O setor da construção civil está vivenciando uma transformação surpreendente graças a uma inovação sustentável que promete revolucionar o conceito tradicional de concreto. Pesquisadores da Universidade de Estugarda, na Alemanha, desenvolveram uma alternativa ecológica ao concreto convencional: um material feito a partir de urina. Este novo tipo de concreto é parte de um projeto denominado SimBioZe, detalhado em um artigo na npj Materials Sustainability. Este artigo explora como a combinação de bactérias e urina pode dar origem a um bioconcreto revolucionário, que contribui para a sustentabilidade ambiental.
A inovação começa com a utilização de bactérias que convertem ureia, encontrada na urina, em cristais de carbonato de cálcio. Este processo de biomineralização resulta num material de alta resistência semelhante ao arenito calcário natural. Ao criar um bioconcreto que utiliza urina, os pesquisadores não apenas aproveitam um recurso abundante e subutilizado, mas também desenvolvem um material de construção com menor impacto ambiental em comparação ao concreto à base de cimento.
Qual é o impacto ambiental do novo bioconcreto?

O bioconcreto desenvolvido a partir de urina apresenta uma pegada ecológica significativamente menor do que seus equivalentes tradicionais. Um dos principais desafios da construção sustentável é a redução da emissão de gases de efeito estufa e a conservação de recursos naturais. O processo convencional de produção de cimento contribui significativamente para as emissões de CO₂ no mundo. Em contrapartida, o bioconcreto de urina utiliza um processo de produção que captura carbono em vez de liberá-lo.
Os pesquisadores afirmam que a urina, que é um recurso abundante e constantemente renovável, pode ser um componente crucial para uma construção mais verde. Além disso, a ureia industrial utilizada nesta abordagem se mostrou mais resistente que outros materiais biomineralizados já testados, alcançando resistência à compressão superior a 50 MPa. Isso é um marco importante, uma vez que edificações de até três andares podem ser sustentadas com resistência entre 30 a 40 MPa, segundo os especialistas.
- Redução da emissão de CO₂: A produção do cimento tradicional é responsável por cerca de 8% das emissões globais de dióxido de carbono. O bioconcreto utiliza a reação de ureia, presente na urina, com cloreto de cálcio para formar carbonato de cálcio, um processo que dispensa o cimento e, consequentemente, reduz a pegada de carbono.
- Reciclagem e economia de recursos: A urina é um resíduo abundante e o processo de sua utilização para o bioconcreto a transforma em um recurso valioso, evitando seu descarte em sistemas de tratamento de esgoto e economizando recursos hídricos e minerais.
- Economia de energia: A produção do cimento tradicional requer o aquecimento de fornos a altas temperaturas (cerca de 1.450 °C), consumindo uma quantidade enorme de energia. O bioconcreto com urina é produzido em temperatura ambiente, eliminando a necessidade desse consumo energético.
- Melhoria da qualidade do solo e da água: O descarte de urina em ambientes naturais pode causar a eutrofização de corpos d’água e a contaminação do solo. O uso dela na produção do bioconcreto atua como uma solução para esse problema.
Como o bioconcreto de urina é testado na construção?
Para garantir a viabilidade do bioconcreto em larga escala, são necessários testes rigorosos que simulem condições adversas. Atualmente, a equipe de Estugarda está focada em analisar o desempenho do bioconcreto em ambientes externos, especialmente em condições de congelamento e degelo, que representam um desafio para muitos materiais de construção. Estes testes são fundamentais para assegurar que o novo material possa resistir às variações climáticas extremas.
Outra demonstração prática do potencial deste bioconcreto será realizada no Aeroporto de Estugarda, onde um projeto piloto utilizará urina para produzir este material inovador, além de fertilizantes. Essa implementação visa não apenas testar a eficácia do bioconcreto, mas também explorar a logística de processamento da urina em ambientes de grande circulação de pessoas.
Quais são os próximos passos para o material na construção civil?

O desenvolvimento do bioconcreto de urina ainda requer uma otimização contínua para aperfeiçoar a atividade bacteriana envolvida no processo de biomineralização. Pesquisas futuras estão planejadas para melhorar a qualidade e a produção do material, explorando novas formas de utilização além das aplicações em edifícios.
Outro aspecto essencial do desenvolvimento deste material inovador é a análise econômica de sua produção em larga escala. Os pesquisadores estão avaliando os custos e os possíveis incentivos para tornar o bioconcreto uma alternativa viável para a indústria da construção nas cidades. A integração de processos de reciclagem de urina em sistemas urbanos também representa um potencial novo mercado a ser explorado.
FAQ sobre o bioconcreto de urina
- O bioconcreto de urina possui odores desagradáveis? Não, o processo de biomineralização e as etapas seguintes de produção eliminam quaisquer odores associados à urina.
- Este bioconcreto pode ser utilizado em todos os tipos de construções? Atualmente, o bioconcreto é ideal para construções de menor escala, mas há pesquisas em andamento para expandir seu uso para projetos maiores.
- Como o bioconcreto de urina se comporta em comparação com o concreto tradicional em termos de durabilidade? Testes iniciais indicam que o bioconcreto tem uma resistência competitiva com o concreto tradicional, mas mais estudos são necessários para avaliar sua durabilidade a longo prazo.
- É possível integrar o uso do bioconcreto em sistemas de reciclagem urbana? Sim, há potencial para integrar a produção de bioconcreto com sistemas de gestão de resíduos urbanos, aproveitando a urina gerada diariamente nas cidades.
A crescente atenção ao bioconcreto de urina demonstra o compromisso de pesquisadores em buscar soluções criativas e sustentáveis para o futuro da construção civil. Embora ainda haja desafios a serem superados, esta inovação representa um passo promissor em direção a uma indústria mais verde e inovadora.