Em 2025, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e as plataformas de comércio eletrônico Amazon e Mercado Livre protagonizam um embate judicial de grandes proporções no Brasil. O motivo central dessa disputa é a comercialização de produtos eletrônicos sem homologação, considerados irregulares pelas normas brasileiras. Desde meados de 2024, a Anatel intensificou a fiscalização sobre o setor, buscando coibir a venda de itens que possam colocar em risco a segurança dos consumidores e a integridade das redes de telecomunicações.
O impasse ganhou destaque após a agência solicitar à Justiça o bloqueio das operações dessas plataformas no país. A justificativa apresentada envolve a persistência na venda de produtos não certificados, mesmo após a imposição de multas milionárias. Esse cenário levanta discussões sobre os limites da regulação estatal, a responsabilidade das empresas de tecnologia e os impactos de eventuais decisões judiciais para o mercado digital brasileiro.
Por que a homologação de produtos eletrônicos é exigida pela Anatel?
A homologação é um processo obrigatório para que equipamentos de telecomunicações possam ser comercializados legalmente no Brasil. A Anatel, órgão responsável pela regulação do setor, estabelece critérios técnicos e de segurança que precisam ser atendidos antes que qualquer produto seja disponibilizado ao consumidor. Esse procedimento visa garantir que os dispositivos não causem interferências prejudiciais às redes e não representem riscos à saúde ou à segurança dos usuários.
Produtos sem homologação podem apresentar falhas elétricas, emitir sinais fora dos padrões permitidos e comprometer o funcionamento de serviços essenciais, como telefonia e internet. Além disso, a ausência desse controle dificulta a rastreabilidade dos itens e a responsabilização em caso de acidentes ou danos. Por isso, a agência intensificou a fiscalização sobre os grandes marketplaces, exigindo que apenas produtos com código de homologação sejam ofertados.

Quais são os riscos dos produtos não homologados?
Itens eletrônicos não certificados podem trazer uma série de problemas para consumidores e para o próprio setor de telecomunicações. Entre os principais riscos estão:
- Falhas elétricas: Produtos sem testes adequados podem causar curtos-circuitos, incêndios ou choques elétricos.
- Interferências em redes: Equipamentos fora dos padrões podem prejudicar o funcionamento de redes de telefonia, internet e outros serviços essenciais.
- Concorrência desleal: Empresas que seguem as normas brasileiras enfrentam desvantagem diante da entrada de produtos irregulares, que muitas vezes têm preços inferiores por não cumprirem obrigações legais e fiscais.
- Riscos à saúde: A ausência de certificação pode resultar em exposição a radiações ou substâncias nocivas.
Esses fatores justificam a preocupação da Anatel e a adoção de medidas mais rigorosas para coibir a comercialização desses itens.
Como a disputa pode afetar o mercado digital?
O pedido de bloqueio das plataformas, caso seja acatado pela Justiça, pode gerar consequências significativas para o comércio eletrônico no Brasil. Além de impactar diretamente as operações das gigantes Amazon e Mercado Livre, a medida pode afetar milhões de consumidores e pequenos empreendedores que dependem dessas plataformas para vender seus produtos e manter suas atividades econômicas.
Especialistas apontam que um bloqueio dessa magnitude criaria precedentes jurídicos relevantes, podendo influenciar futuras decisões relacionadas à regulação do comércio digital. Também existe a preocupação com o impacto econômico, já que muitos negócios utilizam essas plataformas como principal canal de vendas. A discussão evidencia a necessidade de equilíbrio entre a proteção do consumidor, a livre iniciativa e o desenvolvimento do setor de tecnologia no país.
1. Aumento da fiscalização e responsabilidade das plataformas:
- Pressão por homologação: A Anatel está intensificando a fiscalização de produtos como celulares, carregadores, TV boxes, roteadores, repetidores e drones. Isso forçará as plataformas a exigirem mais rigorosamente que os vendedores comercializem apenas produtos homologados, o que pode levar a uma diminuição da oferta de itens “piratas” ou irregulares.
- Responsabilização dos marketplaces: A Anatel busca responsabilizar as plataformas pela venda desses produtos, aplicando multas (que já chegaram a R$ 50 milhões em alguns casos) e, em última instância, ameaçando bloquear o acesso aos sites. Isso pode levar a mudanças nas políticas internas das empresas e na forma como elas gerenciam seus vendedores.
2. Impacto nos vendedores e consumidores:
- Para vendedores: Aqueles que comercializam produtos não homologados terão que se adequar às normas da Anatel ou enfrentar a exclusão de suas contas. Isso pode afetar pequenos vendedores e a informalidade no mercado.
- Para consumidores:
- Maior segurança: A homologação garante que os produtos atendem a padrões de segurança e qualidade, reduzindo os riscos de falhas, explosões de baterias e interferências em redes de telecomunicações.
- Preços: A diminuição da oferta de produtos irregulares, que geralmente são mais baratos devido à falta de impostos e certificações, pode levar a um aumento nos preços de alguns itens.
- Disponibilidade: Alguns produtos específicos podem ter sua disponibilidade reduzida se não houver um processo de homologação ágil ou se a venda de itens não homologados for completamente banida.
3. Judicialização e insegurança jurídica:
- Disputas legais: Amazon e Mercado Livre já acionaram a Justiça, alegando que a Anatel não tem competência legal para regular marketplaces e que o bloqueio de sites só pode ocorrer por ordem judicial. Essa judicialização pode gerar um ambiente de insegurança jurídica, com decisões conflitantes e um longo processo para a definição das regras.
- Limites da atuação da Anatel: O debate levanta questões sobre os limites da atuação da Anatel, que tradicionalmente regula serviços de telecomunicações, e sua capacidade de estender essa regulação para o comércio eletrônico e a internet de forma mais ampla.
4. Mudanças nas práticas de e-commerce:
- Políticas de venda: As plataformas podem ser obrigadas a implementar políticas mais rígidas para a verificação de produtos e vendedores, incluindo a exigência de códigos de homologação no cadastro dos anúncios.
- Colaboração com a Anatel: As empresas (como Shopee, Amazon e Mercado Livre) já estão buscando canais de diálogo e cooperação com a Anatel, a fim de evitar medidas mais drásticas.
5. Impacto econômico:
- Pequenos e médios negócios: Um bloqueio ou restrição severa nas plataformas teria um impacto econômico significativo para milhões de brasileiros, incluindo pequenos vendedores, entregadores, empresas de logística e tecnologia que dependem desses marketplaces.
- Indústria formal: A disputa visa também proteger a indústria formal, que é prejudicada pela concorrência desleal de produtos irregulares que não pagam impostos e não seguem as normas.
Como consumidores e empreendedores podem ser impactados?
Para os consumidores, a garantia de adquirir produtos seguros e dentro das normas técnicas é fundamental. Já para os empreendedores, especialmente os pequenos e médios, a possibilidade de restrição ou bloqueio das plataformas representa um desafio significativo, podendo comprometer receitas e empregos. A disputa evidencia a importância de políticas claras e eficazes para combater a venda de produtos irregulares, sem inviabilizar o acesso ao mercado digital.
O desfecho desse embate entre Anatel, Amazon e Mercado Livre será acompanhado de perto por todo o setor, pois suas consequências podem redefinir as regras do comércio eletrônico no Brasil e influenciar a relação entre órgãos reguladores e empresas de tecnologia nos próximos anos.