Na manhã desta segunda-feira (21/7), a presença do ex-presidente Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados chamou atenção não apenas pela visita política, mas por um fato incomum: Bolsonaro expôs publicamente a tornozeleira eletrônica que passou a utilizar por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). O uso do equipamento, determinado pela mais alta corte do país, marca um novo capítulo na trajetória judicial do ex-chefe do Executivo.
Diante de apoiadores no Congresso, o ex-presidente destacou a tornozeleira em seu discurso, associando a medida à expressão “máxima humilhação”. Ele relatou não ter cometido crimes como desvio de verba pública ou tráfico, definindo o monitoramento eletrônico como símbolo de uma injustiça, enquanto citava confiar na “lei de Deus”. O tema rapidamente se espalhou pelos corredores de Brasília, ampliando o debate sobre os limites e consequências das restrições impostas pela Justiça.
Por que Bolsonaro está usando tornozeleira eletrônica?
Ele mostrou. Olha aí a tornozeleira do Bolsonaro. pic.twitter.com/rWtQtBfHW8
— GugaNoblat (@GugaNoblat) July 21, 2025
O monitoramento eletrônico foi determinado pelo ministro Alexandre de Moraes, relator de uma investigação que tramita no STF. A medida foi proposta pela Procuradoria-Geral da República (PGR), que apontou preocupação com possível tentativa de fuga por parte do ex-mandatário, além de ações que poderiam intimidar ministros da Corte, membros da PGR e da Polícia Federal.
De acordo com informações divulgadas pelo órgão do Ministério Público, a decisão de restringir a liberdade de Bolsonaro veio acompanhada de outros pedidos: proibição de entrada em embaixadas estrangeiras e impedimento de contato com embaixadores. Essas ações visam conter o suposto risco representado à condução das investigações relacionadas à uma suposta tentativa de golpe de Estado e práticas antidemocráticas atribuídas ao ex-presidente.
Segundo o STF, as principais razões e medidas incluem:
- Risco de fuga: A Procuradoria-Geral da República (PGR) e o STF apontaram o risco de Bolsonaro deixar o país ou buscar asilo em embaixadas, o que justificaria a necessidade de monitoramento contínuo.
- Investigação de crimes: A tornozeleira faz parte de um conjunto de medidas relacionadas a investigações que apuram a suposta prática de crimes como:
- Coação no curso do processo: Suspeita de que Bolsonaro estaria agindo para dificultar o andamento de processos judiciais.
- Obstrução de investigação de organização criminosa: Alegação de tentativa de impedir a investigação de grupos criminosos.
- Atentado à soberania nacional: Indícios de que Bolsonaro estaria atuando, inclusive com auxílio de seu filho Eduardo Bolsonaro, para interferir na soberania brasileira junto a autoridades estrangeiras.
- Tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito e tentativa de golpe de Estado: Em conexão com os eventos de 8 de janeiro de 2023.
- Medidas cautelares adicionais: Além da tornozeleira eletrônica, outras restrições foram impostas, como:
- Recolhimento domiciliar noturno: Entre 19h e 6h em dias úteis, e integral nos fins de semana e feriados.
- Proibição de uso de redes sociais: Diretamente ou por intermédio de terceiros.
- Proibição de contato com outros investigados: Incluindo seu filho Eduardo Bolsonaro.
- Proibição de se aproximar e ter contato com embaixadas e autoridades estrangeiras.
- Busca e apreensão: Na residência e em outros endereços ligados a ele, resultando na apreensão de celulares, computadores e outros itens.
Quais as acusações enfrentadas pelo ex-presidente?

Jair Bolsonaro é réu em processos que investigam supostas tentativas de abolição violenta do Estado Democrático de Direito e outros delitos que possam ter atentado contra as instituições brasileiras. O documento apresentado pela PGR no STF cita ainda transferências financeiras de R$ 2 milhões, supostamente enviadas ao filho Eduardo Bolsonaro, que encontrava-se no exterior participando de atividades apontadas como obstrutivas à Justiça.
- Intimidação de autoridades, como ministros do STF e da PGR
- Busca por apoio internacional para sanções contra autoridades brasileiras
- Transferências financeiras consideradas suspeitas
Esses elementos compuseram o contexto para que restrições fossem determinadas pelo Judiciário, buscando preservar a ordem e o andamento das apurações.
Como foi a visita de Bolsonaro à Câmara?
A ida do ex-presidente gerou intensa movimentação nos corredores do Congresso Nacional. Após o encontro com parlamentares alinhados ao seu grupo político, houve tumulto em uma das entradas do plenário. Uma mesa de vidro acabou quebrada em meio à confusão, resultando em um corte próximo ao olho do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), de acordo com relados da deputada Caroline de Toni (PL-SC).
A origem exata do ferimento ainda não foi esclarecida, já que o incidente envolveu múltiplos participantes e grande movimentação no local. A situação ilustra o clima de tensão que envolve discussões políticas em torno do futuro de Bolsonaro e de seu grupo, em um ambiente já polarizado pelas recentes ações da Justiça.
Quais são as próximas etapas no caso?

Com a decisão de Alexandre de Moraes, Bolsonaro segue monitorado e com limitações impostas para garantir não só o bom andamento do processo, mas também para evitar ações interpretadas como tentativa de influência indevida em investigações futuras. O ex-presidente está, neste momento, submetido a medidas que incluem:
- Uso obrigatório de tornozeleira eletrônica
- Proibição de contato com determinadas autoridades
- Restrições à entrada em embaixadas estrangeiras
No Judiciário, o processo segue sob análise do STF, e medidas adicionais poderão ser adotadas a depender do andamento das investigações e dos desdobramentos dos casos em curso. O cenário indica um período de forte vigilância e expectativas acerca da atuação tanto das instituições quanto das lideranças políticas envolvidas no caso.