Na longa trajetória da civilização chinesa, poucos inventos geram tanto fascínio e mistério quanto o Houfeng Didong Yi, o sismoscópio de Zhang Heng. Criado durante a dinastia Han do Leste há quase dois mil anos, esse engenhoso aparato usava tecnologia para detectar sismos invisíveis aos sentidos humanos nas amplas planícies de Luoyang, a então capital imperial. Decorado com oito dragões que sustentavam esferas de bronze sobre as bocas de sapos, o mecanismo indicava a direção dos tremores, o que muitos contemporâneos atribuíram a poderes sobrenaturais.
Mesmo com relatos de sua impressionante precisão na captação de terremotos distantes, o sismoscópio acabou desaparecendo dos registros históricos e tornando-se mais lenda do que fato. Atualmente, uma equipe liderada pelo professor Xu Guodong, do Instituto de Prevenção de Desastres de Hebei, empenha-se em desvendar tanto o funcionamento do equipamento quanto em resgatar seu justo valor na história científica. Estudando textos antigos e aplicando conceitos modernos da física estrutural, o grupo busca reviver o que pode ter sido um dos primeiros instrumentos sísmicos do planeta.
Como funcionava a tecnologia de detecção de terremotos na China antiga?
Segundo registros históricos e simulações contemporâneas, o sismoscópio funcionava com um sistema de alavancas acionadas por um grande pêndulo central. Pequenos deslocamentos — de apenas 1 mm — na base do pêndulo podiam ativar uma mola que liberava a bola de bronze diretamente na boca do sapo correspondente à direção do tremor. Esse sofisticado método permitia não só identificar abalos quase imperceptíveis, mas também apontar o sentido do epicentro, um feito notável para aquela época. Assim, apenas um dragão ‘avisava’ enquanto os demais permaneciam inertes, transformando o sismoscópio num sistema primitivo de alerta precoce.
Apesar dos relatos impressionantes, parte da comunidade científica contemporânea questiona a precisão que um único instrumento poderia apresentar. Contudo, registros da antiga China corroboram a eficácia do artefato: Zhang Heng teria identificado um terremoto em Longxi, a cerca de 850 quilômetros da capital, mesmo sem que fosse sentido localmente. Dias depois, mensageiros confirmaram a ocorrência do evento, validando o funcionamento do sismoscópio e demonstrando o alto nível de conhecimento sobre mecânica terrestre naquela época.

A tecnologia lendária utilizada por Zhang Heng
Zhang Heng foi mais do que um inventor; ele personificou o espírito multifacetado dos polímatas chineses. Cientista, matemático e astrônomo, alcançou em 115 o posto de Grande Astrólogo Imperial — um cargo semelhante ao de diretor de observatório. Desenvolveu máquinas sofisticadas, como a esfera armilar, e sua criação do sismoscópio pode ter sido vista como polêmica, considerando que, na época, desastres naturais eram interpretados como mensagens divinas. Dessa forma, a sua obra entrelaçava ciência, política e religião, conferindo-lhe uma posição única na história da inovação.
Por que reconstruir o sismoscópio atualmente?
Recriar o sismoscópio vai além de uma mera homenagem à inventividade chinesa. O objetivo da equipe de Xu Guodong é demonstrar que as realizações tecnológicas do século II não eram meros exageros literários, mas avanços tangíveis nos primórdios da ciência dos terremotos. Utilizando materiais e técnicas da época, a reconstrução pretende consolidar o papel do sismoscópio como um marco na evolução dos estudos sísmicos. Além de restaurar fisicamente o instrumento, o projeto visa conectá-lo ao contexto global da sismologia, unindo passado e presente na compreensão dos fenômenos terrestres.
@drwendyrocksit This is the first device (that we know about) used for detecting earthquakes. #earthquake #history #china #geophysics #seismology #dragon ♬ She Share Story (for Vlog) – 山口夕依
FAQ – Perguntas frequentes sobre o sismoscópio de Zhang Heng
O sismoscópio de Zhang Heng detectava a intensidade dos terremotos?
Não. O sismoscópio indicava apenas a direção de onde o terremoto vinha, mas não media a intensidade do abalo. A liberação da esfera de bronze alertava sobre a ocorrência e a direção do tremor, mas não permitia quantificar sua força.
Como o funcionamento do sismoscópio inspira tecnologias atuais?
O princípio da detecção mecânica de movimentos e da indicação de direção foi precursor de sistemas modernos de monitoramento sísmico. Apesar de hoje utilizarmos sensores eletrônicos altamente sensíveis, a ideia de captar deslocamentos minuciosos começou com instrumentos como o de Zhang Heng.
Existem sismoscópios originais da época de Zhang Heng ainda preservados?
Não há exemplares originais confirmados conhecidos. O que se possui hoje são réplicas baseadas em descrições históricas, como as que atualmente estão sendo desenvolvidas e testadas pela equipe chinesa liderada por Xu Guodong.
Por que há dúvidas sobre o funcionamento real do instrumento?
Os relatos sobreviventes são escassos e por vezes lendários. Além disso, não restaram modelos originais, dificultando testes práticos. Por isso, cientistas atuais precisam combinar pesquisa textual, simulações e reconstruções para tentar entender com precisão seu funcionamento.
Houve outros inventos semelhantes em outras culturas antigas?
Embora vários povos buscassem observar fenômenos naturais, o sismoscópio de Zhang Heng é considerado o primeiro instrumento específico para detectar terremotos. Outros aparelhos similares só voltariam a aparecer em diferentes partes do mundo séculos mais tarde.