De acordo com informações do Estadão, em uma sexta-feira ensolarada, a pacata cidade de Itaitinga, localizada a 30 km de Fortaleza, foi palco de um crime que abalou seus 64.650 habitantes. No dia 31 de agosto de 2018, por volta das 12h12, João Roberto de Oliveira Martins, vereador eleito pelo PRTB, foi brutalmente assassinado em frente à Câmara de Itaitinga.
O Ministério Público do Ceará (MPCE) identificou os autores do crime como membros da facção criminosa Comando Vermelho (CV), originária do Rio de Janeiro na década de 1980. A facção, além de comandar áreas dominadas pelo crime em outros estados, também tem se infiltrado na política, buscando cada vez mais proximidade com o Poder Público.
Itaitinga tornou-se um exemplo dessa conexão entre política e crime organizado. Segundo investigações da Polícia Civil e do MP, o vereador mantinha ligações com a facção. Em troca de apoio político, os criminosos recebiam cargos e indicavam pessoas para trabalhar no gabinete do vereador. A investigação revelou que a mãe de um dos criminosos foi nomeada para trabalhar no Legislativo.
O motivo do crime, no entanto, não foi político. Segundo o Ministério Público, a motivação do crime estava relacionada à desconfiança de José Flávio de Sousa, apontado como líder do Comando Vermelho na região, sobre um suposto caso amoroso entre o vereador e sua ex-mulher.
Em novembro de 2023, cinco pessoas acusadas de envolvimento no crime foram condenadas pelo Tribunal do Júri de Fortaleza. José Flávio de Sousa foi sentenciado a 32 anos e um mês de prisão. Todos os condenados recorreram da decisão junto ao Tribunal de Justiça do Estado do Ceará (TJ-CE).
A investigação também revelou a influência do crime organizado nas eleições. Em uma das conversas interceptadas pela polícia, Rener Castro de Sousa, apontado como líder do Comando Vermelho na região, afirmou ter dado apoio financeiro a alguns candidatos a prefeito e vereadores em troca de futuros cargos.
O advogado criminalista, professor e doutor em direito penal pela Universidade de São Paulo (USP), Matheus Herren Falivene de Sousa, avalia que as ambições de organizações criminosas continuam para as eleições deste ano. Ele afirma que é comum as facções tentarem uma escalada dentro do Poder Público, começando pelo nível municipal e tentando escalar.