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Em 1986, o mundo inteiro, mas principalmente a Europa, acompanhou assustado o acidente na usina nuclear de Chernobyl, no norte da Ucrânia, então integrante da União Soviética. Os efeitos foram sentidos em todo continente e aquela região continua desabitada, embora os índices de radiação estejam muito baixos. Uma apuração posterior mostrou que o acidente aconteceu por imperícia e negligência dos operadores.
Em 2011, o segundo mais grave acidente nuclear da história ocorreu em Fukushima, no Japão, em decorrência de um terremoto seguido de um tsunami, que levou a usina a ficar sem energia, provocando três fusões nucleares, explosões de hidrogênio e grande liberação de radiação.
São os dois únicos acidentes classificados como “sete” na escala internacional de eventos nucleares da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
Possíveis riscos de acidente nuclear em Zaporizhzhia
Agora, em 2022, o mundo assiste às acusações entre Rússia e Ucrânia de bombardeio na usina de Zaporizhzhia, no sul da Ucrânia, a maior da Europa. Tomada pelos russos desde o início da invasão, em fevereiro, o controle operacional ainda é dos ucranianos, segundo a AIEA, que fez inspeção no local em setembro.
Uma reportagem do Deutsche Welle (DW) ouviu especialistas, que apontaram risco de um acidente na usina ucraniana, causado por questões técnicas (como superaquecimento, em razão de falta de energia), ou por um bombardeio direito.
Nesse segundo caso, o físico e diretor de Segurança de Energia Nuclear da Union of Concerned Scientists, com sede nos Estados Unidos, Edwin Lyman, disse ao DW que a radiação seria liberada mais rapidamente e a gravidade das consequências seria entre o que aconteceu em Chernobyl e Fukushima.
No primeiro caso, estudos revelam que mais de 30 trabalhadores morreram como consequência direta do acidente na ex-União Soviética, e milhares de casos de câncer (entre 4 mil e 90 mil, conforme a fonte) seriam decorrência da radiação lançada na cidade de Pripyat, onde ficava a usina nuclear de Chernobyl, hoje uma cidade fantasma.
O relatório original sobre Chernobyl e o seu impacto na saúde, conduzido por agências da ONU e publicado em 1988, estimou que o acidente responderia, no fim, por 30 mil ou mais mortes por câncer, segundo Lyman. Estudos sobre o impacto de Chernobyl na saúde também apontam altos índices de depressão e ansiedade na população de áreas próximas.
Em Fukushima, relatórios oficiais concluíram que, embora muitas pessoas tenham morrido devido ao tsunami e ao terremoto, nenhuma morreu diretamente por causa do acidente nuclear.
Para Lyman, qualquer precipitação radioativa a partir de um possível acidente na usina de Zaporizhzhia provavelmente teria mais em comum com as consequências do desastre nuclear de Fukushima. “As consequências que levaram a uma dispersão tão grande e ampla da atividade radioativa em Chernobyl são possivelmente menos prováveis de ocorrer em Zaporizhzhia, que tem reatores de água leve, mais parecidos com os reatores existentes na Alemanha ou em outros lugares do Ocidente”, afirmou ao DW.
Relatórios recentes sobre a situação em Fukushima revelam que o acidente deixou apenas uma pequena marca no ambiente próximo, porque grande parte da radiação foi liberada no mar.
“Obviamente, Zaporizhzhia não tem saída para o mar, portanto, não seria esse o caso [de liberar radiação na água]. Mas, ainda assim, seria de se esperar, provavelmente, menos material radioativo liberado e dispersado”, avaliou Lyman, na entrevista ao DW.
Créditos: Revista Oeste.