O Ministério dos Direitos Sociais da Espanha encaminhou ao Ministério Público um pedido de investigação para apurar se houve violação da legislação que proíbe eventos considerados ofensivos a pessoas com deficiência durante a festa de 18 anos do jogador Lamine Yamal, do Barcelona.
A solicitação, feita nesta terça-feira (15/7), foi motivada por uma denúncia apresentada pela Associação de Pessoas com Acondroplasia (ADEE).
O que motivou a investigação sobre o evento de Lamine Yamal?

A solicitação do governo espanhol surgiu após denúncia feita pela Associação de Pessoas com Acondroplasia (ADEE), organismo integrante da Confederação Espanhola de Pessoas com Deficiência Física e Orgânica (COCEMFE). A entidade alegou que a participação de artistas com nanismo no evento poderia ferir normas legais que proíbem práticas capazes de expor pessoas com deficiência a situações vexatórias ou discriminatórias. Segundo a legislação vigente, é proibido realizar atrações ou espetáculos que possam ridicularizar ou desrespeitar indivíduos com qualquer tipo de deficiência.
Em nota pública, a ADEE informou que pretende tomar medidas legais e sociais para garantir a dignidade e o respeito das pessoas com nanismo. Para a associação, utilizar artistas com acondroplasia como entretenimento, especialmente em festas particulares onde haja exposição pública, perpetua estereótipos negativos e alimenta práticas discriminatórias. O foco da reivindicação é promover uma sociedade mais igualitária, com respeito pleno aos direitos humanos e à imagem das pessoas com deficiência.
- Denúncia de Discriminação: A Associação para Pessoas com Acondroplasia e Outras Displasias Esqueléticas com Nanismo (ADEE) apresentou uma queixa formal. A ADEE condenou a contratação de pessoas com nanismo para entretenimento, afirmando que isso “perpetua estereótipos, alimenta a discriminação e mina a imagem e os direitos” das pessoas com deficiência.
- Violação da Legislação Espanhola: O Ministério dos Direitos Sociais da Espanha solicitou à Procuradoria que investigue se houve violação da lei e, consequentemente, dos direitos das pessoas com deficiência. A legislação espanhola proíbe shows ou atividades recreativas que zombem ou desrespeitem pessoas com deficiência.
- “Objetificação” e “Tempos Medievais”: O Diretor Geral dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Jesús Martín, declarou que usar pessoas com nanismo como entretenimento as “objetifica” e “remete aos tempos medievais”.
- Figuras Públicas e Exemplo: A preocupação também se estende ao impacto que figuras públicas, como Lamine Yamal, podem ter. O Ministério enfatizou que essas figuras deveriam servir como aliados na construção de uma cultura de respeito, e não o contrário.
- Potenciais Penalidades: Se for comprovado que o evento incluiu “zombaria, ridículo ou escárnio”, os responsáveis podem enfrentar multas significativas, entre €600.000 e €1.000.000, de acordo com a reforma legislativa atualmente promovida pelo governo espanhol.
Como a situação impactou?

A contratação de artistas com nanismo para animar festas e outros eventos levanta debates frequentes em países que buscam garantir direitos iguais para todos. Por um lado, existem profissionais que afirmam atuar por escolha própria, desenvolvendo performances, danças ou habilidades circenses com autonomia. Por outro, entidades de representação social entendem que tais práticas podem reforçar percepções preconceituosas, principalmente quando o papel dessas pessoas limita-se ao entretenimento baseado em suas características físicas.
- Valorização do trabalho artístico: Alguns profissionais destacam o direito de exercer suas atividades livremente, sem restrições ligadas à sua condição física. Eles defendem que espetáculos com pessoas de baixa estatura podem ser realizados de maneira ética e digna.
- Risco de estigmatização: Entidades representativas alertam para a possibilidade de reforçar estereótipos e restringir as oportunidades dessas pessoas apenas a funções cômicas ou marginais, em vez de promover inclusão e diversidade em diferentes áreas profissionais.
- Legislação protetiva: O ordenamento jurídico espanhol estabelece a proibição de práticas que atentem contra a dignidade e o respeito às pessoas com deficiência, mesmo em ambientes privados, buscando evitar a reprodução de práticas discriminatórias.
Por que a discussão sobre dignidade e espetáculo é importante?
As questões envolvendo o respeito aos direitos das pessoas com deficiência evoluíram nos últimos anos. Atualmente, o debate gira em torno do limite entre autonomia profissional e proteção contra exposições consideradas ofensivas. Especialistas apontam que a integração plena de pessoas com nanismo depende da ampliação de oportunidades em diversos setores, ao mesmo tempo em que se combate a utilização de suas características físicas como fonte exclusiva de entretenimento.
No cenário espanhol contemporâneo, cresce a valorização de políticas inclusivas e do combate à discriminação no ambiente social e profissional. O caso envolvendo Lamine Yamal demonstra a importância de revisitar costumes e práticas culturais para promover uma convivência baseada no respeito mútuo. A repercussão do evento também evidencia a necessidade de diálogo entre entidades de classe, artistas envolvidos e autoridades, buscando equacionar os direitos à livre expressão artística e à proteção da dignidade humana.
Desta forma, o episódio coloca em pauta não apenas temas do universo esportivo e das celebridades, mas também provoca reflexão sobre inclusão, legislação e ética social. O resultado da investigação pode influenciar debates futuros e contribuir para o aprimoramento de políticas públicas voltadas à igualdade e ao reconhecimento pleno das pessoas com deficiência na Espanha e além.