Recentemente, o Tribunal de Justiça da Rússia trouxe à tona uma notícia que pode representar um marco no tratamento do câncer. A empresa farmacêutica russa Lina M, em colaboração com o Ministério da Indústria e Comércio da Rússia, anunciou o desenvolvimento de um medicamento inovador chamado Afotid. Este remédio, segundo informações divulgadas na quinta-feira (17/4), possui potencial para tratar o câncer em diferentes estágios, embora ainda não tenha sido amplamente reconhecido pela comunidade científica internacional.
O desenvolvimento do Afotid foi um processo longo e complexo, iniciado há mais de uma década. Durante esse período, o projeto enfrentou diversos desafios, incluindo cortes de financiamento, dificuldades impostas pela pandemia de COVID-19 e barreiras tecnológicas resultantes de sanções internacionais. Apesar dessas adversidades, a empresa conseguiu avançar no projeto, que agora está sob análise judicial devido ao uso de recursos públicos.
Qual é o potencial do Afotid no tratamento do câncer?

O Afotid está sendo testado em tratamentos com voluntários e, de acordo com dados apresentados ao tribunal, demonstrou segurança. No entanto, a ausência de publicações em revistas científicas internacionais levanta questões sobre a validação e eficácia do medicamento. A empresa Lina M e o Ministério da Indústria e Comércio da Rússia acreditam que o Afotid possui uma relevância social significativa, dado o seu potencial para impactar positivamente o tratamento do câncer.
O reconhecimento do tribunal russo sobre a importância social do Afotid é um passo importante, mas a falta de validação científica internacional ainda é um obstáculo a ser superado. A empresa planeja continuar seus estudos e buscar a realização de testes clínicos em larga escala para comprovar a eficácia do medicamento.
O que é Afotid:
- Afotid é um conjugado de partículas poliméricas contendo um medicamento anticâncer da classe da actinomicina ligado à alfa-fetoproteína recombinante (rAFP).
- A ligação com a rAFP visa direcionar o medicamento para células tumorais que expressam o receptor de AFP, potencialmente aumentando a eficácia e reduzindo a toxicidade em células saudáveis.
Mecanismo de Ação:
- O mecanismo de ação envolve a entrega direcionada do agente anticâncer (actinomicina) às células tumorais. A rAFP se liga aos receptores de AFP presentes em algumas células cancerosas, internalizando o conjugado e liberando a droga citotóxica dentro da célula tumoral.
- Estudos in vitro demonstraram que o Afotid tem uma citotoxicidade significativamente maior em células cancerosas (HeLa, SKOV3, MG-63) em comparação com a dactinomicina isolada, enquanto apresenta toxicidade mínima em linfócitos humanos normais.
- Estudos em modelos animais (camundongos com leucemia linfocítica P388 transplantável) mostraram um efeito antitumoral dependente da dose e uma inibição do crescimento tumoral de 100% com uma dose de 200 μg/kg. O Afotid também demonstrou um efeito prolongado e um aumento na expectativa de vida dos animais tratados com baixa toxicidade geral.
Potencial no Tratamento do Câncer:
- Os resultados pré-clínicos sugerem que o Afotid possui um potencial promissor como um medicamento direcionado para o tratamento do câncer, especialmente em tumores que expressam o receptor de AFP.
- A capacidade de direcionar a droga especificamente para as células cancerosas pode levar a uma maior eficácia terapêutica e uma redução dos efeitos colaterais em comparação com os quimioterápicos tradicionais.
Estágio de Desenvolvimento:
- Uma notícia de 2021 mencionou o “Afotid” como um medicamento antitumoral em desenvolvimento na Rússia. Na época, ensaios clínicos estavam ocorrendo na Bielorrússia, e havia planos para iniciar ensaios clínicos nos EUA em 2022.
- Não foram encontradas informações recentes e específicas sobre o status atual dos ensaios clínicos do Afotid.
Quais foram os desafios enfrentados?
O projeto do Afotid não foi isento de dificuldades. Em 2014, o Ministério da Indústria e Comércio rescindiu o contrato com a Lina M, alegando a falta de resultados concretos. O contrato, inicialmente avaliado em cerca de 150 milhões de rublos, foi alvo de disputas judiciais que resultaram na devolução parcial dos recursos. A decisão judicial levou em consideração fatores como a suspensão dos testes clínicos por falta de voluntários durante a pandemia e a necessidade de substituir equipamentos importados por versões nacionais.
Esses desafios refletem as complexidades envolvidas no desenvolvimento de novos medicamentos, especialmente em um cenário de restrições econômicas e políticas. A empresa, no entanto, permanece determinada a superar esses obstáculos e avançar com o projeto.
Quais os próximos passos para o medicamento?
O reconhecimento do Afotid pelo tribunal russo como um avanço de interesse público destaca a importância de continuar investindo em pesquisas médicas, mesmo diante de dificuldades. O futuro do Afotid dependerá de sua capacidade de passar por testes clínicos rigorosos e de obter validação científica internacional. Se bem-sucedido, o medicamento poderá representar uma nova esperança para pacientes com câncer em todo o mundo.
Enquanto isso, a comunidade científica aguarda com interesse os próximos passos da Lina M e do Ministério da Indústria e Comércio da Rússia. A continuidade dos estudos e a possível validação do Afotid poderão abrir novas portas para o tratamento do câncer, destacando a importância da inovação e da colaboração internacional na área da saúde.