Crédito: FÁBIO LIMA
Descriminalizar, cuidar e reparar foram as palavras de ordem que ecoaram pela orla de Fortaleza na tarde deste domingo, 26 de maio, durante a 16ª edição da Marcha da Maconha. Uma multidão de manifestantes percorreu a avenida Beira-Mar com o objetivo de informar o público e combater o preconceito e o moralismo em torno da descriminalização da cannabis no Brasil.
A concentração das cerca de 2 mil pessoas começou às 15h ao redor da estátua Iracema Guardiã, e a marcha teve início às 16h20 em direção ao espigão da Praia do Náutico. Segundo a organização, o trânsito foi paralisado em alguns trechos, mas liberado em poucos minutos, sem registros de transtornos. Equipes de policiamento e da cavalaria acompanharam a movimentação, que ocorreu pacificamente.
Parte do movimento nacional “Maio Verde”, dedicado à luta antiproibicionista, a marcha deste ano se focou na oposição à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 45/2023, conhecida como “PEC das Drogas”. Os manifestantes argumentam que, se aprovada, a proposta aumentará o número de pessoas presas, principalmente negras e pobres, dificultará o acesso ao uso medicinal da cannabis, aumentará a estigmatização e a violência, e prejudicará o cuidado com a saúde dos usuários.
Tamara Silva, organizadora da Marcha da Maconha em Fortaleza e integrante da Rede Nacional de Feministas Antiproibicionistas (Renfa), destacou que a PEC reflete uma briga política entre o Congresso e o STF. Silva também argumentou que o proibicionismo tem raízes racistas, afetando desproporcionalmente pessoas negras e pobres.
Além da marcha, no sábado, 25, foi realizada a 3ª edição da Feira Cannábica do Ceará no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, com música, artesanato, exposições e atividades promovidas por associações e empreendedores do setor. O evento também ofereceu consultas grátis para terapia canabioide.
Henrique Alencar, outro organizador da Marcha, enfatizou a importância de conscientizar o público sobre a seriedade da questão, destacando que a luta é por uma questão de saúde pública e não policial. Ele defendeu o fortalecimento dos Centros de Atenção Psicossocial – Álcool e Drogas (Caps AD) com base em políticas de redução de danos.
A arquiteta e urbanista Sônia Bayma, que participou da manifestação, relatou como o uso do óleo de canabidiol ajudou a aliviar sintomas de ansiedade e insônia durante a pandemia. Bayma espera que o medicamento seja um dia disponibilizado pelo SUS para ajudar mais pessoas.
Ana Carla Bastos, fundadora da Associação Medicinal do Ceará (AMECE), criticou a hipocrisia da criminalização promovida pela PEC 45 e defendeu a liberdade de uso da cannabis. Ela relatou as dificuldades enfrentadas pela associação, incluindo invasões policiais, mesmo com regulamentação para uso terapêutico.
Ítalo Coelho, advogado e pesquisador de políticas sobre drogas, destacou o impacto da criminalização da cannabis nas mulheres, com muitas sendo presas por tráfico em condições de vulnerabilidade. Jaína Alcântara, professora e pesquisadora, complementou que mulheres são afetadas direta e indiretamente pela violência do sistema carcerário, sendo a maioria das visitantes de pessoas encarceradas.
A Rede Nacional de Feministas Antiproibicionistas realiza mutirões de orientação jurídica e oficinas para apoiar essas mulheres, buscando garantir direitos básicos e promover acolhimento e escuta.