PAG Nick representa uma das mais interessantes criações da indústria automobilística brasileira, e segundo o jornalista automotivo Renato Bellote, apresentador do canal Garagem do Bellote TV (@garagemdobellotetv), esse pequeno esportivo nacional “esbanja estilo e criatividade nacional”. O especialista, que é colaborador das revistas Driver e YachtBrasil e tem vasta experiência no segmento automotivo brasileiro, destaca que encontrar um exemplar bem conservado desse raro fora de série é uma verdadeira descoberta.
Criado por Anísio Campos, renomado designer brasileiro, em parceria com Paulo Goulart da Dacon, o PAG Nick nasceu como um projeto ambicioso de criar um automóvel genuinamente nacional. O modelo mencionado por Bellote, um exemplar de 1990 com motor 2.0, representa uma das últimas unidades produzidas dessa série limitada que marcou a história automotiva do país.
Por que o PAG Nick usava o chassi da Saveiro encurtado em 34 centímetros?
A solução técnica adotada pelos criadores do PAG Nick era inovadora para a época e demonstrava engenhosidade nacional. O projeto partia de uma Volkswagen Saveiro zero quilômetro, que tinha seu chassi cortado em aproximadamente 34 centímetros entre a parede da caçamba e a suspensão traseira, eliminando o balanço traseiro original.
Essa modificação permitia criar um carro compacto de apenas 3 metros de comprimento, menor que um Gol, mantendo a robustez e confiabilidade da plataforma Volkswagen. O processo de fabricação incluía a soldagem da suspensão traseira junto à parede da caçamba, seguida pela aplicação de nova carroceria em fibra de vidro projetada por Anísio Campos.
Qual a diferença entre as versões com motor 1.6 e 2.0 do PAG Nick?
O PAG Nick passou por uma evolução importante durante sua produção. Inicialmente lançado em 1987 com motor AP 1.6 refrigerado a água, desenvolvia 90 cavalos de potência e utilizava a plataforma encurtada da Saveiro. Essa primeira versão já impressionava pela relação peso-potência, pesando apenas 868 quilos.
A versão com motor AP 2.0, como a destacada por Bellote, chegou posteriormente utilizando a plataforma do Voyage e o mesmo propulsor do Santana. Com 112 cavalos de potência e 17,5 kgfm de torque, esse motor transformava o pequeno PAG Nick em um verdadeiro foguete para os padrões da época, oferecendo desempenho muito superior ao disponível em carros nacionais de porte similar.
Como Anísio Campos resolveu a questão da refrigeração no motor 2.0?
A adaptação do motor AP 2.0 do Santana no diminuto PAG Nick exigiu soluções criativas de Anísio Campos, especialmente para acomodar o propulsor maior no compartimento reduzido. O designer precisou reprojetar completamente a seção dianteira em fibra de vidro, criando um ressalto específico no capô para que o motor coubesse adequadamente.
Essa modificação, visível no sobressalto do capô mencionado por Bellote, era necessária para acomodar a tampa de válvulas do motor AP 2.0. O sistema de refrigeração também foi repensado para funcionar eficientemente no espaço disponível, demonstrando a capacidade técnica da equipe em superar limitações físicas do projeto original.
Quantas unidades do PAG Nick foram realmente produzidas no Brasil?

- Produção total estimada: Aproximadamente 130 unidades entre 1987 e 1991, considerando todas as versões
- Raridade: Apenas 36 unidades da versão com chassi da Saveiro foram fabricadas inicialmente
- Versões posteriores: A mudança para plataforma do Voyage permitiu maior produção, mas ainda limitada
- Status atual: Considerado um dos fora de série mais raros do mercado brasileiro
A produção limitada do PAG Nick se deveu principalmente ao alto custo de fabricação e ao preço final elevado, que superava significativamente o valor dos modelos dos quais derivava. A chegada dos carros importados no início dos anos 1990 também contribuiu para o fim da produção.
Quais eram os equipamentos especiais que vinham no PAG Nick?
- Bancos Recaro: Assentos esportivos importados que ofereciam melhor sustentação lateral
- Rodas BBS: Aros esportivos originais alemães que complementavam o visual diferenciado
- Painel Satélite: Design exclusivo com instrumentação específica para o modelo
- Volante quatro bolas: Característico dos esportivos Volkswagen da época, oferecendo melhor pegada
- Capô em fibra: Construção mais leve que contribuía para a performance geral do veículo
O interior do PAG Nick era cuidadosamente equipado para proporcionar uma experiência esportiva completa. O conjunto óptico traseiro aproveitava componentes da Quantum, demonstrando a inteligência no aproveitamento de peças disponíveis na linha Volkswagen.
O que torna o PAG Nick relevante na história automotiva brasileira hoje?
O PAG Nick representa um momento único da indústria nacional, quando pequenas empresas brasileiras tinham coragem e recursos para desenvolver projetos audaciosos. Anísio Campos, falecido em 2019, deixou um legado importante no design automotivo brasileiro, tendo criado também outros modelos icônicos como o Puma GT e o famoso “ovinho” Dacon 828.
Para colecionadores e entusiastas como Renato Bellote, encontrar um PAG Nick em bom estado é descobrir um pedaço da história automotiva brasileira. Esses raros exemplares representam a criatividade e o espírito empreendedor nacional, características que marcaram uma época em que o Brasil buscava sua identidade própria no segmento automobilístico, longe das limitações impostas pelas grandes montadoras.