No cenário atual dos direitos humanos, casos de ativistas enfrentando perseguições jurídicas por suas expressões artísticas, políticas ou pessoais têm gerado grande debate global. Um desses casos é o de Ibtissame Lachgar, uma ativista feminista marroquina, cuja condenação recente suscitou amplas discussões sobre os limites entre a liberdade de expressão e o respeito às tradições culturais e religiosas.
Ibtissame Lachgar, também conhecida como “Betty”, é uma figura proeminente no ativismo pelos direitos das mulheres e LGBTQIA+ no Marrocos. Co-fundadora do Movimento Alternativo pelas Liberdades Individuais, ela ganhou notoriedade por ações que desafiaram as normas sociais e culturais estabelecidas no país. Entretanto, sua prisão recente reflete o conflito contínuo entre práticas culturais tradicionais e a luta por direitos individuais.
O que levou à prisão da feminista?
A prisão de Lachgar foi motivada por uma publicação nas mídias sociais onde ela vestia uma camiseta com os dizeres “Alá é lésbica”. Esta frase foi considerada ofensiva por setores mais conservadores da sociedade marroquina, levando à sua condenação por insultos à religião islâmica, conforme estabelecido no Artigo 267-5 do Código Penal do país. Este artigo prevê punições severas para atos considerados desrespeitosos à religião.
Artigo 267-5 do Código Penal Marroquino: Este artigo estipula penas de prisão de dois a cinco anos e multas significativas para atos que, de alguma forma, insultem formalmente ou incitem contra a religião islâmica, especialmente se ocorrerem em espaços ou meios públicos, como discursos e publicações eletrônicas. Essa legislação atua como base para muitas das condenações por insultos à religião no país.

Qual é o impacto da sentença sobre os direitos das mulheres e da comunidade LGBTQIA+?
A sentença gerou um debate acalorado sobre os direitos das mulheres e da comunidade LGBTQIA+ no Marrocos e além. Enquanto alguns veem as ações de Lachgar como uma forma de expressão legítima, outros consideram que ofender símbolos religiosos cruciais fere a coexistência pacífica entre diferentes segmentos da sociedade. A questão central gira em torno de como proteger os direitos de expressão sem desrespeitar tradições culturais estabelecidas.
O slogan usado pela feminista é liberdade de expressão ou blasfêmia?
A controvérsia sobre o que constitui liberdade de expressão em oposição à blasfêmia é antiga e complexa. Este caso trouxe à tona a pergunta sobre até que ponto é possível estender a liberdade de expressão em sociedades onde a religião desempenha um papel central na vida social e na legislação. Advogados de direitos humanos e organizações internacionais têm argumentado que, independentemente do contexto cultural, a liberdade de expressão deve ser protegida, especialmente em casos relacionados a direitos humanos fundamentais.
Au Maroc je me balade avec des t-shirts avec des messages contre les religions, l'islam etc. On fait des collages avec @MALImaroc
— I. Betty Lachgar ♀️🔥 (@IbtissameBetty) July 31, 2025
Vous nous fatiguez avec vos bondieuseries, vos accusations. Oui l'islam, comme toute idéoligie religieuse, est FASCISTE. PHALLOCRATE ET MISOGYNE. pic.twitter.com/o7H91acDwo
O caso de Ibtissame Lachgar não é isolado. Em 2021, o poeta marroquino Mohamed Sekkat foi condenado a dois anos de prisão por uma publicação considerada ofensiva ao Islã. Além disso, em 2019, dois Youtubers foram presos por criticar publicamente o governo e as tradições religiosas do país. Tais casos ressaltam a aplicação rigorosa das leis de blasfêmia no Marrocos e o conflito contínuo entre liberdade de expressão e respeito às normas culturais.
Qual é o impacto dessa decisão na comunidade internacional?
Internacionalmente, a condenação de Lachgar não passou despercebida. Organizações de direitos humanos têm pressionado por sua libertação, argumentando que a sentença é excessiva e que prisões assim podem ser vistas como ferramentas de repressão contra ativistas que desafiam o status quo. A defesa de Lachgar também sublinhou sua condição médica delicada, advogando que o sistema prisional marroquino não possui a infraestrutura adequada para cuidar de uma pessoa que enfrenta uma batalha contra o câncer desde 2009.
A história de Ibtissame Lachgar destaca os desafios enfrentados por ativistas em todo o mundo que, muitas vezes, colocam suas vidas em risco para desafiar normas estabelecidas e defender direitos universalmente reconhecidos. Em um momento em que a voz dos defensores dos direitos humanos é mais crucial do que nunca, casos como o de Lachgar servem como um lembrete poderoso da importância da resistência pacífica e da solidariedade internacional em face da injustiça.
FAQ – Perguntas frequentes sobre o caso da feminista Ibtissame Lachgar
Quem é Ibtissame Lachgar?
Ibtissame Lachgar, também chamada de “Betty”, é uma ativista feminista marroquina, co-fundadora do Movimento Alternativo pelas Liberdades Individuais e conhecida pela defesa dos direitos das mulheres e da comunidade LGBTQIA+ no Marrocos.
Por que ela foi presa?
Ela foi condenada por insultar a religião islâmica, ao publicar nas redes sociais uma foto usando uma camiseta com os dizeres “Alá é lésbica”, o que foi considerado ofensivo segundo o Artigo 267-5 do Código Penal Marroquino.
O que diz o Artigo 267-5 do Código Penal Marroquino?
O artigo prevê prisão de dois a cinco anos e multas para quem insultar ou incitar contra a religião islâmica, especialmente de forma pública, incluindo publicações eletrônicas.
A decisão pode ser revista?
Em casos como esse, é comum que a defesa recorra da sentença, mas decisões judiciais envolvendo blasfêmia no Marrocos raramente são revertidas devido ao rigor das leis e ao ambiente social conservador.
Qual é a posição de organizações internacionais?
ONGs e entidades de direitos humanos condenaram a sentença, defendendo que ela fere a liberdade de expressão e demonstrando preocupação com as condições de saúde de Lachgar.
Há outros casos semelhantes?
Sim, outros escritores, artistas e ativistas também já foram presos no Marrocos por acusações de blasfêmia ou críticas públicas a tradições religiosas, sinalizando um padrão preocupante de repressão à liberdade de expressão no país.
Como a sociedade marroquina reagiu?
A sociedade está dividida: setores progressistas defendem Lachgar enquanto parte significativa, mais conservadora, considera suas ações provocativas e desrespeitosas às normas locais.