A instalação de uma megafábrica de celulose em Inocência, no Mato Grosso do Sul, coloca uma pequena cidade brasileira no centro de um dos maiores investimentos industriais já anunciados no país. A empresa chilena Arauco, referência global em celulose e produtos de madeira, decidiu aportar cerca de R$ 25 bilhões no chamado Projeto Sucuriú, com expectativa de geração de 20 mil vagas de trabalho ao longo das etapas de construção e operação, além de mudar a dinâmica social, urbana e ambiental da região.
Quais os impactos da megafábrica de R$ 25 bilhões para Inocência?
O Projeto Sucuriú foi concebido pela Arauco como a maior iniciativa de sua história, transformando Inocência em um polo global de celulose. A unidade deve se tornar uma das maiores fábricas de celulose do mundo, com capacidade anual estimada em 3,5 milhões de toneladas de fibra de eucalipto, ocupando uma área de cerca de 3,5 mil hectares.
Para um município de porte reduzido, o volume de recursos tende a alterar emprego, arrecadação, moradia e infraestrutura urbana de forma acelerada. A empresa afirma que pretende atuar em parceria com a população local, com foco em capacitação profissional e diálogo com comunidades vizinhas, enquanto especialistas alertam para a necessidade de equilibrar crescimento econômico, bem-estar social e preservação ambiental. Veja os benefícios para a região:
| Impacto | Antes (situação típica) | Depois (previsão/efeito esperado) |
|---|---|---|
| Emprego | Município pequeno (~8,7 mil hab.), mercado de trabalho local limitado. | Geração massiva de vagas: milhares durante obras (≈14–20 mil empregos diretos/indiretos) e centenas/alguns milhares em operação, grande aumento de ocupação. |
| Economia local (PIB/renda) | Economia local baseada em agropecuária e serviços modestos. | Aumento significativo de renda, consumo e arrecadação; estímulo a comércios, serviços e construção civil. |
| Fornecedores / cadeia florestal | Fornecedores regionais limitados; menor escala de florestas plantadas. | Ampliação da cadeia de eucalipto, novos negócios para viveiros, transporte, manutenção e insumos; oportunidade para fornecedores locais. |
| Infraestrutura (rodovias, energia, habitação) | Estrutura básica, estradas e serviços locais com capacidade reduzida. | Obras de infraestrutura (acessos, energia, redes) e demanda por moradia temporária/permanente; pressão por melhorias públicas. |
| Serviços públicos (saúde, educação, segurança) | Rede pequena adequada à população atual. | Aumento da demanda por serviços; necessidade de expansão do atendimento, risco de sobrecarga se não houver planejamento. |
| Energia | Demanda local baixa; oferta dentro da rede regional. | Unidade prevista para gerar energia (≈400 MW), com parte vendida ao sistema; potencial aumento de oferta elétrica regional. |
| Meio ambiente / água | Ecossistema local do Cerrado; áreas de conservação próximas. | Risco ambiental por grande planta industrial e uso de água; Arauco declara medidas de mitigação, mas ONGs e reportagens apontam preocupações sobre conservação e gestão de efluentes. Monitoramento e compensações previstas. |
| Demografia / mercado imobiliário | População estável e pequena. | Atração de trabalhadores temporários e permanentes → crescimento populacional, valorização imobiliária e pressão por habitação social. |
| Arrecadação / finanças públicas | Base tributária reduzida. | Aumento da arrecadação municipal / estadual (IPTU, ISS, ICMS) e possibilidade de maiores investimentos públicos, depende de acordos e regimes fiscais. |
| Riscos socioambientais | Baixa complexidade industrial local. | Riscos: sobrecarga de serviços, impactos sobre áreas protegidas, conflitos por terra, aumento de preços e desigualdade; mitigação exige fiscalização e planos sociais/ambientais. |
Como a megafábrica de celulose impactará a economia?
A linha de produção da nova fábrica contará com tecnologia de grande porte, incluindo equipamentos da finlandesa Valmet, responsável por cerca de 50% do projeto industrial. Entre os sistemas previstos estão uma unidade de gaseificação para geração de biocombustível, uma caldeira de biomassa e o que é descrito como a maior caldeira de recuperação química do mundo, essenciais para eficiência energética e redução de resíduos.
Além da produção de celulose, o Projeto Sucuriú deverá funcionar como um importante polo de bioenergia, com estimativa de geração de mais de 400 MW de eletricidade, dos quais cerca de 220 MW serão destinados ao Sistema Interligado Nacional. Segundo o governo estadual, esse volume poderia abastecer uma cidade do porte de Campo Grande e reforça o papel do “Vale da Celulose” como referência em tecnologia de base florestal no Brasil:
- Investimento total: cerca de R$ 25 bilhões
- Capacidade anual: 3,5 milhões de toneladas de celulose de eucalipto
- Área ocupada: aproximadamente 3,5 mil hectares
- Início previsto das operações: até o fim de 2027
- Geração de energia: mais de 400 MW, com 220 MW para o sistema nacional
Por que o Projeto Sucuriú é estratégico para o Mato Grosso do Sul?
O Mato Grosso do Sul vem se consolidando como um dos principais polos brasileiros da “economia da celulose”, com forte expansão de florestas plantadas e indústrias de base florestal. Com o Projeto Sucuriú, o estado reforça o chamado Vale da Celulose, combinando alta tecnologia, geração de energia renovável e aumento da competitividade internacional no setor.
A Arauco atua no Brasil desde 2002, com cinco plantas no Paraná e no Rio Grande do Sul, além de operações florestais no Mato Grosso do Sul desde 2009. A megafábrica em Inocência tende a ampliar a cadeia de fornecedores, transportadoras, serviços e manutenção, elevando a arrecadação tributária e atraindo novos investimentos ligados à indústria florestal e à bioeconomia:
- Expansão da base florestal de eucalipto na região.
- Fortalecimento da imagem do estado como referência mundial em celulose.
- Criação de empregos diretos e indiretos em diferentes setores.
- Incremento da arrecadação municipal e estadual.
- Estímulo a projetos de infraestrutura e qualificação profissional.
Quais serão os próximos passos até o início da operação?
As obras do Projeto Sucuriú já foram iniciadas, com previsão de que a operação comece até o fim de 2027, em fases cuidadosamente planejadas. Até lá, Inocência deve vivenciar forte mobilização de mão de obra, chegada de trabalhadores de outras regiões e aumento da demanda por saúde, educação, habitação, trânsito e saneamento, exigindo planejamento público coordenado.
Na frente industrial, a etapa atual envolve terraplenagem, montagem de estruturas, instalação de equipamentos de grande porte e implantação da logística interna, além da preparação da base florestal de eucalipto. Em paralelo, a empresa declara que investirá em iniciativas sociais e ambientais voltadas ao desenvolvimento social e econômico, fator que pode influenciar a percepção da população de Inocência e dos municípios vizinhos ao longo dos próximos anos:
- 2023–2025: fase intensiva de obras civis e instalação de equipamentos.
- 2025–2027: comissionamento, testes operacionais e ajustes de processos.
- Final de 2027: início previsto da operação industrial plena.
Veja mais detalhes do projeto no vídeo divulgado pela Prefeitura de Inocência, via Instagram:
FAQ sobre fábrica de celulose no MS
- Por que a Arauco escolheu Inocência para instalar a megafábrica? A escolha está relacionada à disponibilidade de terras para florestas plantadas, logística favorável dentro do Mato Grosso do Sul, acesso a infraestrutura energética e ao ambiente de negócios criado pelo estado para o setor de celulose.
- Que tipo de celulose será produzida no Projeto Sucuriú? A unidade foi planejada para produzir principalmente celulose de eucalipto, usada em papéis sanitários, papéis de imprimir e escrever, embalagens e outros derivados de alto valor agregado.
- A energia gerada pela fábrica será apenas para consumo próprio? Não. Parte da eletricidade será utilizada na própria operação industrial, mas cerca de 220 MW devem ser disponibilizados ao sistema elétrico nacional, contribuindo para ampliar a oferta de energia renovável.
- As florestas usadas pela megafábrica são nativas ou plantadas? O projeto se baseia em florestas plantadas de eucalipto, manejadas especificamente para abastecer a indústria de celulose, seguindo padrões de manejo florestal definidos pela empresa, por órgãos reguladores e, potencialmente, por certificações ambientais independentes.