Um avanço significativo na medicina está sendo observado no tratamento do diabetes tipo 1, graças a uma abordagem inovadora que utiliza células-tronco pluripotentes. Este método desperta interesse de profissionais de saúde e pacientes, pois indica a possibilidade de eliminar a necessidade de insulina injetável para indivíduos que apresentam dificuldade em controlar a doença.
A terapia, chamada zimislecel, foi desenvolvida em colaboração entre instituições canadenses e estadunidenses e está ganhando destaque nos meios científicos em 2025. A publicação dos primeiros resultados no respeitado New England Journal of Medicine aumentou a atenção sobre o potencial desta tecnologia na transformação dos cuidados do diabetes tipo 1.
O que é o diabetes tipo 1?

O diabetes tipo 1 é uma condição autoimune crônica que impacta principalmente crianças e adolescentes. Nesta doença, o sistema imunológico destrói as células do pâncreas que produzem insulina. Sem este hormônio, o organismo não consegue regular adequadamente os níveis de glicose no sangue, o que exige o uso constante de insulina sintética para evitar complicações graves.
Os desafios diários enfrentados por pessoas que convivem com a doença incluem monitoramento frequente da glicemia, administração de insulina e preocupação constante com episódios de hipoglicemia ou hiperglicemia. Técnicas atuais ainda não oferecem uma solução definitiva, por isso a busca por alternativas que proporcionem autonomia e previsibilidade tem sido prioridade para a comunidade científica.
Desafios do Diabetes Tipo 1
Conviver com diabetes tipo 1 apresenta diversos desafios diários e de longo prazo:
- Controle Glicêmico Constante: É necessário monitorar os níveis de açúcar no sangue várias vezes ao dia e ajustar as doses de insulina de acordo com a alimentação, atividade física e outros fatores. Isso exige disciplina e conhecimento contínuo.
- Risco de Complicações Agudas:
- Hipoglicemia: Níveis muito baixos de açúcar no sangue, que podem causar tremores, suores, confusão e, em casos graves, desmaios ou convulsões.
- Hiperglicemia e Cetoacidose Diabética (CAD): Níveis muito altos de açúcar no sangue, que se não tratados, podem levar a uma condição séria e potencialmente fatal onde o corpo começa a quebrar gordura para energia, produzindo cetonas.
- Impacto na Qualidade de Vida: A necessidade de monitoramento e injeções constantes pode ser estressante e impactar a rotina diária, viagens e atividades sociais. O medo de hipoglicemia noturna é uma preocupação comum.
- Complicações a Longo Prazo: O controle inadequado da glicose ao longo do tempo pode levar a sérias complicações, como doenças cardíacas, danos aos rins (nefropatia), problemas de visão (retinopatia, podendo levar à cegueira), danos nos nervos (neuropatia) e problemas nos pés.
- Custo e Acesso a Tratamento: A insulina e os suprimentos (seringas, agulhas, tiras de teste, dispositivos de monitoramento) são caros e nem sempre acessíveis a todos, especialmente em regiões com sistemas de saúde menos desenvolvidos.
- Desafios Psicológicos: Viver com uma doença crônica que exige gestão constante pode levar a ansiedade, depressão e estresse. A “fadiga de diabetes” é comum, onde as pessoas se sentem sobrecarregadas com a autogestão da doença.
- Educação e Autogestão: Aprender a lidar com o diabetes tipo 1 exige uma educação contínua sobre nutrição, contagem de carboidratos, uso de insulina, exercícios e como reagir a emergências.
- Gestão em Situações Específicas: Gravidez, doenças, estresse e mudanças na rotina exigem ajustes no plano de tratamento, tornando a gestão ainda mais complexa.
Como funciona o novo tratamento?
Desenvolvido por pesquisadores do Hospital Geral de Toronto, no Canadá, em parceria com a Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, o tratamento experimental se baseia no uso de células-tronco pluripotentes induzidas. Estas células são transformadas em ilhotas pancreáticas em laboratório, capazes de secretar insulina de forma semelhante às células naturais destruídas pelo sistema imunológico no diabetes tipo 1. O processo de implantação envolve a aplicação dessas ilhotas em um vaso sanguíneo que abastece o fígado.
Na nova abordagem, as células implantadas passam a produzir insulina internamente, sem a necessidade de injeções externas. Para evitar rejeição imunológica, os pacientes recebem medicamentos imunossupressores, equivalente ao que ocorre em procedimentos de transplante de órgãos sólidos.
- Transformação de células-tronco em ilhotas pancreáticas funcionais.
- Implantação dessas células em vasos sanguíneos do fígado.
- Produção endógena de insulina e acompanhamento com imunossupressores.
Quais os resultados já observados e o que esperar para o futuro?
Os primeiros ensaios clínicos de fase 2 envolveram 14 voluntários, dos quais a maioria recebeu a dose completa da zimislecel. Após um ano, aproximadamente 83% dos participantes alcançaram independência das injeções de insulina, um marco considerável para indivíduos que anteriormente enfrentavam controle glicêmico desafiador.
Além do abandono das aplicações de insulina, os pacientes apresentaram maior estabilidade nos níveis de glicose e ausência de episódios graves de hipoglicemia. Resultados laboratoriais indicaram níveis adequados de hemoglobina glicada, demonstrando eficácia no controle do açúcar no sangue. Efeitos colaterais observados foram descritos como leves a moderados, sem relação direta entre o tratamento e eventos adversos graves relatados.
- Suspensão do uso de insulina farmacêutica em grande parte dos pacientes do estudo.
- Estabilidade e controle rigoroso dos níveis glicêmicos.
- Monitoramento contínuo com relatos de boa tolerabilidade ao tratamento.
A imunossupressão ainda é um desafio?
Embora os resultados sejam considerados promissores, a necessidade de uso contínuo de imunossupressores representa um obstáculo para a ampla adoção da terapia. Pesquisadores e laboratórios parceiros investigam alternativas, como o encapsulamento de células para impedir a rejeição ou técnicas de edição genética para camuflar as células implantadas frente ao sistema imune.
O progresso na fase 3 dos estudos já está previsto, com participação ampliada e objetivo de validar os resultados para submeter o tratamento às autoridades regulatórias, como FDA e Health Canada. Somente após esta etapa é que a inovação poderá estar disponível para a sociedade, prometendo transformar o cenário do controle do diabetes tipo 1.
Em síntese, a aplicação de zimislecel representa uma nova esperança no enfrentamento do diabetes tipo 1. Caso a aprovação regulatória seja obtida nos próximos anos, esta abordagem com células-tronco poderá redefinir padrões de tratamento, ampliando a perspectiva de qualidade de vida para milhões de pessoas no mundo todo.