Nas últimas décadas, a questão do saneamento básico tem ganhado destaque em todo o Brasil, principalmente devido à sua influência direta na saúde e no bem-estar das populações urbanas. Estudos recentes demonstram como as cidades que priorizam investimentos em infraestrutura e eficiência no setor colhem resultados positivos não apenas no meio ambiente, mas também na qualidade de vida de seus habitantes. No cenário mais atualizado, destaca-se uma cidade paulista como referência nacional no tema.
O Instituto Trata Brasil, reconhecido nacionalmente por suas análises sobre saneamento, divulgou nessa terça-feira (15/7) um ranking com as 100 cidades mais populosas do país. Entre elas, Campinas, localizada no interior de São Paulo, alcança a liderança ao apresentar altos índices de abastecimento de água tratada, coleta e destinação de esgoto. Esses indicadores sinalizam não só o compromisso local com políticas públicas eficientes, mas também a importância do monitoramento contínuo das ações de saneamento.
Como Campinas se destaca no saneamento básico do Brasil?

Entre os critérios utilizados para definir o melhor saneamento básico do Brasil, destaca-se a combinação entre o amplo atendimento à população, a evolução das melhorias ao longo do tempo e os resultados obtidos em termos de eficiência operacional. Campinas, com mais de 1 milhão de habitantes, demonstrou evolução significativa nesses quesitos, especialmente no tratamento de esgoto, principal gargalo do setor em todo o território nacional.
O ranking do Instituto Trata Brasil considera não apenas a cobertura dos serviços de abastecimento de água, mas também o acesso à coleta e destinação adequada de resíduos líquidos. Além disso, a capacidade de expandir o acesso, reduzindo perdas durante a distribuição e tratando corretamente os dejetos, pesa bastante na avaliação. Em Campinas, praticamente toda a população está atendida com água potável e grande parte conta com coleta e tratamento de esgoto, refletindo em índices de saúde pública elevados e desenvolvimento socioeconômico.
Nota máxima em todos os quesitos avaliados: Campinas obteve nota 10 em todos os indicadores utilizados pelo Instituto Trata Brasil, que incluem:
- Atendimento total de água: A cidade universalizou o abastecimento de água tratada.
- Atendimento de coleta de esgoto: Conseguiu a universalização da coleta de esgoto.
- Índice de tratamento total de esgoto: Todo o esgoto coletado em Campinas é tratado.
- Índice de perdas na distribuição: A cidade apresenta um controle eficiente das perdas de água na rede de distribuição.
- Investimento médio per capita: Demonstra um alto investimento por habitante em infraestrutura de saneamento.
Universalização antecipada: Campinas alcançou as metas de universalização do abastecimento de água e coleta e tratamento de esgoto 10 anos antes do prazo estabelecido pelo Novo Marco Legal do Saneamento (2033).
Investimentos robustos e contínuos: A Sanasa, empresa responsável pelo saneamento em Campinas, realizou investimentos significativos, especialmente através do Plano Campinas 2030, que totalizou quase R$ 1,1 bilhão desde 2021. Esses investimentos foram direcionados para:
- Ampliação do número de reservatórios de água potável, aumentando a capacidade de armazenamento.
- Troca de redes antigas, reduzindo perdas e melhorando a qualidade do serviço.
- Ampliação da infraestrutura de esgoto.
- Aumento da resiliência da cidade no enfrentamento das mudanças climáticas.
Quais cidades se destacam ao lado de Campinas no ranking?
O Estado de São Paulo lidera em quantidade de municípios presentes entre os primeiros colocados, com cidades como Limeira, São José do Rio Preto, Franca e Santos figurando entre os melhores desempenhos. O destaque para Campinas é significativo, mas outros centros urbanos, como Niterói (RJ), Goiânia (GO) e Uberaba (MG), também apresentam avanços importantes, mostrando que políticas bem planejadas podem trazer resultados expressivos em diferentes regiões do país.
- Limeira (SP): segundo lugar e referência em investimentos contínuos.
- Niterói (RJ): exemplo de boas práticas em gestão de recursos hídricos.
- Santos (SP): histórico de infraestrutura consolidada e retomada de projetos atuais.
Esses municípios apresentam diferenças geográficas, climáticas e econômicas, mas têm em comum a adoção de estratégias que priorizam a universalização dos serviços de abastecimento e tratamento de resíduos. O estudo mostra ainda que, apesar dos bons exemplos, parte significativa do país permanece enfrentando desafios consideráveis em relação ao acesso aos serviços básicos, especialmente nas regiões mais periféricas.
Como o saneamento básico impacta a vida dos brasileiros?

A falta de infraestrutura adequada de saneamento básico afeta aproximadamente 16,9% da população do Brasil, ainda sem acesso pleno à água potável. Além disso, quase metade dos habitantes do país não conta com sistemas eficientes de coleta e tratamento de esgoto. Esses números refletem em maiores índices de doenças, impactos negativos à valorização dos imóveis e redução da produtividade no ambiente de trabalho.
- Saúde pública: Doenças transmitidas por água contaminada e esgoto sem tratamento são mais frequentes em áreas desassistidas.
- Meio ambiente: Lançamento inadequado de resíduos líquidos compromete mananciais e prejudica ecossistemas locais.
- Economia: Municípios com saneamento eficiente valorizam imóveis, atraem novos investimentos e melhoram o ambiente de negócios.
Impacto econômico da falta de saneamento: A ausência de saneamento básico adequado resulta em graves prejuízos para a economia brasileira. A perda de produtividade é significativa, pois trabalhadores adoecem com mais frequência, especialmente por doenças gastrointestinais e parasitárias ligadas ao consumo de água contaminada ou à exposição ao esgoto não tratado. Estima-se que, em 2012, o país perdeu cerca de 849,5 mil dias de trabalho apenas por afastamentos causados por diarreia e vômito, representando R$ 1,11 bilhão em custos de horas trabalhadas não aproveitadas. Além disso, os gastos públicos com saúde aumentam consideravelmente: em 2013, foram mais de 340 mil internações por infecções gastrointestinais, com grande impacto nas contas do Sistema Único de Saúde (SUS). Estudos do Instituto Trata Brasil apontam que, caso o Brasil universalizasse o saneamento, haveria redução de 15,5% nas mortes em internações, uma economia anual de cerca de R$ 27,3 milhões em internações hospitalares e um aumento na massa salarial dos brasileiros devido à redução de afastamentos e à valorização das áreas urbanas.
Apesar dos avanços observados em cidades como Campinas, os dados nacionais mostram que o investimento médio ainda está abaixo do necessário para universalizar o acesso aos serviços de saneamento no país. Debates recentes apontam a necessidade de ampliar tanto a aplicação de recursos quanto as estratégias de gestão, para que mais brasileiros possam usufruir de condições dignas de moradia e saúde.
Quais os desafios no Brasil?
Um dos principais desafios atuais é elevar o volume de investimentos de forma contínua, para que metas de longo prazo possam ser atingidas até 2033, conforme estabelecido pelo marco regulatório do setor. A ampliação do acesso depende não só da construção de novas redes, mas também da modernização de sistemas antigos e da educação ambiental junto à população.
Responsabilizar gestões públicas e privadas nas cidades mais populosas e buscar soluções inovadoras para áreas vulneráveis são caminhos para que o Brasil possa avançar no saneamento básico. Iniciativas como o fortalecimento de parcerias regionais e compartilhamento de experiências bem-sucedidas, especialmente aquelas observadas em municípios paulistas, podem guiar outras localidades em busca da universalização dos serviços nos próximos anos.