O debate sobre os possíveis riscos associados ao uso de adoçantes artificiais ganhou destaque após a divulgação de novas evidências científicas. Um estudo publicado em julho por pesquisadores do Hospital de Foshan, na China, levantou questionamentos sobre o impacto do aspartame no organismo, especialmente na saúde cerebral. Um recente estudo desenvolvido por pesquisadores do Hospital de Foshan, na China, trouxe à tona questionamentos relevantes sobre o impacto do aspartame no organismo, especialmente em relação à saúde cerebral. Os resultados do trabalho apontam para uma potencial ligação direta entre o consumo frequente dessa substância e o desenvolvimento de alterações genéticas e intestinais associadas à formação de tumores.
De acordo com o estudo, publicado em julho na revista Scientific Reports, a ingestão constante de aspartame pode facilitar mudanças biológicas que favorecem a progressão do glioblastoma, considerado um dos tipos mais agressivos de câncer cerebral. Utilizado amplamente em produtos industrializados como refrigerantes dietéticos, gomas de mascar e até em pastas de dente, o adoçante passou a ser alvo de avaliações mais rigorosas quanto à sua segurança.
Como adoçantes podem se relacionar com tumor cerebral?

Os pesquisadores trabalharam com um modelo experimental em camundongos, alimentando parte do grupo com dietas contendo aspartame ao longo de semanas. O objetivo foi observar possíveis alterações no desenvolvimento de tumores cerebrais, sobretudo do tipo glioblastoma. Ao analisar os resultados, foi identificada uma progressão acelerada da doença nos animais expostos ao adoçante, sugerindo associação entre o consumo dessa substância e o aumento do risco do câncer cerebral.
Além disso, o estudo relatou mudanças genéticas e no equilíbrio da flora intestinal dos camundongos, fatores que podem contribuir para a vulnerabilidade do tecido cerebral. O aspartame, quando presente no organismo por longos períodos, parece influenciar negativamente processos metabólicos considerados essenciais para a manutenção da saúde celular. Ainda que os testes tenham sido conduzidos em animais, os achados levantam preocupações sobre os possíveis efeitos do adoçante em humanos.
Como o aspartame age no corpo e qual o potencial perigo?
O aspartame é um adoçante artificial aproximadamente 200 vezes mais doce que o açúcar comum. Por esse motivo, são utilizadas pequenas quantidades em alimentos e bebidas para proporcionar sabor adocicado sem aumentar o valor calórico. Ao ser metabolizado, o aspartame se decompõe em componentes como ácido aspártico, fenilalanina e metanol. Esses subprodutos, segundo os cientistas, podem causar reações em série que alteram o funcionamento de células intestinais e cerebrais.
Como o Aspartame Age no Corpo
- Metabolização: Ao ser ingerido, o aspartame é rapidamente decomposto no trato gastrointestinal em três componentes principais:
- Ácido aspártico: Um aminoácido presente naturalmente em diversos alimentos.
- Fenilalanina: Outro aminoácido, também encontrado em alimentos proteicos.
- Metanol: Uma pequena quantidade de metanol é liberada, que, em seguida, é convertida em formaldeído e depois em ácido fórmico no corpo. A quantidade de metanol no aspartame é considerada muito baixa e presente em níveis semelhantes aos encontrados em sucos de frutas, sendo geralmente eliminada pelo organismo.
- Ação nos Receptores de Sabor: O aspartame interage com os receptores de sabor doce na língua, estimulando-os e fornecendo uma percepção de doçura muito maior do que o açúcar (cerca de 200 vezes mais doce), com um valor calórico insignificante.
Potenciais Perigos e Pontos de Atenção
- Fenilcetonúria (PKU): Indivíduos com fenilcetonúria, uma doença genética rara, não conseguem metabolizar a fenilalanina adequadamente. O acúmulo desse aminoácido pode ser tóxico para o cérebro, e, por isso, pessoas com PKU devem evitar completamente o aspartame e outros alimentos ricos em fenilalanina. Produtos que contêm aspartame são obrigados a exibir um alerta para fenilcetonúricos.
- Risco de Câncer: A Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC), um braço da Organização Mundial da Saúde (OMS), classificou o aspartame como “possivelmente cancerígeno para humanos” (Grupo 2B). Essa classificação se baseia em evidências limitadas de câncer em humanos (especificamente carcinoma hepatocelular, um tipo de câncer de fígado) e em estudos com animais. É importante notar que essa categoria inclui outras substâncias do dia a dia e não significa uma confirmação definitiva de carcinogenicidade em humanos, mas sim uma necessidade de mais pesquisas.
- Efeitos na Microbiota Intestinal: Estudos recentes sugerem que o aspartame e outros adoçantes artificiais podem alterar a composição e a função da microbiota intestinal (as bactérias que vivem no intestino). Esse desequilíbrio pode influenciar a digestão, o metabolismo, a resposta imunológica e, a longo prazo, estar associado a distúrbios metabólicos como obesidade e diabetes tipo 2.
- Saúde Metabólica: Apesar de ser usado para controle de peso e glicemia, algumas pesquisas indicam que o consumo prolongado de aspartame e outros adoçantes não calóricos pode não ser eficaz para o emagrecimento e, em alguns casos, pode estar associado a um risco aumentado de diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares. Acredita-se que isso possa estar relacionado à forma como os adoçantes afetam a resposta do corpo à glicose e à saciedade.
A IARC classificou o aspartame como ‘possivelmente cancerígeno para humanos’ (Grupo 2B), com base em evidências limitadas de sua carcinogenicidade em humanos.
Ainda de acordo com a pesquisa chinesa, o adoçante desencadeou mudanças no microbioma intestinal dos camundongos. A presença de bactérias benéficas, responsáveis por proteger o organismo de inflamações e doenças, foi reduzida, enquanto microrganismos potencialmente prejudiciais tornaram-se mais presentes. Isso pode influenciar a resposta imunológica e contribuir para o ambiente propício ao surgimento de tumores.
Quais cuidados adotar ao consumir produtos com aspartame?

Apesar de os resultados não serem conclusivos em humanos, os dados reforçam a importância de avaliar o uso indiscriminado de adoçantes artificiais. Especialistas recomendam atenção ao consumo constante desses produtos, sobretudo para grupos de risco ou indivíduos com histórico familiar de doenças neurológicas. Uma alternativa é priorizar alimentos naturais, sem adição de substâncias químicas, e manter uma dieta equilibrada, ajustando a ingestão de açúcar e seus substitutos sob orientação profissional.
- Verificar a presença de adoçantes como aspartame nos rótulos dos alimentos.
- Consultar profissionais de saúde antes de fazer substituições frequentes.
- Priorizar o consumo de frutas e produtos frescos, que oferecem sabor naturalmente adocicado.
- Reduzir a ingestão de bebidas industrializadas e ultraprocessadas.
Diante das informações levantadas pela pesquisa, tornar-se consciente sobre os ingredientes presentes nos alimentos e compreender as possíveis repercussões do consumo a longo prazo pode ser fundamental para proteger a saúde. A comunidade científica continua dedicada a investigar os potenciais efeitos dos adoçantes artificiais, visando esclarecer dúvidas e orientar a população sobre práticas alimentares mais seguras e informadas.