Durante visita aos Estados Unidos nesta terça-feira (15/7), o novo secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Mark Rutte, afirmou que o Brasil e outros países do grupo Brics podem ser alvo de sanções caso a Rússia não avance nas negociações por um cessar-fogo com a Ucrânia.
O representante da Otan reforçou que, caso Moscou não demonstre boa-fé para construir um cessar-fogo, há a intenção de promover novas sanções – denominadas secundárias – contra nações que mantêm laços comerciais ou políticos próximos ao governo russo. A pressão internacional aumenta ao passo que o presidente norte-americano, Donald Trump, apresentou um prazo de 50 dias para que a Rússia sinalize avanços concretos na resolução do conflito.
Como as sanções da Otan podem impactar o Brasil?
1️⃣ 🇪🇺🤝🇺🇸🚫🇧🇷🛢️🇷🇺 Secretário-Geral da OTAN, Mark Rutte, diz que o Brasil pode enfrentar uma tarifa de 100% por comprar petróleo russo.⤵️🧵 pic.twitter.com/KaG2lhTzb8
— Cida Queiróz⚡10 5 6 5 (@cidaqueiroz) July 16, 2025
A perspectiva de aplicação de sanções secundárias à economia brasileira evidencia o nível de influência que o contexto internacional pode exercer sobre políticas nacionais. Esse tipo de sanção induz restrições econômicas não apenas à Rússia, mas também a países que mantêm relações próximas, podendo afetar exportações, investimentos e cadeias produtivas brasileiras. O temor de imposição de tarifas de até 100% sobre produtos brasileiros exportados movimentou debates sobre a dependência do Brasil em relação a mercados externos e alianças comerciais.
Especialistas apontam que, além de tarifas elevadas, sanções secundárias normalmente incluem restrições a transações financeiras, dificultando acesso ao sistema bancário internacional e a linhas de crédito. No caso do Brasil, setores como agronegócio, siderurgia e tecnologia podem sofrer impactos diretos, resultando em efeitos sobre empregos e renda.
Impactos Econômicos
- Aumento de Custos de Importação: O Brasil importa uma parcela significativa de diesel da Rússia, sendo que mais de 60% do diesel estrangeiro comprado vem de lá. A imposição de tarifas de até 100% tornaria essa importação proibitivamente cara, forçando o Brasil a buscar outras fontes, o que poderia elevar os custos para consumidores e para setores que dependem do diesel (como transporte e agronegócio).
- Setor de Fertilizantes: O Brasil é um grande importador de fertilizantes da Rússia. Sanções poderiam dificultar ou encarecer a obtenção desses insumos essenciais para a agricultura brasileira, impactando a produção de alimentos e, consequentemente, a inflação.
- Comércio Exterior: As sanções secundárias podem dificultar o acesso do Brasil a mercados e financiamentos internacionais, caso suas transações com a Rússia sejam interpretadas como apoio econômico indireto a Moscou. Isso pode gerar instabilidade e incerteza para investidores.
- Pressão sobre a Balança Comercial: A alteração nas rotas comerciais e o aumento dos custos podem desequilibrar a balança comercial brasileira, afetando as exportações e importações em geral.
Impactos Políticos e Geopolíticos
- Dilema de Alinhamento: O Brasil, como membro dos BRICS e defensor de uma política externa independente, se vê em uma encruzilhada. As ameaças da OTAN o pressionam a tomar um lado em um conflito internacional, o que pode gerar tensões diplomáticas e dificultar sua posição de “não alinhado”.
- Relações Bilaterais: A manutenção do comércio com a Rússia, apesar das advertências da OTAN, pode gerar atritos nas relações do Brasil com os Estados Unidos e outros países ocidentais, potencialmente afetando acordos comerciais e cooperações em outras áreas.
- Fortalecimento de Blocos: A situação pode acelerar o fortalecimento de blocos como os BRICS, à medida que países ameaçados por sanções buscam alternativas e novas formas de cooperação que não dependam das moedas ocidentais.
- Segurança Nacional: A dependência brasileira de equipamentos de defesa de países membros da OTAN também é um ponto de atenção, já que, em cenários extremos, a recusa em vender esses equipamentos poderia ser uma consequência da postura brasileira.
Quais os objetivos das sanções propostas pela OTAN?

O objetivo central destas sanções é aumentar a pressão sobre a Rússia para acelerar acordos de paz. Ao ameaçar países parceiros, como o Brasil, Otan e Estados Unidos pretendem aumentar o isolamento internacional russo, tornando o custo de manter o conflito ainda mais alto. A estratégia busca restringir o fluxo de recursos e apoio político indireto à Rússia, na tentativa de influenciar as decisões do governo de Vladimir Putin.
- Pressão econômica: Ao dificultar relações comerciais de países aliados da Rússia, intensifica-se a busca por uma resolução diplomática para o conflito.
- Desestímulo ao apoio indireto: Países terceiros, como Brasil, são incentivados a reavaliar suas parcerias internacionais.
- Fortalecimento de alianças: Busca-se restabelecer alinhamento entre países da Otan e demais nações consideradas estratégicas.
Rutte destacou que o governo norte-americano cogita impor sanções secundárias a nações que continuem mantendo relações comerciais com Moscou em meio ao conflito. “Se a Rússia não levar a sério as negociações de paz, em 50 dias ele [Trump] aplicará sanções secundárias a países como Índia, China e Brasil”, declarou o secretário-geral a jornalistas após os encontros. “Meu incentivo para esses três países em particular é que você pode querer dar uma olhada nisso, porque pode te atingir muito forte. Então, por favor, ligue para Putin e diga a ele que ele precisa levar a sério os acordos de paz, porque, caso contrário, isso vai acontecer no Brasil, na China e na Índia.”
Quais as consequências para o Brasil caso as sanções sejam implementadas?

As potenciais sanções contra o Brasil podem gerar efeitos significativos na política interna e na economia. Com a entrada em vigor de novas tarifas, determinada previamente em decisões recentes dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, setores exportadores tendem a ser os mais atingidos. Além do impacto imediato nas receitas, as incertezas em relação ao mercado internacional podem afetar investimentos externos e negociações em curso.
Entre os desafios de curto prazo, destacam-se:
- Diminuição da competitividade dos produtos brasileiros em mercados-chave, sobretudo nos Estados Unidos;
- Maior instabilidade cambial, reflexo de volatilidade nos fluxos comerciais e financeiros internacionais;
- Revisão das políticas externas para mitigar efeitos negativos e diversificar parcerias comerciais.
Diante das possibilidades de retaliação econômica, o Brasil enfrenta a necessidade de refletir sobre suas estratégias exteriores e o posicionamento em foros multilaterais. O fortalecimento de acordos com mercados alternativos e o investimento em setores menos dependentes de exportações específicas despontam como caminhos para mitigar riscos. A diplomacia ganha papel de destaque, tentando equilibrar interesses nacionais com exigências de parceiros globais.
Ao mesmo tempo, o acompanhamento contínuo das dinâmicas internacionais é fundamental para antecipar movimentos e buscar soluções negociadas, evitando prejuízos para a economia e para a posição do Brasil no contexto internacional. A situação exemplifica a complexidade das relações exteriores em um mundo multipolar, onde decisões tomadas por grandes potências podem reverberar em diversas economias, exigindo preparo e adaptação constante.