Foto: Reprodução/O Povo.
Cientistas do Brasil estão na vanguarda de um projeto audacioso: recriar vírus da era neandertal em laboratório. As informações são da Revista Veja.
Assim como Arquimedes, o matemático e filósofo grego que se tornou um marco na ciência, Marcelo Briones, biólogo e professor da Unifesp, teve seu momento de iluminação científica. Sem a dramaticidade de correr nu pelas ruas, mas com a mesma intensidade de descoberta, Briones percebeu a possibilidade de rastrear as mais antigas infecções virais humanas durante uma aula aparentemente comum.
Com uma equipe multidisciplinar, incluindo a bióloga Renata Ferreira e o matemático Fernando Antonelli, Briones propôs um método para detectar vírus em DNA neandertal. Eles analisaram amostras de esqueletos russos, disponibilizadas pelo Instituto Max Planck, e se debruçaram sobre o que chamaram de “lata de lixo” de dados.
O Estudo
A pesquisa pioneira identificou três vírus em ossos neandertais de 50 mil anos: adenovírus, herpesvírus e papilomavírus, conhecidos por causar resfriado comum, herpes labial, verrugas genitais e até câncer. Essa descoberta pode ser a chave para desvendar um dos grandes enigmas paleolíticos: a extinção dos Neandertais.
O caminho até a publicação do estudo foi árduo, marcado por uma série de testes e seis revisões rigorosas. Apesar dos desafios e da percepção de um escrutínio mais intenso em pesquisas brasileiras, os resultados se mantiveram incontestáveis.
Desafios e Perspectivas
Ainda há muito a ser explorado. Uma teoria sugere que infecções virais podem ter comprometido a sobrevivência neandertal. Os dados de Briones apoiam essa hipótese, mas ainda não a confirmam definitivamente. A escassez de amostras neandertais e a degradação do material genético são obstáculos significativos.
Além disso, os vírus identificados não deixam marcas genéticas nos hospedeiros, o que dificulta a detecção ao longo do tempo. Segundo Paulo Eduardo Brandão, virologista da USP, analisar esses dados é comparável a montar um quebra-cabeça com peças de centenas de outros diferentes.
Os Próximos Passos
Os pesquisadores estão otimistas quanto ao futuro. Eles planejam aprofundar o conhecimento sobre a interação desses vírus com os neandertais e até recriá-los em laboratório. “Será como construir uma máquina do tempo”, diz Renata Ferreira, destacando o potencial de compreender não apenas o passado, mas o impacto atual dessas doenças.
A jornada científica está longe de terminar, mas a equipe celebra cada conquista. Briones compara a pesquisa no Brasil a um time local enfrentando um gigante europeu no futebol. E desta vez, o time local saiu vitorioso, marcando um ponto para a ciência nacional.