No início de 2021, o Senado Federal do Brasil foi palco de um episódio inusitado e emblemático, que rapidamente tomou proporções virais nas redes sociais. O senador Major Olímpio, uma figura notória pela sua atuação incisiva, subiu à tribuna do Senado para acusar abertamente os ministros das Forças Armadas de mentirem sobre promessas feitas aos senadores e à base militar do país. Essa acusação, que não teve réplica imediata, expôs um racha significativo dentro das Forças Armadas, um setor conhecido pelo seu tradicionalismo e unidade.
A denúncia de Major Olímpio centrava-se principalmente na reforma trazida pela Lei 13.954/2019. Essa medida, vendida como uma reestruturação das carreiras militares, beneficiou em larga escala os altos comandos enquanto amplificava o sentimento de insatisfação entre praças e pensionistas, que viram seus salários reduzidos. O senador acusou generais de desrespeitarem promessas feitas durante a tramitação da lei e de manterem um silêncio ensurdecedor após sua implementação. As informações são da Revista Sociedade Militar.
Quais foram os impactos da Lei 13.954/2019?
A Lei 13.954/2019, tida inicialmente como um avanço para modernizar a estrutura hierárquica das Forças Armadas, acabou mostrando-se controversa. Para muitos, ela simbolizou uma “desestruturação” das carreiras militares mais baixas. O aumento dos rendimentos do alto escalão contrastou fortemente com a diminuição salarial enfrentada pelos soldados e graduados, causando frustração e desilusão nas faixas inferiores da hierarquia militar.
Além da questão salarial, a lei introduziu uma polêmica bitributação sobre as contribuições previdenciárias, afetando diretamente os pensionistas militares. Essa manobra foi vista como uma violação aos direitos adquiridos e gerou um clamor entre aqueles que dependem dessas pensões para subsistência. Tais medidas alimentaram a percepção de um governo que, embora inicialmente próximo dos militares, traía sua base imprescindível.
Por que a denúncia foi considerada profética?
Na ocasião da denúncia, muitos consideraram as palavras de Major Olímpio como proféticas porque anteciparam um movimento político inevitável: o afastamento dos militares da base governista e a percepção pública de um distanciamento entre oficiais superiores e as fileiras inferiores das Forças Armadas. A aparente cegueira voluntária dos generais em cargos de poder não passou despercebida e gerou ressentimentos tardios entre a tropa, agravados pela percepção de um tratamento discrepante.
Os acontecimentos que se seguiram mostraram que, apesar do silêncio inicial, a verdade por trás da reestruturação explosiva cresceu, revelando fissuras dentro da instituição militar e alertando a sociedade para as consequências de políticas desequilibradas que favoreciam os altos escalões em detrimento da justiça e equidade dentro do exército.
Por que a cobertura foi pouca?
Na época, um surpreendente silêncio permeou os principais veículos de comunicação, que pouco exploraram a denúncia bombástica. A cobertura midiática foi restrita, o que levantou suspeitas de controle narrativo por parte de influências políticas poderosas. Essa falta de exposição ajudou a selar as consequências da reforma nas camadas mais afetadas, isolando as vozes de protesto e vigia crítica principalmente nos círculos militares, onde o vídeo de Olímpio continuou a reverberar.
Os interesses políticos envolvidos na proteção de uma imagem estável das Forças Armadas contribuíram para que a denúncia fosse tratada como uma questão menor, aumentando o sentimento de impotência entre aqueles prejudicados pela lei. Este episódio reforça a importância da liberdade de imprensa e do seu papel crítico na revelação de eventuais abusos de poder.