Foto: Reprodução.
Reynaldo Gianecchini compartilhou uma série de fotos nas quais aparece maquiado para viver uma drag queen na peça Priscilla, a Rainha do Deserto – O Musical, prevista para estrear no próximo dia 7, em São Paulo, e recebeu diversos ataques. As imagens, que celebravam o Dia Internacional da Luta Contra a lgbtfobia, atraiu comentários criminosos.
“Meu Deus! Olha o que virou o Edu, de Laços de Família…”, comentou uma pessoa com emoji de choro. Outra disse: “O inimigo veio mesmo para destruir a obra de Deus. Vigiem, vigiem”.
“Gente, o que está acontecendo com os homens de uns tempos para cá? Sou gay, mas jamais me deixo levar por essas frescuras. Seja mais discreto e vai dar on offf”, comentou uma terceira.
Os comentários seguiram com falas como “Anos 1980, anos 1990 tinha isso não, o mundo está tão esquisito” e “Um homem tão lindo se presta a papel desse…”.
Mas muitas pessoas demonstraram apoio. Uma delas afirmou que o ator “está muito maravilhoso nessa produção” e contou que torce para que a peça seja apresentada na Bahia.
“Viva! Que sorriso verdadeiro e com felicidade genuína”, celebrou outra. Teve quem aproveitou também para misturar elogios à beleza e trabalho de Reynaldo Gianecchini: “Talentoso nato!!!! Orgulho desse ator maravilhoso!!!!! Meu Gato arrasa em qualquer intérprete….”.
A escolha de Gianecchini para viver Tick/Mitzi em Priscilla, a Rainha do Deserto, uma das histórias mais importantes do universo drag, tem desagradado artistas do segmento, que criticam a pouca afinidade que o ator tem com o tema. Gianecchini, inclusive, declarou que vai se inspirar em Xuxa Meneghel para o papel.
“Vem crescendo esse interesse em contar as histórias de pessoas trans, drags, travestis. Mas, em vez de chamar essas pessoas para narrar suas histórias, chamam pessoas como Reynaldo Gianecchini, que pouco se comprometem, pouco se posicionam, que têm mais passabilidade nos meios onde o dinheiro circula”, criticou a drag Sara, da dupla Sara e Nina, à Folha de S. Paulo.
O ator Fagner Saraiva, que faz a drag Papona, avalia que falta compromisso das grandes produções com o passado de exclusão de artistas drags.
“Precisamos repensar a prática midiática, precisamos falar das que vieram antes. A arte drag tem tomado uma grande repercussão depois de RuPaul, porém é necessário reverenciar as que abriram o caminho, que trouxeram esta arte como uma linguagem específica para nossa luta LGBTQIAPN+. As produções contemporâneas precisam ter um compromisso com isso, para que o apagamento histórico que está curso não se propague mais”, alertou Fagner à Folha.
Fagner, contudo, elogia a convocação de alguns nomes reconhecidos na cena. “Verónica Valenttino é um nome forte neste debate sobre ocupação dos espaços por direito, uma travesti nordestina que desbrava São Paulo e coloca sua identidade nas obras, fugindo do padrão eurocêntrico. Assim como a escolha da atriz Wallie. Nestes pontos dá para perceber grandes acertos da produção”, pondera.
Créditos: Metrópoles.