Uma caminhada comum por uma área rural da região de Kutná Hora, na República Tcheca, transformou-se em um achado raro da arqueologia europeia: uma mulher encontrou um pote de cerâmica enterrado com mais de 2.150 moedas medievais de prata, os chamados denários, com cerca de 900 anos, que revelam um retrato pouco conhecido do passado da Boêmia, atual território tcheco.
Como ocorreu a descoberta do tesouro medieval em Kutná Hora?
O episódio aconteceu em maio do ano passado, em uma zona afastada de áreas urbanas, ainda marcada por antigos caminhos e terras agrícolas históricas. Ao notar fragmentos incomuns no solo, a mulher identificou parte de um recipiente de cerâmica que, ao ser verificado com mais cuidado, revelou centenas de pequenas moedas prateadas, algumas agrupadas como se tivessem sido depositadas de forma planejada.
Especialistas destacam que um tesouro dessa dimensão costuma aparecer em escavações sistemáticas, e não em passeios casuais. O conjunto foi rapidamente encaminhado ao Instituto de Arqueologia da Academia de Ciências da República Tcheca, em Praga, e ao Museu da Prata Tcheca, em Kutná Hora, reforçando a importância de comunicar achados arqueológicos às autoridades competentes.
Qual a importância histórica e econômica das moedas medievais de prata?
O tesouro de Kutná Hora é considerado um dos conjuntos de denários mais relevantes encontrados na última década na Europa Central. O volume de moedas acumuladas estava muito além da realidade de uma pessoa comum na virada dos séculos 11 e 12, sugerindo ligação com a nobreza, administração regional ou comando militar.
Análises iniciais indicam que os denários foram cunhados entre 1085 e 1107, abrangendo os governos de Vratislav II, Břetislav II e Bořivoje II, da dinastia Přemysl. A produção ocorreu, em grande parte, na Casa da Moeda de Praga, com prata importada para a Boêmia, permitindo mapear rotas comerciais de metais preciosos e a influência econômica da região.
Qual o contexto político e militar ligado ao depósito das moedas?
O depósito de mais de 2 mil moedas está associado a um período de forte instabilidade política na Boêmia. No início do século 12, disputas internas pelo trono de Praga geravam conflitos recorrentes, e era comum esconder valores em recipientes de cerâmica enterrados para protegê-los de saques e invasões.
Arqueólogos sugerem que o tesouro foi ocultado no primeiro quarto do século 12 e nunca recuperado, possivelmente devido à morte do proprietário em combate ou a deslocamentos forçados. Esse comportamento revela como pessoas influentes usavam reservas de prata como uma espécie de “seguro” em tempos de guerra e incerteza.
Como a ciência estuda a composição e a circulação dessas moedas?
No campo científico, o conjunto é uma fonte de dados sobre economia, política e tecnologia de cunhagem medieval. Exames por raio-X e espectrometria, em andamento, devem indicar a composição exata da liga metálica e a origem geográfica da prata, ajudando a conectar a Boêmia a outras regiões mineradoras europeias.
Além desses testes, especialistas analisam ícones, inscrições e variações de cunho para entender mensagens políticas e religiosas presentes nas moedas. Esses elementos, aliados a registros escritos, permitem reconstruir redes de poder, tributos e pagamentos militares na Europa Central do século 12. O Museu da Prata Tcheca coordena a limpeza, restauração e catalogação de cada moeda, com remoção cuidadosa de incrustações e registro fotográfico detalhado. A expectativa é apresentar o tesouro ao público em 2025, em uma exposição dedicada à história da prata e da moeda na Boêmia, com mapas, linhas do tempo e recursos interativos.
FAQ sobre tesouro com 2 mil moedas medievais
- Quem passa a ser o dono legal de um tesouro arqueológico encontrado por acaso? Na República Tcheca, achados arqueológicos pertencem ao Estado, e o descobridor deve comunicar as autoridades, podendo receber reconhecimento ou recompensa legal.
- Por que as moedas estavam todas reunidas em um único pote de cerâmica? O uso de recipientes enterrados era uma prática comum na Idade Média para esconder riquezas em períodos de guerra ou instabilidade política.
- O achado pode mudar o que se sabe sobre a história da Boêmia medieval? Sim. O volume e a datação das moedas ajudam a revisar o entendimento sobre poder econômico, conflitos e circulação de prata na região no século 12.