As crescentes tensões na fronteira entre Venezuela e Guiana, especialmente na região de Essequibo, e a crise humanitária na Terra Indígena Yanomami motivaram o Exército brasileiro a adiantar o reforço de suas tropas na Amazônia em 10%, conforme informou o general Ricardo Augusto Costa Neves, comandante militar da região, à Reuters.
Um contingente adicional de dois mil soldados será incorporado aos 20 mil militares já presentes na região. Essas forças adicionais desempenharão um papel crucial no patrulhamento da extensa fronteira de 9 mil quilômetros, que abrange os limites com Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e Bolívia. A região amazônica, caracterizada por densas selvas, tem sido alvo de atividades ilegais, como tráfico de drogas, garimpo ilegal, desmatamento por madeireiros e contrabando. O reforço militar visa lidar com esses desafios e garantir a segurança na região.
“Os últimos acontecimentos aqui ao norte, nos nossos vizinhos de norte, eles simplesmente anteciparam algumas ações que nós já tínhamos previstas”, disse.
“O comandante do Exército (general Tomás Paiva) determinou que nós aumentássemos a nossa presença na Terra Indígena Yanomami. Nós teremos dois pelotões especiais de fronteira naquela região”, acrescentou Costa Neves, general de infantaria quatro estrelas, em rara entrevista.
O reforço incluirá a criação de duas bases avançadas permanentemente implantadas dentro da reserva Yanomami, nos rios Uraricoera e Mucajaí, importantes vias de acesso dos garimpeiros que invadiram o território, adiantou ele. Essas bases vão dar apoio logístico aos órgãos ambientais, indígenas e de saúde, além de reprimir atividades ilegais em uma zona de 150 quilômetros a partir da fronteira.
A disputa decorrente da reivindicação da Venezuela sobre a região rica em petróleo de Essequibo, na Guiana, já levou o Exército brasileiro a enviar mais soldados, carros blindados e artilharia para o Estado fronteiriço de Roraima, com a criação de um novo regimento.
“Nós estamos triplicando praticamente o tamanho da organização militar. Já estava previsto no planejamento estratégico do Exército, nós estamos antecipando, assim como o recebimento de material de artilharia… todos esses mecanismos estavam previstos no nosso planejamento”, afirmou Costa Neves.
Os garimpeiros trouxeram doenças, destruição da floresta tropical e violência armada para as terras isoladas dos Yanomami, na fronteira com a Venezuela, causando desnutrição e mortes. O governo declarou no ano passado uma emergência humanitária e enviou uma força-tarefa para remover cerca de 20 mil mineiros.
Mas os garimpeiros ilegais começaram a regressar depois que as Forças Armadas reduziram suas operações e não conseguiram impor uma zona de exclusão aérea para os aviões que os transportavam para pistas de aterrissagem clandestinas na selva, disseram agentes ambientais à Reuters recentemente.
SEM FRACASSO
Costa Neves, que assumiu o comando da região em maio de 2023, rebateu críticas sobre a incapacidade dos militares em assegurar a segurança do território Yanomami no ano anterior. De acordo com ele, os dados do Exército falam por si.
O comandante destacou uma diminuição de 80% nas atividades de garimpo na área, além de uma redução de 90% nos voos ilícitos. Cerca de 80 barcaças de dragagem foram destruídas, e 22 aviões foram apreendidos ou destruídos.
Costa Neves ressaltou que as Forças Armadas distribuíram 36 mil cestas básicas, realizaram evacuações aeromédicas para 206 pacientes dos 6 mil Yanomami atendidos e detiveram 165 suspeitos de crimes ambientais. Além disso, foram transportadas 600 toneladas de alimentos e suprimentos por via aérea, sendo lançados por paraquedas nas comunidades indígenas.
“O ano passado, em toda a operação emergencial, foi o maior esforço aéreo da história da Força Aérea Brasileira. Será que isso é pouco comprometimento?”, disse.
“Esses números comprovam o nosso extremo comprometimento com a atuação ali na parte da fronteira, na terra indígena de Yanomami… nenhuma missão que foi levantada ali deixou de ser cumprida pela Força Terrestre, pelas Forças Armadas”, ressaltou.
O general destacou que a reincidência dos indivíduos envolvidos em atividades ilegais, denominada de “recidiva”, foi significativamente reduzida em comparação ao passado recente. Ele enfatizou a importância da cooperação e integração entre as instituições brasileiras, como a Funai, o Ibama e a Polícia Federal, para alcançar uma solução duradoura para a situação na região.
“Agora, para que nós tenhamos a certeza que esses ótimos resultados, eles se estendam ao longo do tempo, são necessárias medidas estruturantes para a consolidação delas. E é exatamente este momento que nós estamos vivendo”, disse, citando o aumento do efetivo do Exército, criação de novas bases e maior coordenação entre os órgãos envolvidos.
Com informações de InfoMoney