíveis.
O esquema criminoso, que envolve uma teia de negócios de fachada operando há mais de 20 anos, utilizava diversas estratégias para ocultar e converter o dinheiro sujo em patrimônio legítimo. A investigação foi minuciosa e apontou que, entre 2020 e 2024, os envolvidos movimentaram aproximadamente R$ 4,5 bilhões, recolhendo apenas R$ 4,5 milhões em tributos federais.
Como funcionava o esquema do PCC?

A organização criminosa utilizava postos de combustíveis, motéis, franquias e empreendimentos imobiliários para operar suas atividades de lavagem de dinheiro. Postos de combustíveis eram a base operacional de cerca de 400 pertencentes à rede, que inclui 200 diretamente relacionados com o principal alvo da investigação. Paralelamente, 98 estabelecimentos de franquias e mais de 60 motéis estavam sob seu controle. Esses negócios combinados geraram uma movimentação financeira de mais de R$ 1,9 bilhão no período investigado.
Um dos exemplos mais alarmantes do ilícito esquema foi a distribuição de lucros desproporcional em que um motel distribuiu 64% de sua receita bruta declarada para seus sócios. Essa prática, considerada atípica e suspeita pelos investigadores, ilustra a extensão e a sofisticação das operações do PCC para ocultar e legitimar suas receitas criminosas.
Como o dinheiro lavado foi transformado em luxo?
A utilização de empresas de fachada foi uma parte crucial da estratégia empregada pelo PCC para camuflar suas atividades. Entre os bens adquiridos com o dinheiro ilegal, destaca-se um iate de 23 metros, que foi inicialmente comprado por um dos motéis e posteriormente transferido para uma empresa de fachada. Além disso, dois helicópteros, incluindo um sofisticado modelo Augusta A109E, e uma Lamborghini Urus registrada em nome de uma empresa patrimonial foram exemplos de aquisições financiadas com recursos lavados.
Os terrenos de motéis avaliados em mais de R$ 20 milhões também figuram neste portfólio luxuoso, evidenciando a magnitude dos ativos geridos por meio de atividades criminosas. Evidentemente, esse modus operandi não só ampliou o império econômico do PCC, mas também dificultou a identificação de seu real patrimônio dos órgãos fiscalizadores.
Qual o impacto da Operação Spare?
A “Operação Spare” desdobrou sua ação em seis municípios do estado de São Paulo, incluindo a capital, Santo André, Barueri, Bertioga, Campos do Jordão e Osasco. Nos locais, foram cumpridos 25 mandados de busca e apreensão, visando desmantelar a estrutura econômica do PCC. Apesar de todo o patrimônio bloqueado, este representa cerca de 10% de todo o patrimônio que se estima que o grupo realmente possua.
A Receita Federal constatou que retificações sistemáticas de declarações de Imposto de Renda foram realizadas, permitindo a inclusão de patrimônio em declarações antigas, pouco antes da decadência, sem comprovação de origem, para majorar artificialmente o patrimônio declarado em R$ 120 milhões.
- Desmantelamento de rede criminosa: A operação identificou e desarticulou uma rede composta por mais de 60 motéis, postos de combustíveis e lojas de franquias, utilizados para ocultar recursos ilícitos do PCC.
- Movimentação financeira ilícita: Entre 2020 e 2024, os estabelecimentos investigados movimentaram aproximadamente R$ 450 milhões, com distribuição de R$ 45 milhões em lucros e dividendos para os envolvidos.
- Uso de fintechs para lavagem de dinheiro: A organização utilizava uma fintech, identificada como BK Bank, para ocultar a origem dos recursos e reinvesti-los em ativos como imóveis e veículos de luxo, incluindo iates e helicópteros.
- Baixo recolhimento de tributos: Apesar da movimentação financeira significativa, os postos de combustíveis investigados recolheram apenas 0,1% do valor movimentado em tributos federais, evidenciando a prática de sonegação fiscal.
- Bloqueio de bens: Foram ajuizadas ações para o bloqueio de R$ 7,6 bilhões em bens de 55 réus envolvidos no esquema, visando recuperar valores sonegados e aplicar em políticas públicas.
- Apreensões e diligências: Durante a operação, foram apreendidos quase R$ 1 milhão em espécie, 20 celulares, computadores e uma arma de fogo, além de cumpridos 25 mandados de busca e apreensão em diversas cidades do estado.
- Continuidade das investigações: A Operação Spare é um desdobramento da Operação Carbono Oculto, realizada em agosto de 2025, e faz parte de um esforço contínuo das autoridades para combater a infiltração do PCC em setores econômicos formais e a lavagem de dinheiro associada.

FAQ sobre o esquema de lavagem de dinheiro do PCC
- Como o PCC consegue integrar o dinheiro ilícito ao sistema financeiro? O PCC utiliza empresas de fachada em setores variados, como postos de combustíveis e motéis, para simular receitas legítimas, permitindo a entrada do dinheiro sujo no sistema financeiro legal.
- Qual a importância das empresas de fachada para o esquema do PCC? Empresas de fachada são cruciais porque criam uma ilusão de operações comerciais legítimas, dificultando a identificação de atividades criminosas e permitindo a integração e a dissimulação de grandes montantes de dinheiro.
- Por que a distribuição de lucros é considerada suspeita? A distribuição desproporcionada de lucros, muito acima do padrão do setor, pode indicar tentativas de legitimar dinheiro ilícito, uma prática que gera suspeitas em investigações de lavagem de dinheiro.